Raif Badawi, o blogger condenado a mil chicotadas - TVI

Raif Badawi, o blogger condenado a mil chicotadas

Primeira sessão de chicotadas deixou tantas marcas que a segunda teve de ser adiada. Pressão internacional sobre a Arábia Saudita leva rei a enviar o processo para o Supremo Tribunal

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Raif Badawi criou um blog e usou a escrita para criticar vários clérigos da Arábia Saudita. O ativista de 31 anos, casado e pai de três filhos, acabou condenado a uma pena de prisão e a mil chicotadas dadas em praça pública.
 
A comunidade internacional está chocada com esta situação, sobretudo numa altura em que, após o ataque ao jornal satírico «Charlie Hebdo», tanto se discute a liberdade de expressão.

A contestação pode ter motivado o rei saudita a enviar este processo para o Supremo Tribunal, como avançou a esposa do ativista à BBC esta sexta-feira.
 
A primeira sessão de 50 chicotadas foi realizada há uma semana na mesquita de al-Jafali, em Jeddah. A segunda ia ser esta sexta-feira, após as orações, mas foi cancelada por motivos médicos.
Segundo um comunicado da Amnistia Internacional, um exame médico realizado esta sexta-feira a Raif constatou que « as feridas ainda não tinham cicatrizado corretamente e que ele não resistiria a uma nova sessão de chicotadas neste momento».
 
O médico que examinou o blogger recomendou o adiamento até à próxima semana. «Não está claro se as autoridades vão cumprir totalmente este pedido», completa a Amnistia Internacional.
 
«Não só este adiamento por razões médicas expõe a brutalidade desta punição, como sublinha a sua desumanidade ultrajante. A noção de que Raif Badawi possa curar-se para que depois sofra esta punição cruel novamente é macabra», afirmou Said Boumedouha, vice-diretor da AI para o Médio Oriente e Norte de África.
 
«O médico da prisão viu o seu estado de saúde e não permitiu o açoitamento de hoje», disse a esposa de Raif, Ensaf Haidar, à AFP. A mulher do ativista está no Canadá, onde pediu asilo com os três filhos do casal.


 
Raif Badawi escrevia no blog «Free Saudi Liberals, até ter sido detido, em junho de 2012. Os procuradores queriam que fosse julgado por apostasia, cuja pena é a morte, mas o juiz recusou.
 
O ativista foi então condenado por insultar o islão, cibercrime e desobediência ao pai (considerado crime neste país), refere a Reuters. A sentença foi conhecida no ano passado: 10 anos de prisão, pagamento de uma multa de cerca de 227 mil euros e mil chicotadas em praça pública.
 
Vários países e organizações internacionais, como a ONU, os Estados Unidos e a União Europeia, já condenaram esta punição. Várias vigílias foram feitas nas embaixadas sauditas na Alemanha, no Reino Unido, em França, na Holanda, na Áustria, entre outras. Nas redes sociais, multiplicam-se os pedidos de libertação do blogger, através da hashtag #FreeRaif.
 

Além das autoridades sauditas não recuarem, soube-se esta sexta-feira que, no início da semana, uma birmanesa que vivia na Arábia Saudita foi decapitada, aumentando a indignação com as penas aplicadas neste país.
 
Laila Bint Abdul Muttalib Basim foi arrastada pelas ruas por quatro agentes da polícia e degolada para toda a gente ver. Tinha sido condenada por abuso sexual e homicídio da enteada de sete anos.
 
Foi colocado um vídeo no YouTube com a decapitação, onde se ouvia a mulher a gritar «Eu não matei». As imagens foram posteriormente removidas devido ao conteúdo chocante.
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