Reeleita para segundo mandato: e agora, Dilma? - TVI

Reeleita para segundo mandato: e agora, Dilma?

Dilma Rousseff sucede a Dilma Rousseff à frente dos destinos do Brasil. O Palácio do Planalto será a sua morada oficial por mais quatro anos. Mas que desafios enfrenta agora a «presidenta» do maior país da América Latina? Como encarar, neste segundo mandato, um resultado escasso, numas das mais disputadas eleições de sempre? Que desafios tem pela frente?

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Dilma Rousseff foi reeleita, este domingo à noite, presidente do Brasil, com 51,6% dos votos. Aécio Neves ficou a pouco mais de dois pontos da vencedora. Dilma tem pela frente dois principais desafios neste segundo mandato: um político e outro económico.

Descolar-se de Lula

O desafio político está na relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. O primeiro mandato de Dilma caraterizou-se por um «romper de pontes» com o Congresso, o que originou algumas crises entre o Governo e os congressistas, sobretudo em votações importantes em plenário. Neste segundo mandato, os analistas políticos preveem que a Presidente destaque um núcleo político forte para atuar na linha da frente da relação entre o Planalto e o Legislativo.

Os três coordenadores da campanha de Dilma, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner e Miguel Rossetto, deverão ser ministros no novo Governo e atuar precisamente nessa linha de diálogo.

Ainda no campo político, prevê-se que Dilma trave uma batalha dura para se descolar do seu «padrinho» político. Durante os primeiros quatro anos, a Presidente deu continuidade a algumas das principais bandeiras dos Governos Lula. Entre elas, o Programa de Aceleração do Crescimento, o Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida. Tentou impor também o seu cunho pessoal, com programas como o Mais Médicos, mas que mereceram também muita contestação.

Depois de quatro anos que os brasileiros encararam como um prolongamento da gestão de Lula, Dilma tem agora de mostrar que é capaz de sair da sombra do homem que ajudou a elegê-la. Agora, depois de Lula da Silva ter entrado de forma mais contundente na reta final da campanha e depois de aparecer ao seu lado no discurso da vitória, a tarefa não parece ser fácil, pelo menos a curto prazo. Mas também, depois do efusivo agradecimento que fez ao antigo Presidente, este domingo à noite, esta parece ser uma batalha que Dilma não parece querer travar num curto prazo.

Desafio económico

Mas talvez o maior desafio de Dilma para os próximos quatro anos seja refundar e reforçar a confiança dos brasileiros e dos mercados na economia brasileira. O primeiro mandato da dama de ferro do Brasil ficou marcado pelo não cumprimento das metas das contas públicas e a inflação andou muito perto dos 6%. Um país que se habituou a crescer exponencialmente nos oito anos que Lula esteve à frente dos seus destinos, viu o crescimento económico reduzir-se nos primeiros quatro anos de Dilma.

Assim, a Presidente terá já sido aconselhada por amigos a sinalizar que vai adotar medidas para reconquistar a confiança dos empresários. Ela terá já confidenciado que não pretende fazer «nada radical» e não «dará um cavalo de pau» na economia, mas quer sobretudo retomar a luta contra os juros da dívida pública, que estavam nos 11% quando encerrou o mandato.

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Prevê-se assim que Dilma faça uma guerra aberta aos juros, mas com a consciência de que será uma luta a médio prazo.

O crescimento do PIB deve ser outra das batalhas a travar. A taxa média da expansão económica brasileira, durante a gestão de Dilma, tem sido de 1,63%. É a primeira vez, desde 1994 e do Plano Real, que o país regista um crescimento abaixo dos 2%.

Festejos e lamentos

A noite deste domingo e madrugada desta segunda-feira fizeram-se de festejos e lamentos nas ruas do Brasil. Em São Paulo, os apoiantes de Dilma e de Aécio fizeram da Avenida Paulista o ponto de festejos e lamentos por excelência.

Enquanto os tucanos gritavam «impeachment» ou «vai para Cuba» e alguns defendiam mesmo uma intervenção militar, apoiantes de Dilma festejavam a vitória e pediam que os eleitores de Aécio «chorassem» no Sistema Cantareira, um dos mais prejudicados pela seca que afeta a região: «Eira, eira, eira, vai chorar no Cantareira».




Do lado de Aécio, o clima foi de lamentos e desabafos. A imprensa brasileira online dá conta da ira da atriz Adriana Toledo, apoiante do tucano: «São um bando de ladrões. Eu fiz a minha parte de patriota e votei no Aécio».

De São Paulo para o Rio de Janeiro, o clima era idêntico. No Leblon, um dos bairros nobres da cidade, lamentava-se este domingo, a derrota de Aécio Neves e ameaçava-se abandonar o país. «Vou morar em Miami», dizia o artista plástico Zeca Albuquerque, em declarações ao «Folha de São Paulo», ainda perante uma mera hipótese de Dilma ganhar.

Ameaça semelhante fazia um jornalista de São Paulo, apoiante de Aécio, em declarações ao portal G1: «É uma deceção muito grande, estou quase indo embora para o Uruguai».

A atriz Luana Piovani, bem conhecida dos portugueses, foi manifestando a sua indignação no Twitter, ao longo da noite. Dilma e os seus apoiantes foram os visados, mas o descontentamento da atriz acabou por respingar também em Portugal:



Felicitações vindas dos quatro cantos do mundo

Já durante a madrugada e manhã desta segunda-feira, Dilma Rousseff foi recebendo felicitações vindas de vários pontos do mundo. Os presidentes cessantes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu felicitaram a presidente reeleita do Brasil, afirmando-se certos de que os seus sucessores em Bruxelas prosseguirão o trabalho com Dilma Rousseff para ampliar a parceria estratégica UE-Brasil.

Numa mensagem conjunta dirigida a Dilma Rousseff, José Manuel Durão Barroso e Herman Van Rompuy apontam que a reeleição «constitui uma oportunidade única para a consolidação da inequívoca trajetória de construção da democracia e da inclusão social no Brasil, fundamentada no avanço da igualdade de direitos e oportunidades e da estabilidade económica».

«Tal como ocorreu nos passados cinco anos, estamos certos de que os nossos sucessores trabalharão com o governo de Vossa Excelência para ampliar a nossa parceria estratégica com o objetivo de atingir novas metas que permitam impulsionar o crescimento e a competitividade das nossas economias e fazer face aos atuais desafios globais que o mundo enfrenta», indicam Durão Barroso e Van Rompuy.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi das primeiras a felicitar a Dilma Rousseff, numa carta curta, escreveu: «recebo com grande alegria a notícia de sua vitória desde Brasília, pelo qual quero felicitar-te e transmitir um fraternal abraço em nome próprio e de todo o povo argentino».

Antes, já tinha postado várias fotografias no Twitter e várias mensagens de felicitação à nova presidente do Brasil:




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