Covid-19: Bolsonaro diz que está "bem" a tomar fármaco sem eficácia comprovada - TVI

Covid-19: Bolsonaro diz que está "bem" a tomar fármaco sem eficácia comprovada

  • .
  • SS
  • 8 jul 2020, 07:39

O presidente do Brasil disse que está a tomar hidroxicloroquina no tratamento da sua infeção pelo novo coronavírus, frisando que "confia" na ação do fármaco

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, gravou na noite de terça-feira um vídeo a elogiar os efeitos da hidroxicloroquina no tratamento da sua infeção pelo novo coronavírus, frisando que "confia" na ação do fármaco. As palavras surgem mesmo depois de os especialistas terem concluído que o fármaco não tem efeitos benéficos sobre a Covid-19 e a Organização Mundial de Saúde ter descontinuado a sua utilização pela falta de evidências.

Estou a tomar aqui a terceira dose da hidroxicloroquina. Estou a sentir-me muito bem. (...) Hoje, terça-feira, estou muito melhor do que sábado. Então, com toda a certeza, está a dar certo", disse Bolsonaro, entre risos, enquanto tomava o medicamento.

O vídeo foi partilhado no Facebook, horas depois de o chefe de Estado ter sido diagnosticado com a Covid-19.

Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coronavírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas mais uma pessoa em que está a dar certo. Então, eu confio na hidroxicloroquina, e você?", concluiu o presidente brasileiro.

 

O presidente do Brasil informou na terça-feira que está infetado com o novo coronavírus, um dia depois de relatar sintomas e de realizar um teste num hospital militar, em Brasília.

“Todo o mundo sabia que mais cedo ou mais tarde [o vírus] ia atingir uma parte considerável da população (...) Eu, se não tivesse feito o exame, não saberia do resultado. E ele acabou de dar positivo”, declarou Bolsonaro.

O mandatário brasileiro afirmou ainda que tomou, na segunda-feira, uma dose de hidroxicloroquina, substância polémica usada no Brasil no tratamento da Covid-19 e amplamente defendida por Bolsonaro desde o início da pandemia.

Mesmo com o facto de o fármaco não ter eficácia comprovada contra o novo coronavírus e de poder causar danos colaterais graves na saúde dos pacientes, Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde para incluir a cloroquina e hidroxicloroquina no protocolo de tratamento no país, não só para casos graves, mas também para pessoas com sintomas leves da doença.

Até ao final de junho, o executivo brasileiro já tinha distribuído pelo país 4,3 milhões de unidades de cloroquina para o tratamento da Covid-19.

Após Bolsonaro ter anunciado que foi diagnosticado com a doença, o deputado federal Marcelo Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), anunciou que entrou com uma representação no Ministério Público para que o chefe de Estado responda por crimes contra a saúde pública.

Segundo alegou o deputado, o presidente "violou os artigos 131 e 132 do Código Penal ao retirar a máscara durante a entrevista em que anunciou que estava com o coronavírus".

Na avaliação de Freixo, Bolsonaro colocou a vida dos jornalistas em risco, ao prestar declarações sem o devido distanciamento social e ao retirar a sua máscara no momento da despedida, mesmo sabendo que estava infetado.

Jair Bolsonaro, um dos líderes mais céticos em relação à gravidade da atual pandemia, tem suscitado duras críticas por se opor ao isolamento social para combater a propagação da covid-19, doença que chegou a classificar de "gripezinha".

O Brasil totaliza agora 66.741 óbitos e 1.668.589 casos confirmados desde o início da pandemia.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 539 mil mortos e infetou mais de 11,69 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Continue a ler esta notícia