O relato AO MINUTO sobre o atentado ao jornal francês
Charb, o diretor do jornal satírico, é um dos mortos. Cabu (considerado um dos maiores cartoonistas franceses), Wolinski e Tignous também morreram, assim como o acionista do jornal, o economista de esquerda Bernard Maris. Ao final da noite foi confirmado que um dos mortos por identificar é o cartoonista Phillipe Honoré, de 73 anos.
O ataque foi realizado por três homens durante uma reunião de trabalho do «Charlie Hebdo» e o momento foi captado por várias testemunhas:
Les tireurs de #ChalieHebdo face à une voiture de police. Ils ont fait feu, les policiers ont répliqué puis reculé pic.twitter.com/Ld1sxkRLvW
— Elise Barthet (@EliseBarthet) 7 janeiro 2015
Os suspeitos entraram no jornal, todos vestidos de negro, de cara tapada e fortemente armados, e sabiam quem queriam matar, tendo chamado por nomes específicos. Estavam munidos com duas metralhadoras Kalashnikov e também um lança-granadas.
Terão ameaçado uma das jornalistas do «Charlie Hebdo», que entrava no edifício e que lhes terá aberto a porta. De acordo com a jornalista em causa, reclamaram pertencer à Al-Qaeda.
Um vídeo-amador captou mesmo o momento em que, depois do ataque à redação, os suspeitos matam ainda um polícia na rua.
O «Le Parisien» acrescenta que os dois homens conseguiram fugir em direção ao norte da capital francesa, num carro furtado. Segundo os polícias, os homens gritaram: «Vingámos o profeta» e «matámos o Charlie Hebdo».
A viatura foi, entretanto, abandonada no 19º Bairro e decorre uma gigantesca caça ao homem.
A violência dos disparos ficou marcada nas vitrinas de uma loja vizinha do jornal. Os tiros aparentam ser de uma arma Kalachnikov.
Impacts d un fusil type kalachnikov @Charlie_Hebdo_ pic.twitter.com/0QLG30C8Fl
— Julien Rebucci (@julienrbcc) 7 janeiro 2015
Les impacts de balles près d'un magasin voisin de celui de Charlie Hebdo pic.twitter.com/P6VCuKRoe4
— David Doucet (@Mancioday) 7 janeiro 2015
«Um ataque terrorista»
François Hollande, o presidente francês chegou pelas 11:50 à sede do jornal. Classificou este atentado como «bárbaro» e, sem dúvida, «um ataque terrorista».
Cerca das 20:30 locais, François Hollande voltou a falar ao país, desta vez a partir do Palácio do Eliseu. O Presidente francês decretou um dia de luto nacional, na quinta-feira. O chefe de Estado prometeu que a França não se vai render ao terrorismo e que a liberdade será sempre salvaguardada.«Os responsáveis por este ataque serão punidos. A França está em estado de choque. É um ataque terrorista, sem dúvida», disse Hollande.
«A nossa melhor arma é a unidade. Nada nos pode dividir, nada nos pode separar. A liberdade será sempre mais forte do que a barbárie», avisou.
O presidente também mandou reunir um gabinete de crise e a França está em alerta máximo com receio de ataques terroristas. A segurança está a ser reforçada em todas as redações, de acordo com o «Le Fígaro». Segurança reforçada ainda em grandes armazéns comerciais, locais de culto e também transportes.
❗Tuerie #CharlieHebdo - Le plan Vigipirate élevé au niveau #Attentat en Ile de France #IDF pic.twitter.com/NbJu7xmiWW
— GendarmerieNationale (@Gendarmerie) 7 janeiro 2015
As escolas suspenderam todas as atividades no exterior, como passeios e excursões, e foi proibido o estacionamento em frente a estabelecimentos escolares, mesmo para recolher crianças.
O último tweet do jornal antes do ataque
Alguns minutos antes do ataque, o último tweet do jornal mostrava uma imagem satírica com o líder do Estado Islâmico, Al-Baghdadi.
