Beber com moderação "já é suficiente" para danificar o cérebro - TVI

Beber com moderação "já é suficiente" para danificar o cérebro

  • SO
  • 27 jun 2017, 16:51
Bebida

Estudo realizado por cientistas no Reino Unido revela que não é só a ingestão em demasia que provoca problemas. Apesar das conclusões, os peritos dividem-se

Um estudo, realizado por cientistas da Universidade de Oxford e da University College London, no Reino Unido, concluiu que beber álcool, mesmo com moderação, pode ser prejudicial para o cérebro. Embora muitos médicos recomendem um copo de vinho ou de cerveja por dia, esta investigação demonstra agora que essa atitude pode afetar o cérebro humano de forma negativa.

No estudo publicado no British Medical Jornal, um jornal britânico especializado em medicina, os investigadores descrevem o desempenho cognitivo e o consumo de álcool de 550 homens e mulheres, com mais de 30 anos, desde de 1985. No final do estudo, os participantes realizaram uma ressonância magnética ao cérebro, onde se analisou a estrutura da matéria-branca e o estado do hipocampo, área associada à memória.

De acordo com a CNN, e depois de analisados os exames, foi possível verificar que as pessoas que tinham bebido mais, apresentavam maior risco de atrofia do hipocampo. Quem ingeriu uma grande quantidade de álcool, apresentou também perda diferenças na linguagem e mau processamento de pensamentos.

Em estudos anteriores foi possível verificar que uma grande ingestão de álcool produzia efeitos negativos no cérebro, mas esta nova pesquisa concluiu que quem bebe de forma moderada também corre esse risco.

"Ficámos surpreendidos com o facto de que as pessoas que bebem de forma leve a moderada não pareciam ter esse efeito protetor”, referiu Anya Topiwala, professora no departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford e autora do estudo.

No estudo, o grupo de pessoas que bebeu mais ingeriu cerca de 300 mililitros de álcool, o que equivale a 240 gramas de álcool puro. O grupo moderado consumiu entre a 140 a 210 mililitros, por semana.

Os resultados do estudo mostraram que o grupo de pessoas que bebia menos, estava três vezes mais propenso a ter atrofia do hipocampo, do que aqueles que não bebiam nada.

Os participantes refletiram diferentes níveis de consumo, mas nenhum deles foi considerado dependente de álcool.

Depois de se ter tido em conta uma série de fatores como a idade, o sexo, a atividade social e a educação, a equipa descobriu que os indivíduos que refletiram níveis de consumo mais elevados foram aqueles cujo hipocampo estava mais "encolhido", com maiores efeitos no lado direito do cérebro.

A estrutura de matéria-branca também se modificou consoante a quantidade de álcool que os participantes ingeriram.

"As grandes fibras do cérebro são como fios elétricos e o isolamento, nesses fios, era de qualidade mais pobre em indivíduos que bebiam mais", disse Anya Topiwala.

Além disto, os que bebiam mais tinham piores capacidades lexicais. As pessoas que bebiam entre sete e 14 unidades (copos) por semana apresentaram uma redução de 14% no seu desempenho, ao longo dos 30 anos de estudo, em comparação com os indivíduos que não bebiam mais que uma ou duas unidades por semana.

Estudo devia ter tido em conta "outros fatores"

Os peritos dividem-se quanto à forma como o estudo foi realizado e as conclusões a que chegou. 

Para Eric Rimm, professor de Medicina e diretor do programa de Epidemiologia Cardiovascular da Universidade de Harvard, nos EUA, deviam ter-se tido em conta outros fatores.

"Há tantos outros fatores de estilo de vida que não são levados em consideração neste estudo, como a nutrição”. Dizer que o álcool é prejudicial para o cérebro é algo limitado, porque, por exemplo, “comer grãos integrais, frutas e vegetais tem sido associado a um declínio cognitivo mais lento".

Elizabeth Coulthard, consultora sénior em Neurologia de Demência na Universidade britânica de Bristol, descreveu a pesquisa como um estudo meramente observacional. Para a especialista, o estudo não prova que o álcool provoca danos cerebrais. Sendo que acresce o facto de a maioria dos participantes serem homens e os relatórios de consumo serem imprecisos e poderem exagerar nos efeitos que o consumo moderado de álcool pode causar.

 

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