"Eu só quero ver meus filhos pela última vez e ficar para sempre com eles"
Destroçado, à porta da morgue, Abdullah Kurdi garantiu à BBC que tentou "agarrar" os filhos e a mulher, "mas não havia esperança". "Um por um, eles morreram".
E recordou como a sua família era unida e harmoniosa.
"Existe alguém no mundo para quem os seus filhos não sejam a coisa mais preciosa? Acordavam-me todos os dias para brincar comigo. Há algo mais bonito do que isto? Tudo se foi"
Kurdi descreveu o que aconteceu a bordo do barco que teria como destino a Grécia: o capitão entrou em pânico por causa das grandes ondas e saltou para o mar, deixando-o a ele no comando da pequena embarcação.
Tomou as rédeas, mas "as ondas eram tão altas que o barco virou". Ainda agarrou a esposa e os filhos nos braços, mas rapidamente se apercebeu da fatalidade: "Estavam todos mortos", lamentou, desta vez em declarações à AP.
O processo de trasladação dos corpos dos três membros da família de Kurdi para Kobani, a cidade natal, foi entretanto concluído e o funeral realiza-se ainda hoje, como dá conta o correspondente da BBC no local.
Returning home. Aylan Kurdi & family cross from Turkey to #Kobane in #Syria. Funeral today via @ABDIJEWAN #Kobani pic.twitter.com/w7v7fXXkQI
— Quentin Sommerville (@sommervillebbc) 4 setembro 2015
Tima Kurdi, a tia de Aylan que vive no Canadá há 20 anos, deixou já um apelo emocionado aos refugiados sírios, implorando-lhes que não arrisquem as suas vidas a atravessar o Mediterrâneo.
A família de Aylan viu-se forçada a mudar-se várias vezes durante o conflito sírio, de Damasco para Aleppo, de Aleppo para Kobani. Acabou por deixar o país em 2012 e mudou o apelido "Shenu" para "Kurdi", de modo a poder ser usado na Turquia, sem problemas, por causa da sua origem étnica.