Viver a infância como refugiado - TVI

Viver a infância como refugiado

  • Élvio Carvalho
  • 1 jun 2016, 15:01

Fotografia de um bebé morto num naufrágio ao largo da Líbia volta a alertar para o drama dos refugiados que, todos os dias, tentam chegar à Europa. A crise migratória para a Europa está a criar uma geração de crianças que não conheceram outra realidade que não a da guerra ou a da fuga. Imagens podem chocar os leitores mais sensíveis

2 de Setembro de 2015. A fotografia do corpo de uma criança síria que deu à costa na Turquia após um naufrágio choca o mundo. O menino, Aylan Kurdi, era uma das crianças que seguia num de dois barcos que naufragaram ao largo da costa turca quando tentavam fazer a travessia para a Grécia, depois de terem deixado a Síria, para escapar ao Estado Islâmico.

A fotografia gerou uma onda de indignação e alertou para o drama dos refugiados, que todos os dias tentam chegar à Europa. Grande parte, vindos do norte de África e Médio Oriente opta pela rota do Mediterrâneo, que já tirou a vida a milhares de pessoas. Muitos são mulheres e crianças.

Quando se assinalam sensivelmente nove meses da tragédia, uma nova fotografia captada (que pode ver em baixo) por um voluntário alemão da Sea-Watch ao largo da costa da Líbia volta a lembrar, da pior forma, que Aylan não foi um caso isolado, e que todas as semanas várias crianças não sobrevivem à viagem.

Este bebé, com cerca de um ano, morreu afogado num naufrágio a 27 de maio. Não se sabe quem são os pais, ou se vinha sequer acompanhado. Como ele há muitos sem foto.

Números da Unicef, de fevereiro deste ano, revelaram que as mulheres e crianças representam dois terços de todas as pessoas que fazem a travessia entre a Turquia e a Grécia – a mesma onde Aylan Kurdi perdeu a vida. Pior, muitos dos menores que fazem a perigosa travessia para a Europa pelo Mediterrâneo vêm sozinhos, ou perdem os acompanhantes e famílias.

A UNICEF estima que só à Itália têm estado a chegar 1.000 crianças não acompanhadas por mês, “que são sujeitas a abusos terríveis, exploração e risco de morte a cada passo da viagem”.

A guerra na Síria e Iraque, bem como a instabilidade de outros países do norte de África e Médio Oriente, está a criar uma geração de crianças que não conheceram outra realidade que não a da guerra ou a da fuga, e os dados mais recentes mostram uma realidade preocupante.

Estatísticas do final de 2015 mostram que 96.500 crianças pediram asilo na Europa no último ano. A maioria são “rapazes adolescentes do Afeganistão, sendo os sírios o segundo maior grupo”, segundo a UNICEF. “Um número significativo tinham menos de 14 anos e viajaram sozinhos sem a proteção de familiares ou outros adultos responsáveis”.

Em alguns países, como a Suécia, o número de adolescentes sozinhos atinge 50% de todas as crianças refugiadas, na Itália, a percentagem é ainda maior: no total, “chegaram 12.300 crianças não acompanhadas, e apenas 4.000 com as suas famílias”.

No início de maio, a agência das Nações Unidas para a Infância já tinha apelado aos países da União Europeia para que sejam tomadas medidas para proteger estas crianças que chegam sozinhas ao continente, e que “correm riscos de abusos, tráfico e exploração.”

A Interpol estima que uma em cada nove crianças refugiadas ou migrantes não estão contabilizadas, ou o seu paradeiro é desconhecido.

Em comunicado, a UNICEF alertava que “na Eslovénia, por exemplo, mais de 80 % das crianças não acompanhadas desapareceram dos centros de receção, enquanto na Suécia são dadas como desaparecidas cerca de dez crianças por semana. No início deste ano 4.700 crianças não acompanhadas foram registadas como desaparecidas na Alemanha.”

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