Gronelândia antecedeu britânicos no “divórcio” com União Europeia - TVI

Gronelândia antecedeu britânicos no “divórcio” com União Europeia

  • Paulo Delgado
  • 28 jun 2016, 16:40
Pescas representam 90% das exportações da Gronelândia

Antes do referendo britânico, só o território da Gronelândia tinha decidido sair da comunidade europeia. Após três anos de negociações, teve de permitir o acesso das frotas da UE às suas águas

O Brexit britânico tem um precedente com contornos semelhantes. Trata-se da Gronelândia, a enorme ilha gelada próxima do Polo Norte, território autónomo da Dinamarca, que conseguiu abandonar a então Comunidade Económica Europeia, em 1985.

O “divórcio” gronelandês volta agora a estar em destaque, como exemplo para as dificuldades e demoras negociais que os britânicos poderão enfrentar. Em 1982, numa consulta popular, 52% dos habitantes da Gronelândia – uma percentagem semelhante à dos britânicos que aprovaram o Brexit – votou pela saída da comunidade europeia, que demorou ainda três anos e mais de uma centena de reuniões a concretizar.

O principal motivo que levou então os habitantes da Gronelândia a optar pela saída foi o receio de que as quotas de pesca instituídas por Bruxelas pudessem pôr em causa o principal recurso económico da maior ilha do planeta.

Saída “com espinhas”

Após três anos de negociações, o acordo firmado com a União Europeia permitiu aos gronelandeses controlar os seus recursos de pesca e negocia-los no mercado europeu. Em troca, aceitaram o acesso às suas águas por parte das frotas dos países da UE.

Com águas ricas em camarão e linguados, a pesca representa hoje cerca de 90% das exportações da Gronelândia, sendo que a atual situação face à União Europeia volta a dividir os seus habitantes.

Entre os cerca de 60 mil gronelandeses, há "separatistas arrependidos". Ouvido pela agência Reuters, Henrik Leth, presidente da maior companhia pesqueira privada da Gronelândia, defende que a ilha deveria pensar voltar à União Europeia. De forma a poder beneficiar dos acordos comerciais existentes com países que são grandes consumidores de peixe, casos do Japão e China.

O que foi conquistado em 1985 vai gradualmente desaparecer. Temos de avaliar se não seria bom voltar a aderir à União Europeia”, sublinhou Henrik Leth.

De forma oposta pensa o atual primeiro-ministro, Kim Kielsen, para quem há “uma boa parceria com a União Europeia em termos de educação, pescas e investigação”.

Kielsen defende mesmo um maior afastamento político da União Europeia através de uma independência total face à Dinamarca. Será, segundo o próprio, uma conquista para as futuras gerações de gronelandeses, com base no crescimento da economia da ilha através do incremento da extração mineira, da indústria e do turismo.

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