Governadora brasileira quer fechar fronteira com a Venezuela - TVI

Governadora brasileira quer fechar fronteira com a Venezuela

  • CM
  • 19 ago 2018, 11:00

Cidade brasileira de Pacaraima foi palco no sábado de violência e tensão na sequência de vários ataques de brasileiros aos acampamentos de imigrantes venezuelanos

A governadora do Estado brasileiro de Roraima, Suely Campos, prometeu fechar temporariamente a fronteira com a Venezuela e pediu a Brasília que envie reforços "para lidar com o crescimento da criminalidade" ligada aos imigrantes.

O Ministério da Segurança Pública do Brasil prometeu enviar 60 soldados adicionais que se juntarão, na segunda-feira, à tropa que já está no local.

A cidade brasileira de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, foi palco no sábado de violência e tensão na sequência de vários ataques de brasileiros aos acampamentos de imigrantes venezuelanos.

Segundo a Força Tarefa Humanitária, da Organização das Nações Unidas (ONU), que está no local, os ataques começaram depois de um comerciante local ter sido assaltado na noite de sexta-feira, supostamente por venezuelanos que vivem na cidade.

Em resposta aos incidentes em Pacaraima, o Ministério dos Negócios Estrangeiros venezuelano pediu às autoridades brasileiras "garantias de respeito aos cidadãos venezuelanos e medidas para a proteção e segurança das famílias e de suas propriedades".

No primeiro semestre, cerca de 56.740 venezuelanos procuraram legalizar a sua situação no Brasil, para obter o direito de refúgio ou residência temporária.

A Venezuela enfrenta uma grave crise política, económica e social.

As tensões migratórias estão a espalhar-se a outros países latino-americanos, alimentadas pelas crises na Venezuela, mas também na Nicarágua, onde o presidente Daniel Ortega reprime os movimentos de protesto contra o seu Governo.

No Peru e no Equador, os imigrantes venezuelanos estão presos na fronteira, onde estão a ser solicitados passaportes, o que a maioria não possui, em vez de um simples cartão de cidadão.

Na semana passada, cerca de 20.000 venezuelanos entraram no Peru, segundo as autoridades de Lima, que adotaram as medidas de restrição em vigor até 25 de agosto.

As autoridades colombianas temem que os controlos de fronteira instituídos no Equador desde sábado, após o estabelecimento de um estado de imigração de emergência, deixem milhares de venezuelanos retidos no seu país.

Cerca de 3.000 pessoas cruzam a fronteira da Colômbia com o Equador todos os dias na cidade de Rumichaca.

As Nações Unidas estimam que 2,3 milhões de venezuelanos saíram do seu país, fugindo da pobreza e a procura de trabalho. Mais de 800.000 estão na Colômbia, onde têm o direito temporário de residência.

Muitos venezuelanos pretendem alcançar países mais distantes como Peru, Chile, Argentina ou Uruguai.

Também os imigrantes portugueses na Venezuela estão a regressar, com a Madeira a estimar o regresso de 5.000 desde 2016.

Oposição convoca greve-geral contra medidas de Maduro

A oposição venezuelana convocou uma greve-geral para 21 de agosto em protesto pela reconversão da moeda e contra as recentes medidas económicas anunciadas pelo Presidente Nicolás Maduro.

A greve-geral foi convocada no sábado pelos partidos da oposição Primeiro Justiça, Vontade Popular e Causa R.

"Convocamos, para terça-feira, 21 de agosto, um primeiro dia de protesto e de greve nacional, contra (Nicolás) Maduro, contra a hiperinflação e a fome", lia-se nas mensagens publicadas na rede social Twitter.

Entretanto, em comunicado, a mesma oposição referia que sexta-feira, dia em que Nicolás Maduro anunciou várias medidas económicas e um aumento de 35 vezes do salário mínimo dos venezuelanos, "será recordado, na história, como o dia mais negro que os venezuelanos jamais tiveram".

"A ditadura, no seu afã infinito de destruição (...), depois de ter roubado centenas de milhares de milhões de dólares, anunciou a disposição criminosa de passar a saquear diretamente as algibeiras a um povo que já está a viver uma aguda pobreza e sob as calamidades da falta de serviços básicos, como água e luz elétrica", afirma o documento.

Para a oposição, o aumento do salário mínimo anunciado pelo chefe de Estado vai representar desemprego e a diminuição real do poder de compra dos trabalhadores, o que implicará "mais sofrimento e pobreza".

Por outro lado, denuncia que nos próximos dias muitas empresas vão encerrar as portas, deixando milhões de trabalhadores desempregados.

Na mesma nota, os opositores de Maduro sublinharam que o regime aumentou o IVA de 12% para 16%, enquanto isenta de pagamento de impostos as empresas que exploram os "bens naturais" do país.

A oposição pretende "ativar" a população para participar em vários propostas contra as medidas económicas, cujos pormenores vão ser divulgados nos próximos dias.

O presidente da Venezuela anunciou o aumento do salário mínimo de 5.196.000 para 180.000.000 bolívares (de 1,14 euros para 39,50 euros), ou seja, 35 vezes superior ao que os venezuelanos recebem atualmente.

O novo salário mínimo dos venezuelanos, anunciado na sexta-feira à noite, equivale a 1.800,00 bolívares soberanos, a moeda que entrará em vigor a partir da segunda-feira 20 de agosto, data em que a reconversão eliminará cinco zeros do atual bolívar.

"O salário mínimo ficará [fixado] em meio petro (cripto moeda venezuelana), 18.00 bolívares soberanos", disse Nicolás Maduro durante uma intervenção televisiva a partir do palácio presidencial de Miraflores.

Na prática o salário aumenta 3.214%, ou seja, 35 vezes. Os preços dos produtos deixarão também de estar ancorados ao dólar, porque essa moeda deixará de ser uma referência no país e será substituída pelo virtual Petro.

"Esgotou-se o jogo do dólar paralelo e o mecanismo para fixar os preços com esse jogo. Nós vamos fixar os preços ancorados ao Petro", disse, vincando que a cripto moeda venezuelana se converterá numa unidade de intercâmbio económico nacional e internacional.

O aumento do salário faz parte do novo "Programa de Recuperação Económica, de Crescimento e Prosperidade" que, segundo o chefe de Estado, estará adaptado à realidade venezuelana e poderá reverter os efeitos da guerra económica nacional e internacional.

"O Governo dos Estados Unidos vem fazendo a guerra em distintas modalidades para evitar que a República possa fazer as suas compras internacionais, para conseguir a asfixia internacional", disse Nicolás Maduro, admitindo que os EUA têm conseguido "causar danos".

Como parte das novas medidas, o IVA passará de 12% para 16% e as grandes transações financeiras passarão a pagar entre 0 e 2% de imposto sobre o valor das mesmas.

Por outro lado o Governo venezuelano assumirá, durante 90 dias, o pagamento da diferença do novo salário das indústrias médias e pequenas do país.

 

 

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