Estudantes em protesto paralisam cidade de 18 milhões de pessoas - TVI

Estudantes em protesto paralisam cidade de 18 milhões de pessoas

  • AFO
  • 6 ago 2018, 18:55

Morte por atropelamento de duas crianças levou milhares de jovens a protestar em Daca, capital do Bangladesh. Governo do país asiático tenta conter revolta que dura há uma semana

Jovens estudantes protestam há uma semana na cidade de Daca, no Bangladesh, por causa da morte de duas crianças num aparente acidente de trânsito.

Os manifestantes, predominantemente jovens, estão a exigir que o governo tome medidas para melhorar a segurança nas estradas. O movimento já gerou dezenas de cenas de violência nas ruas da capital, Daca, onde vivem 18 milhões de pessoas e que tem estado paralisada devido às dificuldades de circulação.

De acordo com a cadeia de comunicação britânica BBC, tudo isto começou por causa de um acidente que aconteceu no dia 29 de julho, quando dois estudantes em Daca - um rapaz e uma rapariga - morreram, atropelados por um autocarro. 

Pelo que foi apurado, o autocarro seguia a alta velocidade. O motorista terá perdido o controlo do veículo quando fazia uma ultrapassagem a uma outra camioneta, que estava numa paragem de passageiros.

O caso, numa cidade onde quatro mil peões morreram em acidentes de trânsito no ano passado, desencadeou protestos, primeiro, nas chamadas redes sociais na internet, e logo depois, nas ruas.

Os ativistas também utilizaram as redes sociais para mostrar indignação face ao comportamento dos polícias. 

Capital paralisada

Os jovens ocuparam então as ruas de Daca, bloquearam estradas e paralisaram o trânsito da cidade. Os manifestantes pararam camiões, autocarros e carros. Exigiram ver as cartas de condução dos motoristas e verificaram se os veículos estavam em condições para circular. O protesto afetou também ligações e viagens da capital para outras zonas do país. 

Tudo o que queremos é que a corrupção acabe e as cartas de condução deixem de ser distribuídas como doces", contou um jovem de 17 anos à BBC.

Desde o passado sábado que a polícia começou a usar gás lacrimogéneo e balas de borracha para tentar controlar os manifestantes. Vários jovens terão ficado feridos. Esta segunda-feira, a violência tomou outros níveis, quando a polícia atacou os estudantes nos campus universitários e zonas residenciais. 

Segundo conta a BBC, houve também confrontos entre manifestantes e grupos juvenis pró-governamentais, como a Liga Chhatra do Bangladesh (BCL), uma organização política de estudantes ligada ao partido no poder, o Awami.

De acordo com o jornal The Daily Star, que cita um médico de um hospital local, pelo menos 40 pessoas, a maioria estudantes, foram já hospitalizados. 

Os ativistas pró-governamentais da BCL são também acusados de terem atacado e agredido jornalistas, destruindo telefones e câmaras. 

Reações sucedem-se

Esta segunda-feira, o ativista e fotógrafo Shahidul Alam foi acusado de espalhar propaganda e informações falsas nas redes sociais sobre os protestos. Foi detido, horas depois de ter criticado a forma como o governo lidou com as manifestações numa entrevista dada à televisão Al Jazeera.

A Amnistia Internacional pediu já a sua libertação imediata e apelou ao governo para que parasse com a "violência extrema" sobre  "manifestantes pacíficos".

Face aos protestos, que já duram há mais de uma semana, o governo prometeu fazer reformas de segurança no trânsito. Aprovou uma Lei de Transporte Rodoviário que estava prometida há algum tempo e admitiu até considerar a pena de morte, para casos de atropelamentos deliberados nas estradas.

No entanto, as autoridades do Bangladesh exigem que os protestos nas ruas acabem imediatamente. O governo chegou mesmo a bloquear serviços de internet durante algum tempo na noite de sábado, para que os manifestantes não conseguissem partilhar informações através das redes sociais.

No domingo, a primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, pediu aos estudantes que voltassem para casa.

Fora do país, as Nações Unidas disseram estar preocupadas com a segurança dos jovens apanhados nos protestos.

Estamos profundamente preocupados com as denúncias de violência e pedimos calma a todos", disse o coordenador residente da ONU em Bangladesh, Mia Seppo.

Por seu lado, a embaixada dos Estados Unidos no Bangladesh também criticou a resposta da polícia aos protestos, numa publicação no Twitter.

 

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