«Charlie Hebdo»: gerente da gráfica ofereceu café aos terroristas - TVI

«Charlie Hebdo»: gerente da gráfica ofereceu café aos terroristas

Cerco aos irmãos Kouachi nos arredores de Paris (REUTERS)

Michel Catalano ainda está em estado de choque, depois da experiência «surreal» pela qual passou

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Michel Catalano, o gerente da gráfica onde os autores do atentado ao jornal «Charlie Hebdo» se barricaram esta sexta-feira, ainda está em estado de choque depois da experiência «surreal» pela qual passou. O francês esteve uma hora com os terroristas, dentro da empresa, com quem conversou e a quem até ofereceu café. Uma história incrível que até parece saída de um filme de Hollywood.

Na sexta-feira, faltavam poucos minutos para as 8:00 (7:00 em Lisboa) quando Catalano ouviu a campainha da empresa tocar.

«Não estava nada preocupado porque esperava um fornecedor», explicou ao «Le Fígaro».

Porém, quando desceu até à entrada do edifício percebeu que esta não era uma visita normal: tinha os dois homens mais procurados de França a entrarem na gráfica, fortemente armados. De imediato, pediu ao funcionário que também se encontrava no edifício, o designer gráfico Lilian, para se esconder.

«Vi que eles tinham uma kalashnikov e um lança rockets. Imediatamente disse ao Lilian para se esconder», contou.

Mas Catalano não se escondeu, pelo contrário. Foi ao encontro dos terroristas e convidou-os a tomar café no seu escritório.

«Tive um momento incrível com eles. Ofereci-lhes café no meu escritório e conversámos», afirmou.

De acordo com as declarações de Catalano, os irmãos Kouachi pareciam determinados, mas não violentos.

«Em nenhum momento foram agressivos» disse. 

Mais, segundo o gerente,  foram os terroristas que o aconselharam a chamar a polícia e a informar as autoridades de que eles se encontravam ali com ele.
 

Entretanto, o fornecedor que Catalano esperava acabou mesmo por chegar. Os irmãos dirigiram-se à entrada da gráfica, mas a intervenção do gerente terá salvado o fornecedor.

«Pedi-lhes para deixarem-no ir e eles aceitaram sem problemas», refere.


Quando a polícia chegou, vários tiros foram disparados e o irmão mais velho, Saïd, foi ferido no pescoço. 

«Fiz-lhe um curativo», revelou.


Para Catalano, em nenhum momento os irmãos Kouachi o consideraram um refém e até lhe disseram para não se preocupar porque o iam deixar ir embora.

«Disseram-me 'não se preocupe, vamos deixá-lo ir'.»

Uma hora depois, num clima de tensão à flor da pele, Catalano pediu uma terceira vez para sair. Um pedido a que Cherif finalmente acedeu. Mais, o irmão mais novo até o aconselhou a ter cuidado para não ser confundido com os terroristas.

São e salvo, o gerente conseguiu assim escapar à experiência que caraterizou como verdadeiramente «surreal». Já cá fora, contou aos polícias que Lilian estava escondido dentro do edifício. 

«Se lhe tivesse acontecido alguma coisa, não me perdoaria para o resto da vida», afirmou.


Os relógios franceses marcavam as 17:00 (16:00 em Lisboa) quando o assalto das autoridades começou e Lilian foi, por fim, salvo. Os terroristas, abatidos, nunca chegaram a saber que uma terceira pessoa se encontrava escondida na gráfica.

À noite, em casa, Catalano pôde abraçar a família mais uma vez.
 

«Quando chegou a casa, não dissemos nada. Apenas o abraçámos e dissemos-lhe que o amamos», contou o filho Valentin.

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