Pai de Aylan, sem vontade de ficar na Europa, quer enterrar família na Síria - TVI

Pai de Aylan, sem vontade de ficar na Europa, quer enterrar família na Síria

Abdullah Kurdi conta que os filhos acordavam todos os dias para brincar com ele e que não havia nada mais bonito do que isso. "Tudo se foi"

Abdullah Kurdi é o pai de Aylan, o menino sírio que morreu afogado numa praia turca e acordou o mundo, bem mais a sério, para o drama dos refugiados. Depois de ter perdido o filho mais pequeno, depois de ter perdido outro filho, Galip, de cinco anos, depois de ter perdido a mulher, ficou sem vontade de ficar na Europa. Viu-os morrer na travessia marítima que os faria chegar ao Velho Continente e, daí, para o Canadá, onde tinha parentes. Com a tragédia no peito, recusa o asilo com que sonhou e quer regressar à Síria para dar um funeral digno à sua família. 

"Eu só quero ver meus filhos pela última vez e ficar para sempre com eles"


Destroçado, à porta da morgue, Abdullah Kurdi garantiu à BBC que tentou "agarrar" os filhos e a mulher, "mas não havia esperança". "Um por um, eles morreram".

E recordou como a sua família era unida e harmoniosa.  

"Existe alguém no mundo para quem os seus filhos não sejam a coisa mais preciosa? Acordavam-me todos os dias para brincar comigo. Há algo mais bonito do que isto? Tudo se foi"


Kurdi descreveu o que aconteceu a bordo do barco que teria como destino a Grécia: o capitão entrou em pânico por causa das grandes ondas e saltou para o mar, deixando-o a ele no comando da pequena embarcação.

Tomou as rédeas, mas "as ondas eram tão altas que o barco virou". Ainda agarrou a esposa e os filhos nos braços, mas rapidamente se apercebeu da fatalidade: "Estavam todos mortos", lamentou, desta vez em declarações à AP. 

O processo de trasladação dos corpos dos três membros da família de Kurdi para Kobani, a cidade natal, foi entretanto concluído e o funeral realiza-se ainda hoje, como dá conta o correspondente da BBC no local.
 
Tima Kurdi, a tia de Aylan que vive no Canadá há 20 anos, deixou já um apelo emocionado aos refugiados sírios, implorando-lhes que não arrisquem as suas vidas a atravessar o Mediterrâneo.

A família de Aylan viu-se forçada a mudar-se várias vezes durante o conflito sírio, de Damasco para Aleppo, de Aleppo para Kobani. Acabou por deixar o país em 2012 e mudou o apelido "Shenu" para "Kurdi", de modo a poder ser usado na Turquia, sem problemas, por causa da sua origem étnica.

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