As teorias da OMS sobre as origens da covid-19, após investigações em Wuhan - TVI

As teorias da OMS sobre as origens da covid-19, após investigações em Wuhan

Laboratório de Wuhan

A OMS avança que o vírus pode ter estado em circulação entre os humanos, algum tempo antes de ter sido descoberto em Wuhan

Uma equipa de investigadores, destacada pela Organização Mundial de Saúde, completou, ao fim de 28 dias, a missão de perceber como começou a pandemia de covid-19, em Wuhan, na China.

O investigador responsável pelas doenças animais, Peter Ben Embarek, afirma que as investigações da equipa conduziram a quatro cenários possíveis principais, sobre como o Sars-CoV-2, o vírus que origina a covid-19, se "espalhou" para os humanos.

Os principais cenários

No primeiro cenário possível, traçado pelos investigadores da OMS, uma única pessoa esteve exposta ao Sars-CoV-2, através de contacto direto com a espécie hospedeira, o morcego-de-ferradura-grande. 

A OMS avança, que desta forma, o vírus pode ter estado em circulação entre os humanos, algum tempo antes de ter sido descoberto na cidade de Wuhan.

O segundo cenário, encarado como o mais provável, envolve a transmissão para os humanos através de uma espécie intermediária, que ainda não é conhecida. 

Liang Wannian, um especialista da Comissão de Saúde Nacional da China, afirma que os pangolins são potenciais candidatos, mas outros animais, incluindo visons ou até gatos, também estão na lista. 

A terceira possibilidade, admitida pelos investigadores da OMS, relata que, na sequência de um dos cenários anteriormente apresentados, o vírus pode ter sido transmitido através de produtos alimentares congelados.

Há, inclusive, alguns especialistas chineses que atribuem a origem dos surtos de covid-19, incluindo o de Wuhan, à distribuição de carne congelada contaminada.

O quarto cenário é que o Sars-CoV-2 "escapou" do Instituto de Virologia de Wuhan, que é conhecido por ter estudado vários coronavirus, em cativeiro. 

Ben Embarek descartou essa possibilidade, e afirmou que não seria objeto de mais investigação. 

Os acidentes acontecem, mas é muito pouco provável, neste caso", completou.

 

Quando começou "o surto"?

Embora os investigadores da OMS considerem "muito improvável" que, antes de dezembro de 2019, surtos de grande escala tivessem ocorrido em Wuhan ou noutra cidade chinesa, não descartam essa hipótese.

A possibilidade de ter existido transmissão direta a partir de morcegos ou espécies intermediárias sugere que a transmissão em Wuhan possa ter sido facilitada por redes de comércio de animais selvagens.

Marion Koopmans, membro desta equipa da OMS, afirmou que os animais vendidos no mercado de Huanan (em Wuhan) podem ser rastreados desde regiões que são habitats naturais de espécies de morcegos conhecidas por estarem diretamente ligadas ao Sars-CoV-2.

Uma dessas regiões é a província de Yunnan, situada no sudoeste da China. No entanto, a equipa não exclui a possibilidade da primeira transmissão humana ter acontecido na fronteira com o Laos ou o Vietname.

O papel do mercado de Huanan na pandemia

Apesar do mercado de Huanan ter estado, desde o início, efetivamente ligado aos primeiros surtos da doença, o primeiro cruzamento do vírus entre animais e humanos não aconteceu lá. 

Liang Wannian diz que não há evidências suficientes que determinem como é que o vírus entrou no mercado, mas é claro que já estava a circular noutros sítios, em Wuhan, ao mesmo tempo.

O cenário mais provável é o de que alguém, já infetado, levou o Sars-CoV-2 até ao mercado, mesmo que a possibilidade de o vírus lá ter entrado através dos produtos continue a existir.

Os resultados desta investigação alteram o "olhar político" das nações para as origens da covid-19?

A China, desde o início, mostrou preocupação em que qualquer investigação pudesse ser politizada, e deixou claro que só cooperaria caso fosse claro que a intenção não era que fossem atribuídas "culpas" pela pandemia.

Ao descartar a possibilidade de o vírus ter "escapado" acidentalmente do laboratório de Wuhan, e ao admitir que o vírus pode ter tido origem fora da China, a equipa da OMS deixa claro que não desrespeitou nenhuma das linhas "anti-culpa" de Pequim. 

Que investigação é ainda necessária?

Ben Embarek acredita que a China precisa de encontrar provas de que o novo coronavírus estava em circulação muito antes de dezembro de 2019, e deixa a "dica" de que analisar amostras de sangue dos bancos de dádiva é um bom começo.

As comunidades de morcegos que habitam perto de Wuhan têm sido apontadas como a fonte do vírus, e muito mais pode ser feito para "vasculhar" as cavernas de outras regiões, com o objetivo de encontrar possíveis vírus semelhantes ao Sars-CoV-2.

Os animais à venda no mercado de Huanan também têm de ser examinados com mais detalhe, assim como o papel dos produtos congelados nesta pandemia", concluiu Ben Embarek.

 

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