Jovem autista realiza sonho de ser médico - TVI

Jovem autista realiza sonho de ser médico

  • CDC
  • 22 jan 2019, 16:45
Enã Rezende

Brasileiro Enã Rezende, de 26 anos, contrariou os diagnósticos, sobretudo as previsões de uma professora primária, e formou-se em Medicina

Um jovem autista conseguiu realizar o sonho de ser médico. Enã Rezende, brasileiro, 26 anos, contrariou os diagnósticos, sobretudo as previsões de uma professora primária, e formou-se em Medicina.

Foi vítima de bullying e convive diariamente com o preconceito, mas, contra tudo e contra todos, Enã Rezende não só concluiu a licenciatura na passada semana, como vai agora especializar-se em Neurocirurgia, por causa do pai, que morreu cedo na sequência de uma traumatismo craniano.

Desde cedo, a família notou que possuía características diferentes das outras crianças da sua idade.

Uma das primeiras coisas que percebemos foram as dificuldades na fala. Ele não articulava bem as palavras. Tinha dificuldades na compreensão e não nos olhava nos olhos. Em contrapartida, tudo o que lhe ensinava, aprendia à primeira”, recordou a mãe, Érica Rezende, psicóloga de profissão, em entrevista à BBC Brasil.

Aos sete anos, quando entrou para o primeiro ano, a sua professora disse que não seria possível ensiná-lo. A mãe mudou-o de escola e com a ajuda de uma tia, que era educadora, Enã aprendeu a ler e a escrever.

Enã só foi corretamente diagnosticado aos 19 anos: Síndrome de Asperger, que o deixou com um misto de emoções.

Fiquei feliz porque quando li sobre isso, percebi que me encaixava naquelas características. Deixou-me aliviado porque percebi que o facto de ser assim pelo menos tem um nome. Ao mesmo tempo fiquei triste porque é uma condição neurológica irreversível. Durante algum tempo, senti preconceito contra mim mesmo. Agora já passou e lido bem com isso”, contiu Enã.

No final do ano de 2012, ingressou na universidade de Medicina. Devido às suas dificuldades de comunicação, o seu maior medo era a relação com os pacientes, mas, segundo a coordenadora do curso, só se aperceberam da sua condição no segundo ano.

Ele é extremamente inteligente, mas devido à dificuldade de interação, acabava por ficar isolado. Então, começámos a tomar a iniciativa junto dos professores e dos colegas, para que fosse integrado em grupos, e tudo isso ajudou na sua inserção social”, disse a coordenadora Denise Dotta.

Enã foi um aluno exemplar ao longo de todo o curso. Não chumbou a uma única disciplina e costumava ajudar os colegas.

Em meados de 2017, decidiu assumir nas redes sociais que era autista. A sua publicação, que falava abertamente sobre o autismo, valeu-lhe críticas e comentários ofensivos.

Houve quem me dissesse que nunca consultaria um médico autista. Isso é puro preconceito”, relembrou.

Mas também recebeu muitas mensagens de apoio, inclusive de médicos diagnosticados com autismo, com receio de se exporem publicamente.

Enã vai passar este ano numa unidade do exército a prestar serviços médicos e espera iniciar a sua especialização em 2020.

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