Meilleurs vœux, au fait. pic.twitter.com/a2JOhqJZJM
— Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) 7 janeiro 2015
Devant Charlie Hebdo pic.twitter.com/FPrRNIyhx9
— Soren Seelow (@soren_seelow) 7 janeiro 2015
Jornal já tinha sido atacado antes
Esta não é a primeira vez que a redação do «Charlie Hebdo» é atacada em retaliação por críticas ao mundo islâmico.
Em novembro de 2011 a redação do jornal foi atacada com uma bomba incendiária que destruiu a sede, uma retaliação a outras caricaturas referentes ao mundo islâmico.
Em 2012, numa altura em que, um pouco por todo o mundo, os muçulmanos se manifestavam contra o filme norte-americano «Innocence of Muslims», onde se mostra o profeta Maomé em diversas cenas de sexo, com mulheres e com homens, a revista francesa publicou novas caricaturas do profeta islâmico.
Fazendo referência ao filme «Intochables», que conta a história de um homem tetraplégico que encontra no seu novo assistente um amigo para a vida, na caricatura publicada na capa da revista vemos Maomé numa cadeira de rodas a ser empurrado por um judeu ortodoxo, lendo-se «Intochables 2» como título.
Outros desenhos foram igualmente colocados no interior da revista, onde se vê, por exemplo, o profeta do islão nu.
Já em 2006, «Charlie Hebdo» tinha sido um dos media europeus a publicar as caricaturas do jornal dinamarquês «Jullands-Posten», que cerca de um ano antes pediu a 40 cartoonistas que desenhassem caricaturas do profeta islâmico.
Os desenhos enfureceram a comunidade islâmica, uma vez que a representação do profeta é proibida.
No mês passado, França sofreu quatro ataques seguidos relacionados com muçulmanos radicalizados, mas tratavam-se de pessoas isoladas.
Manifestações por todo o mundo
Um pouco por toda a França foram realizadas manifestações em solidariedade com o jornal satírico «Charlie Hebdo», e a reivindicar a liberdade de imprensa e os valores da democracia e República. As manifestações juntaram mais de 100 mil pessoas e também acabaram por alastrar-se a outras cidades europeias.
Em Espanha, onde houve um susto na redação da Prisa, o nível de alerta antiterrorista foi aumentado.
A lista das vítimas
- Charb, alcunha de Stéphane Charbonnier, 47 anos, cartoonista e diretor do jornal «Charlie Hebdo»;
- Cabu, Jean Cabut, 76 anos, cartoonista, considerado um dos melhores profissionais da área, em França, e um dos pilares do jornal. Também trabalhava para o jornal «Le Canard Enchaîné»;
- Georges Wolinksi, 80 anos, cartoonista, nos anos 60 integrou a revista satírica Hara-Kiri e mais tarde tornou-se numa das figuras principais do «Charlie Hebdo»;
- Tignous, ou Bernard Verlhac, 57 anos, cartoonista, trabalhava para o Charlie Hebdo e para a «Fluide Glacial»
- Bernard Maris, ou «Oncle Bernard» (Tio Bernard), 68 anos, economista, cronista no «Charlie Hebdo» e acionista do jornal
- Philippe Honoré, 73 anos, cartoonista no jornal
- Michel Renaud, fundador do diário de viagem Clermon-Ferrand, foi chefe do gabinete do governador da capital de Auvergne
- Franck Brinsolaro, 49 anos, polícia que fazia proteção ao diretor do jornal, Charb
- Ahmed Merabet, 42 anos, polícia, membro da brigada VTT, uma brigada de polícias em bicicleta do distrito 11
- Mustapha Ourrad, corretor
- Fréderic Boisseau, agente de serviços
- Elsa Cayat, psicanalista e colunista
A identidade dos onze feridos ainda não foi confirmada pelas autoridades.