Histórias da Casa Branca: obrigado, Barack Hussein Obama - TVI

Histórias da Casa Branca: obrigado, Barack Hussein Obama

  • Germano Almeida
  • 20 jan 2017, 09:50
O último discurso de Barack Obama como presidente dos EUA

É o adeus de um grande Presidente. Barack Obama salvou a América da grande depressão, colocou-a na prosperidade económica, criou bases para distribuição fiscal mais justa, alargou acesso à Saúde, protegeu minorias, abriu pontes a Cuba e Irão. Não é coisa pouca

A poucas horas de deixar a presidência dos Estados Unidos da América, o estado de espírito de Barack Obama andará algures entre o orgulho, o alívio e a nostalgia.

Orgulho pelos grandes feitos conquistados, alívio por poder ter, finalmente, algum tempo para descansar e nostalgia, ao olhar para trás e perceber que tanto aconteceu.  

Barack Hussein Obama foi um grande Presidente.

Pegou nos EUA no pico da crise financeira, deixa-a em prosperidade, com desemprego historicamente mínimo e crescimento económico sólido.

Alargou acesso à Saúde para 20 milhões de americanos.

Deixa a América muito menos dependente do petróleo estrangeiro, caminho que tem consequências nas escolhas de política externa. Com uma política energética virada para as novas tecnologias, para as renováveis.

Aproximou os EUA do Irão, em acordo de contenção nuclear que também envolveu a Rússia.

Terminou com o divórcio anacrónico com Cuba. Lançou sementes para uma distribuição fiscal mais justa.

Protegeu minorias, conferindo direitos aos LGBT e mostrando visão integradora sobre os diferentes setores da sociedade americana.

Em oito anos tão difíceis para o mundo como foram estes últimos, tais feitos não são coisa pouca.

O primeiro presidente negro da história americana pode, por isto e muito mais, sair da Casa Branca ostentando um sorriso orgulhoso.

Os 60% de americanos que aprovam o seu trabalho na hora do adeus são, nesse aspeto, muito significativos, se nos lembrarmos que, a meio do primeiro mandato, Obama tinha apenas 38% de apoio popular.

O que falhou?

Muita coisa, também. Mas quase tudo por via da oposição republicana no Congresso.

A Reforma da Imigração ficou mitigada a algumas decisões executivas unilaterais.

A Reforma Fiscal, tendo tido aspetos importantes no alívio fiscal à classe média, não ditou a taxação clara aos 2% mais ricos que Obama advogava.

Guantánamo não fechou. Bin Laden está morto, mas a retirada do Iraque não soube precaver a escalada do monstro do ISIS, que levaria a um regresso forçado da intervenção americana na região, ainda que só pela via dos bombardeamentos aéreos e ação dos drones.

Na Síria -- embora a decisão de não enviar tropas americanas para o terreno tenha sido sensata e se integrasse na política de contenção da presença militar americana, assumida desde o início da sua presidência – Obama deixou-se ultrapassar por Putin e deixou toda a margem aos russos para comandar o jogo em zona crucial.

Foi um erro e decorreu da hesitação de 2013, no episódio das “linhas vermelhas” pisadas por Assad, mas que acabariam por não ter consequência.

Obama foi um Presidente prudente, calculista, equilibrado.

Corajoso, também, como mostrou em momentos como a operação de eliminação de Bin Laden ou a insistência no “bailout” da indústria automóvel, contra quase todos os conselhos de republicanos e até democratas.

Sprint final para marcar território

Barack Obama foi, literalmente, Presidente dos Estados Unidos até ao fim.

Fez discurso de despedida, longo e profundo, em Chicago, a 10 de janeiro, para proclamar “Yes We Did”, oito anos depois de ter lançado, também em Chicago, o grito “Yes We Can”.

Aproveitou os dias finais para um “sprint” de marcação do seu território, como que a antecipar uma autêntica reversão global que a Administração Trump possa preparar do seu legado.

Designou vastas áreas de território como reservas naturais, o que impede a sua exploração, nomeadamente para fins de extrair petróleo ou outras substâncias.

Concedeu estatuto de monumento nacional a determinados lugares associados à luta pelos direitos civis, incluindo um motel e uma estação de autocarros onde houve confrontos que ficaram na história.

Reforçou a aproximação a Cuba, fez acordos com a polícia no sentido de se diminuir abusos contra indivíduos que tenham cometido pequenos delitos, reduziu de 35 para apenas sete anos a pena de prisão de Chelsea Manning.

E, claro, reforçou cobertura política às conclusões dos serviços secretos de que houve mesmo interferência russa para beneficiar Trump e prejudicar Hillary nas eleições de 8 de novembro e deu indicações à ainda Embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, no sentido de que os EUA se abstivessem na votação na Nações Unidas de condenação a Israel na política de construção de colonatos.

O fantasma de Donald Trump ser o seu sucessor ensombra o adeus de Barack Obama da Casa Branca.

Mas o primeiro negro a ter chegado à presidência dos EUA deixa exemplo de decência, civilidade e racionalidade que não pode deixar de ser destacado, sobretudo quando vemos alguém com o comportamento público de Donald Trump a ser investido na mesma função.

Obama cumpriu oito anos na Casa Branca sem um escândalo, sem um momento de menor nível, mostrando que a América pode continuar a ser vista como uma referência de esperança para o mundo.

E isso não acaba apenas com um resultado eleitoral inesperado.

Obrigado, Barack Hussein Obama.

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