Na sexta-feira, faltavam poucos minutos para as 8:00 (7:00 em Lisboa) quando Catalano ouviu a campainha da empresa tocar.
Porém, quando desceu até à entrada do edifício percebeu que esta não era uma visita normal: tinha os dois homens mais procurados de França a entrarem na gráfica, fortemente armados. De imediato, pediu ao funcionário que também se encontrava no edifício, o designer gráfico Lilian, para se esconder.«Não estava nada preocupado porque esperava um fornecedor», explicou ao «Le Fígaro».
Mas Catalano não se escondeu, pelo contrário. Foi ao encontro dos terroristas e convidou-os a tomar café no seu escritório.«Vi que eles tinham uma kalashnikov e um lança rockets. Imediatamente disse ao Lilian para se esconder», contou.
De acordo com as declarações de Catalano, os irmãos Kouachi pareciam determinados, mas não violentos.«Tive um momento incrível com eles. Ofereci-lhes café no meu escritório e conversámos», afirmou.
«Em nenhum momento foram agressivos» disse.
Mais, segundo o gerente, foram os terroristas que o aconselharam a chamar a polícia e a informar as autoridades de que eles se encontravam ali com ele.
«Pedi-lhes para deixarem-no ir e eles aceitaram sem problemas», refere.
Quando a polícia chegou, vários tiros foram disparados e o irmão mais velho, Saïd, foi ferido no pescoço.
«Fiz-lhe um curativo», revelou.
Para Catalano, em nenhum momento os irmãos Kouachi o consideraram um refém e até lhe disseram para não se preocupar porque o iam deixar ir embora.
Uma hora depois, num clima de tensão à flor da pele, Catalano pediu uma terceira vez para sair. Um pedido a que Cherif finalmente acedeu. Mais, o irmão mais novo até o aconselhou a ter cuidado para não ser confundido com os terroristas.«Disseram-me 'não se preocupe, vamos deixá-lo ir'.»
São e salvo, o gerente conseguiu assim escapar à experiência que caraterizou como verdadeiramente «surreal». Já cá fora, contou aos polícias que Lilian estava escondido dentro do edifício.
«Se lhe tivesse acontecido alguma coisa, não me perdoaria para o resto da vida», afirmou.
Os relógios franceses marcavam as 17:00 (16:00 em Lisboa) quando o assalto das autoridades começou e Lilian foi, por fim, salvo. Os terroristas, abatidos, nunca chegaram a saber que uma terceira pessoa se encontrava escondida na gráfica.
À noite, em casa, Catalano pôde abraçar a família mais uma vez.
«Quando chegou a casa, não dissemos nada. Apenas o abraçámos e dissemos-lhe que o amamos», contou o filho Valentin.