Espanha ofereceu-se, esta segunda-feira, para receber os 629 migrantes retidos no Mediterrâneo, depois de Itália e Malta se terem recusado a abrir os portos para que o barco da ONG SOS Mediterrâneo atracasse. Em comunicado, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, deu instruções para que o barco Aquarius seja recebido no porto de Valência.
"É nossa obrigação ajudar a evitar uma catástrofe humanitária e oferecer um porto seguro a estas pessoas, cumprindo desta forma com as obrigações do Direito Internacional", pode ler-se no comunicado divulgado no seu site oficial.
Os Médicos Sem Fronteiras já alertaram, porém, que a viagem até ao porto de Valência, que fica a 1.300 quilómetros, pode pôr em risco a saúde e a segurança das pessoas a bordo. Entre os migrantes estão crianças, grávidas e doentes.
Spain's offer of safe port Valencia is 1,300 kilometers away - further 3 day journey with #Aquarius already well over maximum capacity. Health and safety of people rescued onboard including sick + injured people, pregnant women + children must come first. https://t.co/YzQNnbxkEJ
— MSF Sea (@MSF_Sea) June 11, 2018
Esta segunda-feira, depois do governo italiano ter negado receber o Aquarius, o autarca de Palermo, Leoluca Orlando, desafiou a ordem dizendo que o porto da cidade está sempre disposto "a receber barcos, civis ou de soldados comprometidos a salvar vidas no Mediterrâneo",
Isto porque, no domingo, o ministro do Interior de Itália pediu a Malta que recebesse o barco da ONG SOS Mediterrâneo que o novo Governo italiano não autoriza que desembarquem em Reggio Calabria, no sul do território, mas Malta recusou abrir o porto ao navio Aquarius e acusou Itália de colocar a vida dos migrantes em risco por não respeitar as regras internacionais..
We are concerned at #Italy authorities’ directions given to #Acquarius on high seas. They manifestly go against international rules, and risk creating a dangerous situation for all those involved -JM
— Joseph Muscat (@JosephMuscat_JM) 10 de junho de 2018
De acordo com a comunicação social italiana, Matteo Salvini enviou uma carta urgente às autoridades maltesas, explicando que o Aquarius, com pessoal dos Médicos Sem Fronteiras, encontra-se a 43 milhas náuticas de Malta (quase 80 quilómetros), pelo que a obrigação de desembarque dos migrantes não pertence aos italianos.
A Guarda Costeira italiana, que coordena as operações de vigilância e resgate no Mediterrâneo central, disse à agência Efe que, no sábado, foram resgatados 629 imigrantes em seis operações, nas quais participaram unidades da ilha de Lampedusa, três navios mercantes e a ONG SOS Mediterrâneo.
Todos os imigrantes - 123 menores não acompanhados e sete grávidas - foram transferidos para o Aquarius, disse a ONG francesa.
O responsável de operações marítimas da ONG proprietária do navio com migrantes a bordo Aquarius, afirmou que a viagem para Espanha, único país que aceita recebê-lo, constitui um “desafio considerável”, em termos técnicos e humanos.
Antoine Laurent, responsável para as operações marítimas da organização não-governamental SOS Mediterranée, proprietária do navio, explicou à Associated Press que chegar a Valência, a 750 milhas marítimas ou 1.400 quilómetros de distância da atual posição do navio, “não é possível com 629 pessoas a bordo”.
O navio teria de ser reabastecido no mar, “o que não é fácil de organizar”, disse, apelando “a Itália para encontrar uma solução muito em breve perto da posição” do navio, que está a 35 milhas de Itália e a 27 milhas de Malta.
Por outro lado, a presença a bordo de 629 pessoas “é considerável para um navio como o Aquarius, que só tem 80 metros”, e a equipa médica a bordo é “muito reduzida”, disse o mesmo responsável à rádio FranceInfo.
Entre os migrantes a bordo “não há casos graves, mas isso pode pior muito rapidamente”, disse, referindo haver pessoas que “caíram à água e engoliram água ou sofreram queimaduras por contacto com combustível”.