«A política dos EUA em Cuba era vestígio ultrapassado da Guerra Fria» - TVI

«A política dos EUA em Cuba era vestígio ultrapassado da Guerra Fria»

David Leopold

Entrevista com David Leopold, ex-presidente da American Immigration Lawyers Association, sobre o acordo EUA/Cuba, a reabertura da embaixada americana em Havana, a cimeira das Américas que começa sexta no Panamá e a Reforma de Imigração. Exclusivo tvi24.iol.pt

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David Wolfe Leopold é um dos maiores especialistas na influência dos hispânicos na sociedade norte-americana. Ex-presidente da American Immigration Lawyers Association, é forte apoiante da Reforma de Imigração que o Presidente Obama tem vindo a tentar implementar.

É comentador em sites de referência, como «Huffington Post» e o «The Hill» e tem presença frequente na CNN, Al-Jazeera America, CCTV-America, The New York Times, Congressional Qarterly, The Los Angeles Times e The Washington Post.

Em entrevista, este advogado de Cleveland, Ohio, explica as vantagens políticas e económicas que o acordo EUA/Cuba poderá vir a ter e vê a reabertura da embaixada americana em Havana como um dado consumado embora ainda sem data prevista, considerando improvável que se concretize o desejo anunciado por Barack Obama de que corresponda com a Cimeira das Américas, que tem início esta sexta no Panamá (onde se espera encontro entre Barack Obama e Raul Castro).

«Obama fez acordo geracional e a normalização de relações com Cuba será uma realidade incontornável, mesmo para quem, agora, a critica, por interesses políticos de curto prazo», apontou, em alusão às oposições de republicanos como Marco Rubio ou Jeb Bush.

David Leopold elogia ainda as medidas de Barack Obama sobre Imigração e relativiza a importância do voto latino na decisão das primárias republicanas («talvez com a exceção da Florida»), embora recorde que, «na eleição geral, ele já terá um grande peso».  E isso «pode ser um problema» na dinâmica da escolha do nomeado republicano, avisa.

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O acordo com Cuba ficará para a história como um dos maiores feitos dos anos Obama?


Sem dúvida. A política norte-americana em Cuba era, antes deste acordo, um vestígio ultrapassado da Guerra Fria. O Presidente Obama está em certo em querer mudar essa político arcaica que já não serve os interesses dos Estados Unidos, na região e no Mundo.
 

O Presidente Obama revelou o desejo de ver reaberta a embaixada em Cuba por altura da «Cimeira das Américas», no Panamá (dias 10 e 11 de abril). Acha possível?

Já não há dúvidas de que os Estados Unidos vão abrir uma embaixada em Havana e que irão restabelecer as relações diplomáticas com Cuba. Mas já será duvidoso que isso aconteça tão rapidamente e não é prudente estar a prever datas, neste momento.
 

Pode tentar antecipar que efeitos este acordo EUA/Cuba poderá produzir, não só em termos económicos mas também no ambiente político da região? Será este um «acordo geracional», como o definiu o Presidente Obama?

Terá um grande impacto. Sem qualquer dúvida que será um acordo geracional. A maioria dos americanos, incluindo o Presidente Obama, não têm memória do tempo em que os EUA tinham uma relação normal com Cuba. Americanos e cubanos vão beneficiar, de forma mútua, com esta normalização de relações entre dois países vizinhos. As trocas económicas, sociais, culturais vão acrescentar fabrico social e levarão a vantagens para as duas sociedades. Não tenho qualquer dúvida sobre isso.
 

«A liderança cubana não pode continuar isolada para sempre»


A queda significativa dos preços de petróleo no último ano pode ajudar a explicar a urgência de Cuba em aproximar-se dos EUA, sobretudo porque a ajuda venezuelana a Havana está em risco?  

Poderá ser um fator, mas penso que é tudo mais complicado do que isso. A comunicação em massa – incluindo a internet e os social media – tornaram o mundo um lugar bem mais pequeno. A liderança cubana tem que encarar a realidade de que não pode continuar isolada do mundo, e em particular, dos EUA, para sempre. O desenvolvimento social e a abertura não é uma escolha para Cuba, é uma realidade. A liderança cubana reconhece que a normalização de relações com os Estados Unidos é inevitável, com ou sem a sua intervenção.   
 

Será politicamente sensato que políticos republicanos como Marco Rubio ou Jeb Bush se oponham a este acordo?

Tem a ver com a base política de apoio deles, muito relacionada com a comunidade cubana exilada nos EUA. Pode até ser vantajoso em termos políticos no curto prazo, mas a longo prazo eles terão que aceitar a normalização de relações com Cuba.
 

«Que interesse nacional tinha o embargo para os EUA?»


Como vê a posição de Rand Paul, que disse que «o embargo é estúpido» e apoia a intenção do Presidente de pôr um fim a esse bloqueio económico a Cuba?


Acho que Rand Paul está correto. Qual é o propósito do embargo? Que interesse nacional nos serve a nós, EUA? Bem pelo contrário, cria-nos problemas. Quanto mais forte Cuba se tornar economicamente, mais provável será que a sua liderança política se modere.


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