Estados Unidos em alerta com pacotes armadilhados enviados a políticos - TVI

Estados Unidos em alerta com pacotes armadilhados enviados a políticos

  • João Guilherme Ferreira
  • Aline Raimundo
  • Gonçalo Nuno Cabral
  • 24 out 2018, 23:03

Oito pacotes suspeitos foram enviados entre segunda-feira e esta quarta-feira para vários políticos norte-americanos, entre os quais Barack Obama, Hillary Clinton. Confira aqui o filme dos acontecimentos

Os Estados Unidos da América estão em alerta perante uma sequência de ameaças de bomba contra vários políticos, antigos e atuais figuras do Estado, assim como a redação da CNN, em Nova Iorque, e o Capitólio, em Washington, dias depois de ter sido encontrado um engenho explosivo em casa do multimilionário George Soros.

Entre os visados estão o ex-presidente Barack Obama, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, o governador de Nova Iorque, Andrew Cuoumo, o ex-diretor da CIA John Brennan, o antigo Procurador-Geral dos EUA, Eric Holder, a senadora da Florida Debbie Wasserman Schultz, e as senadoras da Califórnia Kamala Harris e Maxine Waters.

Todos receberam, através do correio, pacotes suspeitos, a maioria com explosivos, que foram detetados antes de explodirem.

Esta quarta-feira, os norte americanos assistiram a manobras policiais sem precedentes, com as autoridades de Nova Iorque, por exemplo, a transportarem com escolta um dos engenhos explosivos para o fazer detonar em segurança.

O filme dos acontecimentos

Tudo começou na segunda-feira à noite quando foi encontrado um engenho explosivo entre o correio da residência do multimilionário George Soros, em Bedford, a cerca de 60 quilómetros de Nova Iorque. O engenho foi levado por um funcionário para um descampado e depois detonado pela polícia nova-iorquina.

O segundo alerta foi dado na noite de terça-feira, mas só esta quarta-feira de manhã foi divulgado. Um técnico que rastreava o correio para a casa de Hillary e Bill Clinton, no condado de Westchester, em Nova Iorque, encontrou um engenho explosivo e alertou as autoridades.

Poucos minutos depois do anúncio do primeiro alerta, novo engenho explosivo foi encontrado, desta vez no correio endereçado à casa de Barack Obama, em Washington.

Os Serviços Secretos garantem que os pacotes suspeitos foram imediatamente identificados durante a triagem do correio e que nem os Clinton, nem os Obama chegaram a recebê-los. Os jornais norte-americanos acrescentam que os pacotes suspeitos continham engenhos explosivos semelhantes ao que foi encontrado entre o correio George Soros.

A terceira ameaça surgiu ao início da tarde: um alerta de bomba no edifício da Time Warner, em Nova Iorque, onde funcionam três estúdios da CNN. O alarme soou durante um noticiário do canal norte-americano e o momento foi visto por milhões de pessoas.

Os jornalistas Poppy Harlow e Jim Sciutto, que davam em direto a informação sobre os pacotes suspeitos, tiveram de interromper a emissão e foram retirados das instalações. A redação da CNN foi evacuada por precaução. A polícia recolheu depois o engenho que encontrado na sala de correspondência do 10 Columbus Circle, transportou-o para o Bronx, onde foi detonado.

As autoridades policiais referiram à própria CNN que o pacote suspeito tinha como destinatário o ex-diretor da CIA John Brennan, que marca habitualmente presença no canal de televisão. Crítico de Donald Trump, Brennan viu a sua credencial de segurança revogada pelo atual presidente norte-americano, no último verão.

A imagem do engenho explosivo foi divulgada no site da CNN. Um envelope contendo pó branco também foi descoberto como parte da embalagem original, disse o comissário da polícia de Nova Iorque, James P. O'Neill.

Menos de uma hora depois do alerta na CNN, o escritório, na Florida, de Debbie Wasserman Schultz, que foi presidente do Comité Nacional Democrata de 2011 a 2016, foi evacuado devido a um pacote suspeito. Eric Holder, o primeiro Procurador-Geral dos EUA afro-americano, era um dos alvos do pacote suspeito que foi intercetado pela polícia.

