Dois cidadãos russos foram hoje oficialmente identificados pelas autoridades britânicas como suspeitos de terem usado o agente neurotóxico Novichok contra o ex-espião Sergei Skripal e a filha Yulia em março, em Salisbury, no Reino Unido.
A Procuradoria da Coroa (Crown Prosecution Service) identificou os dois homens como Alexander Petrov e Ruslan Boshirov e considera que existem provas suficientes para acusá-los de conspiração de homicídio de Sergei Skripal e tentativa de homicídio de Sergei e Yulia Skripal e do agente de polícia Nick Bailey.
São ainda considerados suspeitos do uso e da posse de substâncias químicas ilegais, cuja origem as autoridades atribuíram à Rússia, onde o agente neurotóxico foi desenvolvido no âmbito de um programa militar nos anos 1970.
They flew into the UK on Friday 2nd March and flew out to Moscow on Sunday 4th March soon after the attack pic.twitter.com/qm14QxC0uN
— Daniel Sandford (@BBCDanielS) 5 de setembro de 2018
The suspects were caught on CCTV on Wilton Road at 11.58 on the Sunday “moments before the attack” pic.twitter.com/Zou2EZ07pH
— Daniel Sandford (@BBCDanielS) 5 de setembro de 2018
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a polícia revelou esta quarta-feira que os suspeitos viajavam com passaportes russos e chegaram ao Reino Unido num voo da Aeroflot dias antes do envenenamento de Sergei Skripal e da filha.
O anúncio de hoje é o resultado de uma investigação pela Unidade de Polícia de Contra-Terrorismo ao ataque registado a 4 de março em Salisbury, no sul de Inglaterra, que entregou o dossiê à procuradoria para avaliar a possibilidade de serem iniciados procedimentos criminais.
Os procuradores da Divisão de Contraterrorismo do CPS consideraram as provas e concluíram que há provas suficientes para dar uma perspetiva realista de condenação e é claramente do interesse público acusar Alexander Petrov e Ruslan Boshirov, que são cidadãos russos", referiu a Procuradoria da Coroa, num comunicado.
As autoridades indicaram ainda que não vão pedir a extradição dos dois suspeitos a Moscovo porque a constituição russa não permite a extradição dos próprios nacionais e porque recusou pedidos de extradição em situações anteriores.
No entanto, obtivemos um mandado de detenção europeu, o que significa que, se um dos homens viajar para um país onde o mandado de detenção europeu for válido, ele será preso e será extraditado para responder a essas acusações, para as quais não há prazo de prescrição", indica ainda o comunicado.
Sergei Skripal, um britânico de origem russa com 66 anos, e a filha de 33 anos, Yulia, de nacionalidade russa, foram encontrados semi-inconscientes num banco de jardim na tarde de 4 de março, tendo-se apurado mais tarde que tinham sido envenenados com um agente neurotóxico de nível militar.
Depois de estarem hospitalizados em estado grave durante semanas, ambos tiveram alta, tal como o agente Nick Bailey, que também tinha sido contaminado pelo agente chamado ‘novichok', cuja origem as autoridades britânicas atribuíram à Rússia.
A investigação à tentativa de homicídio envolveu, nos últimos meses, 250 detetives de várias forças regionais, que realizaram 176 buscas e recolheram mais de 900 testemunhos em Salisbury, além de 1.230 agentes que assistiram nos cordões de segurança.
Foram visionadas mais de 4.000 horas de filmagens de videovigilância e enviados para análise no Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa de Porton Down 851 elementos de prova, num total de mais de 2.300 recolhidas.