Foi libertada a paquistanesa cristã condenada à morte após ter bebido um copo de água - TVI

Foi libertada a paquistanesa cristã condenada à morte após ter bebido um copo de água

  • Sofia Santana
  • 8 nov 2018, 12:53
Asia Bibi

Libertação de Asia Bibi surge depois de o Supremo Tribunal paquistanês a ter absolvido, numa decisão que gerou muitos protestos violentos no país. Asia Bibi foi condenada ao enforcamento por alegadamente ter ofendido o profeta Maomé durante uma discussão que começou com um copo de água

Oito anos depois de ter estado no corredor da morte, a paquistanesa cristã Asia Bibi, condenada ao enforcamento por alegadamente ter ofendido o profeta Maomé, foi, por fim, libertada. A libertação ocorreu na quarta-feira e surge depois de, na semana passada, o Supremo Tribunal paquistanês a ter absolvido, numa decisão que gerou muitos protestos violentos no país.

O caso de Asia Bibi, mãe de cinco filhos, mereceu uma grande atenção mediática por parte da comunidade internacional nos últimos anos. Várias organizações internacionais reclamavam, há muito, a sua libertação. A paquistanesa cristã foi condenada à morte após uma discussão que começou por ter bebido um copo de água. 

Asia Bibi foi libertada na quarta-feira de uma prisão na cidade de Multan, mas não há informações sobre o seu paradeiro neste momento.

Alguns órgãos de comunicação noticiaram que Asia já tinha fugido do país, mas os Negócios Estrangeiros paquistaneses já fizeram o desmentido, reiterando que a mulher permanece no Paquistão e apelando à imprensa para não espalhar rumores.

Quem fugiu do país no fim de semana foi o advogado de Asia, Saiful Mulook, que recebeu várias ameaças de morte após a decisão do Supremo. Mulook deverá procurar asilo na Holanda.

Este é um caso extremamente sensível. Na semana passada, a absolvição de Asia, decretada pelo Supremo, gerou uma onde de protestos muito violentos em todo o país. Milhares de manifestantes bloquearam, durante três dias, as estradas do país, exigindo o seu enforcamento.

O marido de Asia, Ashiq Masih, e os filhos têm vivido numa morada desconhecida devido às ameaças de morte constantes. Ashiq Masih apelou à comunidade internacional para ajudar a família a sair do Paquistão.

Ajudem-nos a sair do Paquistão. Estamos preocupados porque as nossas vidas estão em perigo. Já não temos nada para comer poque não podemos sair de casa para comprar comida”, afirmou o marido à organização Aid to the Church, que se dedica a casos de perseguição religiosa.

Apesar de haver indicações de que alguns países, como o Canadá, França e Espanha, estão já em negociações para garantir asilo à família de Asia, dificilmente a mulher poderá sair do país em breve.

Uma advogado radical islamita deu entrada com uma petição para revogar a decisão do Supremo e os tribunais paquistaneses costumam demorar vários anos a analisar este tipo de casos.

 

O drama de Asia começou com um copo de água

Asia Bibi foi acusada de basfémia em 2009 por alegadamente ter insultado o profeta Maomé durante uma discussão com um grupo de mulheres muçulmanas com quem trabalhava a apanhar fruta.

Tudo começou com, imagine-se, um copo de água. É que Asia Bibi usou um copo para beber de um poço enquanto trabalhava. As outras mulheres afirmaram que já não podiam usar o copo porque o objeto estava “contaminado” com a sua fé cristã.

O grupo alega que sugeriu a Asia que se convertesse ao islamismo, mas que a mulher terá recusado e que, na resposta, terá tecido ofensas ao profeta Maomé.

Asia foi condenada à morte por enforcamento em 2010 por um tribunal paquistanês, mas a sentença só foi confirmada quatro anos depois pelo Supremo Tribunal de Lahore, capital da província de Punjab, onde ocorreu o incidente.

Em 2011, o ex-governador de Punjab Salman Taseer, que defendia publicamente a sua causa, foi morto a tiro por um dos guarda-costas, Mumtaz Qadri, executado anos depois.

A lei anti blasfémia paquistanesa foi estabelecida durante a época colonial britânica para evitar lutas religiosas, mas na década de 80 do século XX várias reformas do então ditador Mohamed Zia-ul-Haq favoreceram abusos.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE