Livro desmistifica favelas do Rio de Janeiro - TVI

Livro desmistifica favelas do Rio de Janeiro

Favela do Rio de Janeiro

Mais de 50 mil fotografias retratam sem estereótipos para os morros cariocas

Um olhar natural sem estereótipos das favelas e periferias do Rio de Janeiro, Brasil, foi o grande desafio de fotógrafos nascidos e criados nos morros cariocas, para retratar e desmistificar o quotidiano

de moradores e, pela primeira vez, editado em livro.



Ao longo de oito anos, os correspondentes de fotografia do projecto Viva Favela, o primeiro portal da Internet dedicado aos moradores das favelas do Rio, reuniram um acervo de mais de 50 mil fotografias que ajudaram a compor a história visual de várias comunidades.



O resultado é o livro «VivaFavela». Lançado na terça-feira a obra junta 50 imagens de sete fotógrafos que fizeram e fazem História através de seu trabalho.



Para Walter Mesquita, editor de fotografia do projecto Viva Favela, a escolha das imagens foi um desafio. «Foi muito difícil mesmo escolher 50 fotos num universo de 50 mil».



A favela «sentida»

«É mais do que um livro», disse Walter Mesquita à Lusa, adiantando que e a publicação vai servir como uma ferramenta para difundir a «favela como ela é de facto, como a gente vê, como a gente sente».



A favela, segundo o editor, é «diferente de praticamente 90% das coisas que são divulgadas na imprensa». Ele salienta ainda que a ideia é mostrar uma favela «viva, cultural, que pulsa, respira, que chora, sofre mas que não perde a esperança de ser feliz e mudar a realidade».



Algumas das imagens do livro fizeram parte da exposição «Moro na Favela», resultado do prémio de estímulo à fotografia documental, concedido pelo Open Society Institute Documentary Photography nos EUA, em 2005.



Lançado numa das ruas históricas do centro do Rio de Janeiro, o livro de fotografias «VivaFavela» contou com a presença de várias expressões artísticas, como um grupo de Break da Rocinha, um rapper e um DJ da comunidade Santa Marta e do Complexo do Alemão, além do desfile de modelos organizado por uma agência de manequins da Cidade de Deus.

Os graffitis, o samba e o funk



O livro tem o prefácio do jornalista e escritor brasileiro, Zuenir Ventura, um dos que apoiaram a criação da organização não governamental (ONG) Viva Rio, à qual o projecto está vinculado. No prefácio ressalta a construção de uma linguagem e estética própria da cultura na periferia.



«Nada é estrangeiro nas fotos desses correspondentes comunitários. (...) A hegemonia nesses flagrantes não é o crime, nem o banditismo, que são na verdade um acidente, um desvio, não são a norma».



Otávio Nazareth, co-editor do livro, destaca que a produção fotográfica do projecto Viva Favela constitui um acervo único com foco num «olhar diferenciado ao dos grandes media».



As fotos foram tiradas em pelo menos 15 favelas ou bairros da periferia do Rio e ilustram cenas do quotidiano de crianças, mães, jovens, idosos, além de expressões culturais como os graffitis, o samba, o funk, o futebol, a moda e a cultura afro.



Nazareth sublinha que este conceito foi transferido para o livro que marca o diferencial do trabalho. Através das imagens dos correspondentes comunitários, fotógrafos que retratam as comunidades, é possível ver a pobreza, mas com o objectivo de «dignificar», sem querer dizer «que haja pobreza de espírito».
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