Pai de um dos terroristas foi à Síria, mas não convenceu o filho a voltar - TVI

Pai de um dos terroristas foi à Síria, mas não convenceu o filho a voltar

  • Élvio Carvalho
  • 16 nov 2015, 18:38

Mohamed Amimour visitou o filho na cidade de Minbej, porém Samy não quis regressar com o pai. Voltaria mais de um ano depois, para participar no maior massacre que a França viu nas últimas décadas

Samy Amimour, 28 anos, natural dos arredores de Paris, foi motorista de autocarro durante 15 meses em Paris, parou em 2012. No ano seguinte partiu para a Síria, de onde só voltou para participar no maior massacre que a França viu nas últimas décadas.

Conhecido da justiça antiterrorista desde 2012, acusado de associação criminosa no âmbito de um ataque abortado a partir do Iémen, ficou sob controlo judicial nessa altura. Em setembro de 2013 foi para a Síria, tendo avisado os pais apenas quando já estava no seu destino. O franco-argelino disse-lhes que não o procurassem, porém o seu pai, Mohamed não lhe deu ouvidos.

Esta história tinha sido contada pelo jornal Le Monde em dezembro do ano passado: falava de um pai que foi à Síria tentar trazer o filho de volta à França. Já nessa altura, Mohamed contou ao jornal francês que quando viu o seu filho pela última vez, viu nele um soldado do Estado Islâmico. Ainda assim, não poderia antever que o seu rosto acabaria espalhado pelo mundo, como o terrorista que se fez explodir na sala de espetáculos Bataclan.

Já com Samy na Síria, Mohamed Amimour, 67 anos, tentava demover o seu filho do radicalismo islâmico cada vez que falavam por Skype, porém nunca lhe disse que planeava ir buscá-lo. Em junho de 2014, partiu. Só avisou o filho quando já estava na fronteira da Turquia, a qual acabaria por atravessar em direção a Minbej, a 80 quilómetros de Alepo.

O pai de Samy viajou numa carrinha com homens, mulheres e crianças de diferentes nacionalidades. À chegada a Minbej, foram recebidos por jihadistas que separaram as famílias dos homens,e que lhes retiraram os passaportes.

“No primeiro checkpoint estava um homem com uma kalashnikov. Os meus companheiros de viagem aplaudiram [quando viram as bandeiras do EI]. O meu passaporte foi levado. Os novos recrutas foram saudados por uma multidão de barbudos que gritavam ‘Allahu Akbar’”.


Mohamed chegou à Síria no dia em que Abu Bakr al-Baghdadi declarou a fundação do califado, a 29 de junho, e só no dia seguinte se reencontraria com o seu filho, que acabava de chegar de Raqqa.

De muletas, Samy tinha um “sorriso distante”, contou Mohamed ao Le Monde. Não anteviu o poder de persuasão do Estado Islâmico.

“Veio acompanhado por outro homem que nunca nos deixou sozinho. A nossa reunião foi muito fria. Não me convidou para o seu alojamento, não me contou porque estava ferido, nem se tinha combatido.”


Mohamed entregou uma carta escrita pela mãe de Samy, com 100 € lá dentro. O homem afastou-se para a ler, e quando regressou devolveu o dinheiro ao pai. Fez questão de lhe dizer que não precisava do dinheiro.

Para tentar entender o que se passava com o filho, o homem de 67 anos falou com outros jihadistas que lhe mostraram “imagens horríveis” de outros terroristas a serem torturados por forças de Bashar al-Assad, e outros deles mesmos a executar outros homens.

“Um dos colegas do meu filho mostrou-me um vídeo onde matavam homens à queima-roupa. Vi imagens horríveis. Fiquei repugnado.”


Apercebeu-se que não o conseguiria levar consigo de volta para a França, e dois dias depois Mohamed atravessou novamente a fronteira com a Turquia. A partir de Istambul voltou para casa.

O filho, que entretanto mudou o nome para Abu Hajia, só voltaria em outubro deste ano, sem avisar, e com um plano em mente: ser um dos protagonistas do massacre do Bataclan.
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