Brexit: o "golpe" para Merkel e o "desafio" para Hollande - TVI

Brexit: o "golpe" para Merkel e o "desafio" para Hollande

Com a saída da segunda maior economia da União Europeia, as atenções voltam-se para Alemanha e França. Leia aqui as reações dos Estados-membros

Com a saída da segunda maior economia da União Europeia, as atenções voltam-se, sobretudo, para Alemanha e França, que, com o Reino Unido, integram o pódio dos mais ricos da UE. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, consideram, no entanto, que a vontade do povo britânico em sair da União Europeia, expressada no referendo desta quinta-feira, deve ser respeitada.

Merkel, que vai reunir-se com Hollande, com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, na segunda-feira, pede aos Estados-membros que não façam julgamentos precipitados, de forma a não dividir mais a Europa. 

Aceitamos com pena a decisão do povo britânico. Não há dúvidas de que isto é um golpe na Europa e no processo de unificação europeia. (…) Mas as consequências disto dependerão da capacidade de conseguirmos provar - os restante 27 membros - que estamos dispostos a não tomar decisões simples e precipitadas, que só vão dividir mais a Europa.”

Merkel aconselha os países da UE a “analisar” e a “avaliar” a situação com prudência, “antes que se possam tomar, juntos, as decisões corretas”, segundo declarações citadas pela agência France-Presse (AFP).

Nunca se esqueçam que a ideia de [uma] União Europeia era uma ideia de paz.”

A chanceler apelou, por isso, a que as relações próximas com o Reino Unido sejam mantidas mesmo após o Brexit.

François Hollande também aconselha prudência e considera que as negociações para a saída do país devem decorrer de forma suave.

O presidente francês diz que a saída de um Estado-membro é um desafio para a Europa, mas que o bloco tem de se focar nas suas prioridades como a segurança e a defesa, a proteção das fronteiras, o desemprego e o reforço da Zona Euro.

O voto britânico é um teste duro para a Europa”, afirmou Hollande, citado pela agência Reuters.

E os outros?

O primeiro-ministro de Itália foi um dos primeiros líderes europeus a reagir ao Brexit. Matteo Renzi entende que a Europa tem de mudar e, nesse sentido, segundo fonte do seu gabinete, citada pela Reuters, uma das primeiras ações do governante foi telefonar ao presidente francês, François Hollande.

"Temos de mudar, temos de tornar a Europa mais humana e mais justa, porque a Europa é a nossa casa, é o nosso futuro", reagiu o governante, através da rede social Twitter.

Necessidade de mudança partilhada por Espanha, que acredita que a UE vai sobreviver ao Brexit. Em conferência de imprensa, o primeiro-ministro em funções, Mariano Rajoy, considerou que o projeto europeu deve voltar às origens.

"Agora que, finalmente, estamos a sair da crise económica, temos de mudar o foco da União Europeia para as necessidades dos seus cidadãos, colocando a tónica no crescimento e no emprego. O resultado do referendo deve fazer refletir todos os Estados-membros na forma em como se podem tornar mais fortes que nunca para recuperar o espírito inicial do projeto europeu e recuperar o interesse e simpatia dos cidadãos", afirmou Rajoy, que garantiu, ainda, que, qualquer que seja o resultado das eleições em Espanha no domingo, o país continuará comprometido com o projeto europeu.

Para a Holanda, que até junho tem a presidência rotativa da UE, a Europa deve “olhar para as preocupações dos cidadãos: migração, emprego e segurança” em vez de continuar a ser "a mesma de sempre".

O ministro dos Negócios Estrangeiros Bert Koenders disse, ainda, lamentar e respeitar a decisão da população britânica de abandonar os 28, salientando que o objetivo da presidência holandesa da UE é o de “trabalhar para os cidadãos e resolver problemas”.

A Irlanda entende que a decisão dos britânicos em deixar a Europa dos 28 tem grandes implicações para o seu país e para a União Europeia como um todo.

"Este resultado tem, claramente, várias implicações para a Irlanda, bem como para o Grã-Bretanha e para a UE", antecipou o Governo, que se reuniu de emergência depois de conhecidos os resultados do referendo.

O primeiro-ministro da Eslovénia, Miro Cerar, lamentou a decisão do Reino Unido, mas manifestou a sua convicção de que o Brexit contribuirá para o fortalecimento e renovação do bloco europeu.

“Estou convencido de que, depois de um provável período de relativa insegurança nos mercados internacionais, a decisão britânica levará a um fortalecimento acrescido da União e à sua renovação”, afirmou o chefe do Governo, que entende ainda que o resultado das alterações se traduzirá numa resposta “mais eficaz, com maior solidariedade, decisão e unidade” da UE aos desafios modernos.

Para a Suécia, a decisão dos britânicos é "uma chamada de atenção para a União Europeia. O primeiro-ministro Stefan Löfven pede aos Estados-membros "que estejam à altura das expectativas dos cidadãos". 

Menos temeroso apresenta-se o chanceler da Áustria, Christian Kern, que não receia um "efeito dominó" nos Estados-membros, garantindo que, no seu país, não haverá qualquer consulta popular sobre a continuidade na União Europeia.

"A Europa vai perder estatuto e importância mundial por causa da decisão do Reino Unido. As consequências económicas também se sentirão durante algum tempo. Mas não temo um efeito dominó", disse.

A Grécia aproveitou para dizer que a escolha dos britânicos foi também uma resposta às consequências da austeridade e das desigualdades entre países. Para o primeiro-ministro, o Brexit é sintomático de um "mal-estar" na Europa que precisa de ser rapidamente resolvido.

"As medidas extremas de austeridade que estenderam as desigualdades entre países do norte e do sul, vedações e fronteiras fechadas, e a recusa em partilhar o fardo da dívida e da crise migratória anteciparam uma crise na Europa. Precisamos urgentemente de uma nova visão e começo para uma Europa unida, para uma melhor Europa, mais social e democrática", analisou Alexis Tsipras.

Para o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel, os restantes 27 devem reunir-se para "definir prioridades e desenhar um novo futuro para a Europa".

A Finlândia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o eurocético Timo Soini, avisa que o resultado do referendo tem de ser respeitado e que "qualquer retaliação ou queixa está fora de questão" em futuras negociações.

O presidente da Polónia defende que a UE deve concentrar-se na união dos Estados-membros para evitar novos Brexit. "Devemos fazer tudo para evitar que outros países possam deixar a UE", disse Andrzej Duda, acrescentando que o seu país vai querer manter as ligações económicas e militares com o Reino Unido.

Para a Estónia, o Brexit é "uma grande perda" e também uma "desilução". O primeiro-ministro Taavi Rõivas considera, agora, que é preciso "trabalhar arduamente" para "não se perder a unidade da União Europeia".

O chefe do Governo da Hungria, Viktor Orban, mostrou-se mais crítico e considerou o Brexit uma consequência da crise migratória. "Os resultados mostram como os britânicos podem ficar com a sua ilha", afirmou.

O primeiro-ministro da República Checa, Bohuslav Sobotka, pede que a saída do Reino Unido seja "rápida e racional", considerando que o "projeto europeu precisa de muito mais apoio dos seus cidadãos".

 

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