João Lourenço eleito presidente do MPLA com quase 100% dos votos - TVI

João Lourenço eleito presidente do MPLA com quase 100% dos votos

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  • 8 set 2018, 16:43
João Lourenço - presidente de Angola

José Eduardo dos Santos, presidente cessante do Movimento Popular de Libertação de Angola, assume erros, mas sai de “cabeça erguida”

O vice-presidente do MPLA, João Lourenço, foi hoje eleito presidente do partido, durante o sexto congresso extraordinário, com uma votação de 98,58%, correspondente a 2.309 votos a favor e 27 contra, anunciou a comissão eleitoral.

De acordo com os números divulgados pela comissão eleitoral, em Luanda, votaram 2.342 delegados ao congresso e registaram-se ainda seis abstenções.

A comissão eleitoral declarou que estas eleições – por voto secreto - foram livres, transparente e justas.

João Lourenço, Presidente da República desde setembro de 2017, ascende assim à liderança, também, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975.

Durante a manhã, o presidente cessante do MPLA, José Eduardo dos Santos, despediu-se das funções, assumindo que cometeu erros ao longo dos quase 40 anos no poder em Angola, mas garantindo que sai de “cabeça erguida”.

Não existe, naturalmente, qualquer atividade humana isenta de erros e assumo que também os cometi, pois só deste modo os podemos ultrapassar”, disse o também ex-chefe de Estado angolano (1979-2017), no discurso de abertura do sexto congresso extraordinário do MPLA, convocado para eleger João Lourenço como novo líder do partido.

“Esta é a minha última intervenção na qualidade de presidente do MPLA”, começou por afirmar, recordando que assumiu aquele cargo em 21 setembro de 1979, após a morte do então presidente e chefe de Estado (1975-1979), António Agostinho Neto.

É de cabeça erguida que estou neste grande conclave do nosso partido”, disse ainda, ao dirigir-se aos mais de 2.000 delegados, ao mesmo tempo que se assumiu “pronto para passar a liderança do partido ao próximo presidente”, mas sem referir o nome de João Lourenço, vice-presidente e chefe de Estado, que será eleito hoje líder do MPLA.

“Deixo-vos o meu modesto legado, para que continuem a trilhar os caminhos das nossas figuras”, afirmou, por entre vários momentos de palmas dos delegados.

José Eduardo dos Santos lembrou que, após a morte de Agostinho Neto, em 1979, foi escolhido pelo Comité Central do partido, "em circunstâncias alheias" à sua vontade, para lhe suceder.

"Não foi, como disse na altura, uma substituição possível, mas uma substituição necessária. Grande parte dos camaradas que aqui está sabe que nunca ambicionei tal cargo, nem tão pouco pensei que pudesse permanecer tantos anos, mas as circunstâncias históricas e políticas assim determinaram", indicou.

"Procurei ao longo destes anos dar o melhor de mim, aquilo que estava ao alcance das minhas forças, das minhas capacidades intelectuais, alicerçadas nas profundas convicções políticas e ideológicas que tenho desde a minha juventude", disse.

"O erro é parte integrante do processo de aperfeiçoamento. Por isso se diz que aprendemos com os erros", acrescentou José Eduardo dos Santos.

Numa intervenção de cerca de 15 minutos, José Eduardo dos Santos nunca pronunciou o nome de João Lourenço, limitando-se a tratá-lo como "novo presidente do partido", que terá a tarefa de "manter a rota do MPLA no rumo certo", ao mesmo tempo que apelou a unidade e coesão internas".

"Abre-se hoje uma nova era na liderança do nosso partido. O Comité Central e o novo presidente do partido terão a incumbência de manter a rota do MPLA no rumo certo, o que implica preservar os valores e princípios, manter a unidade e coesão internas, estimular os militantes, aprimorar a nossa organização e mobilizar o povo e o eleitorado, a fim de obtermos novas vitórias", sublinhou.

"A grande tarefa que se vai colocar a todos é como levar o nosso partido desde o ponto em que se encontra até ao lugar onde pretendemos que esteja no futuro", ou seja, a manutenção no poder que detém desde a independência de Angola, em 1975, para o que é necessário, insistiu, unidade e coesão internas - "estamos juntos e estaremos juntos no futuro".

"Para trás, ficam anos de luta, de resiliência, de firmeza, de camaradagem e de solidariedade para que o MPLA se afirmasse como um grande partido vencedor servindo os interesses superiores do povo angolano", insistiu.

"O MPLA conquistou e confirmou a independência nacional, manteve a integridade do território, de Cabinda ao Cunene, assegurou a conquista da paz, da reconciliação nacional e da democracia e empenhou-se, entre outras frentes, na luta pela justiça social e pela modernização do país, em todas as vertentes de luta que visam aperfeiçoar a sociedade e garantir ao cidadão os seus plenos direitos. O MPLA situou-se sempre na linha da frente", acrescentou.

Mas, para José Eduardo dos Santos, o seu abandono da liderança não implica que o partido pare, pois, tal como na vida, é exigido que seja "constantemente aperfeiçoado" para fazer face às exigências de cada momento específico de desenvolvimento económico, social e cultural.

"O MPLA, embora preserve a sua matriz fundacional, passou por imensas transformações desde 1979, altura que assumi a presidência. O contexto interno e internacional exigiu a sua evolução para um partido aberto a todos os setores e extratos sociais, que preconizava o desenvolvimento com base na economia de mercado", disse.

José Eduardo dos Santos lembrou, depois, que, nos finais da década de 1980, o mundo assistiu a uma "alteração do jogo político" internacional, com o fim do bloco socialista, encabeçado pela então União Soviética, e com "a decadência das políticas orientadas para o fortalecimento da economia estatal".

"O MPLA reorientou-se e abriu-se, tornando-se um partido mais democrático e moderno, capaz de obter nas urnas a legitimidade para o exercício do poder político e, como advento da democracia e a necessária constituição de um Estado democrático de Direito, o MPLA passou a reger-se pela transparência, pela organização de uma gestão democrática e pela participação de todos os seus membros", recordou.

Tal implicou, prosseguiu, "o abandono do princípio do centralismo democrático", com eleições periódicas, admitiu a possibilidade de candidaturas alternativas e a prática do sufrágio secreto, permitindo que o MPLA passasse de 35.000 membros, em 1979, para os quatro milhões, atuais.

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