No Twitter, a polícia pediu à população para ficar longe do escritório da congressista Debbie Wasserman Schultz.

As ameaças, aparentemente concertadas, não ficaram por aqui e chegaram também ao governador de Nova Iorque. Neste caso, não passou de um falso alarme. O pacote suspeito enviado para o gabinete de Andrew Cuomo, em Manhattan, era apenas literatura, mas o governador deixou uma mensagem aos nova-iorquinos a alertar que " o terrorismo só funciona se nos deixarmos afetar". "Somos resilientes e não vamos permitir que estes terroristas mudem as nossas vidas".

Tanto Andrew Cuomo como o mayor de Nova Iorque Bill de Blasio (ambos democratas) traçaram auma ligação entre estes incidentes e o ambiente de elevada hostilidade política que se vive no país, extremamente polarizado, muito alimentado pela retórica do presidente Donald Trump (que já chamou "inimigo público" à comunicação social).

Não incitem à violência. Não incitem ao ódio. Não incitem ataques aos media. Podem discordar, mas devem ter respeito pelos outros e manifestar as discordâncias de forma pacífica”, afirmou o autarca nova-iorquino.

 

No Twitter, o presidente da Câmara de Nova Iorque classificou o envio destes pacotes como uma tentativa de ato terrorista.

 

O escritório em San Diego da antiga procuradora-geral da Califórnia e atual senadora, Kamala Harris, e a redação do jornal The San Diego Union-Tribune também foram evacuados, esta quarta-feira, depois de terem sido encontrados vários pacotes suspeitos.

A porta-voz de Kamal Harris confirmou, através do Twitter, o pacote suspeito e a evacuação do escritório na Califórnia.

Os últimos pacotes suspeitos foram intercetados no Capitólio, em Washington. O FBI confirmou que estavam endereçados à senadora Maxine Waters, uma das representantes do Partido Democrata na câmara baixa do Congresso norte-americano. A congressista afro-americana, eleita pelo Estado da Califórnia, tem sido uma forte crítica da administração Trump.

Confirmamos agora dois engenhos adicionais, ambos endereçados à representante Maxine Waters, que são similares em aparência”, aos cinco outros explosivos apreendidos anteriormente, pode ler-se na página oficial do Twitter do FBI, divulgado esta quarta-feira à noite.

 

Trump e Pence condenam "violência política"

No final de um evento oficial na Casa Branca para discutir a crise de opiáceos que afeta os norte-americanos, Donald Trump afirmou que pediu a todos as unidades de segurança do país e a oficiais de inteligência para investigar os casos que ocorreram desde segunda-feira.

Acabei de me reunir com o FBI, com o Departamento da Segurança Nacional e com os serviços secretos norte-americanos. Enquanto falamos, os pacotes estão a ser analisados por especialistas e há uma investigação federal a ser preparada”, garantiu. “Não vamos poupar quaisquer recursos para esta investigação exaustiva”, acrescentou. “Queremos que os responsáveis por estes atos sejam levados à justiça. Nestas alturas, temos de nos unir. Temos de passar uma mensagem clara e forte de que não serão admitidos atos ou ameaças de violência política de qualquer tipo nos Estados Unidos da América”.

 

Antes das declarações de Donald Trump, o vice-presidente Mike Pence qualificou as acções como "cobardes" e "desprezíveis" numa mensagem partilhada no Twitter que foi posteriormente repartilhada por Donald Trump: "Concordo inteiramente". 

“Somos um Estado muito bipartidário. Mas posso garantir que ambos concordamos nisto. A minha administração irá continuar a acompanhar o caso e a fornecer atualizações”, disse ainda Donald Trump, no final do evento na Casa Branca.

“Estamos extremamente zangados e infelizes com o que se passou nesta manhã. E vamos resolver este assunto”, concluiu.

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