Professor universitário, crítico literário e ativista dos Direitos Humanos e pró-democracia, Liu Xiaobo morreu esta quinta-feira, aos 61 anos, num hospital do nordeste da China, onde era tratado a um cancro no fígado em fase terminal.
A morte do ativista foi anunciada pelo próprio governo chinês.
Liu Xiaobo fora transferido da prisão para o hospital na província de Liaoning no último mês. Estava detido, cumprindo uma pena de onze anos de cadeia pelo crime de "subversão".
Em 2010, Liu Xiaobo foi distinguido com o prémio Nobel da Paz, "pelo sua longa e não-violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China", como regista a Academia responsável pela atribuição do galardão anual.
Na hora da sua morte, a líder do comité Nobel norueguês acusou o governo chinês de fortes responsabilidades na morte de
Liu Xiaobo.
Achamos profundamente perturbador que Liu Xiaobo não tenha sido transferido para onde pudesse receber tratamento adequado antes de se encontrar em fase terminal. O governo chinês suporta a pesada responsabilidade pela sua morte prematura", sublinhou Berit Reiss-Andersen, através de um e-mail enviado à agência noticiosa Reuters.
Vida de contestação
Liu Xiaobo foi o primeiro Prémio Nobel a morrer privado de liberdade desde o pacifista alemão Carl von Ossietzky, que morreu em 1938 num hospital quando estava detido pelos nazis.
Liu Xiaobo foi condenado em 2009 a onze anos de prisão por subversão, depois de ter exigido reformas democráticas na China.
Liu foi um dos autores de um manifesto, a "Carta 08", que defendia o respeito pelos direitos humanos e a realização de eleições livres.
Em 2010 foi distinguido com o Nobel da Paz e na cerimónia de entrega do prémio, em Oslo, uma cadeira vazia representou Liu, já sob detenção.
Doença fatal
A 26 de junho último, o dissidente foi colocado em liberdade condicional e hospitalizado, devido a um cancro no fígado em fase terminal, diagnosticado em maio.
Os últimos exames realizados em Shenyang mostravam que o tumor tinha aumentado de tamanho. Liu sofria ainda de insuficiência renal, de acordo com o hospital, que a 8 de junho, declarou que o doente não podia ser transferido para o estrangeiro, contrariando a vontade de Liu Xiaobo de ser tratado fora da China.
Os médicos norte-americano e alemão que então observaram o dissidente chinês tinham pedido que fosse transferido "o mais depressa possível".
Críticas a Pequim
Várias organizações de defesa dos direitos humanos e próximas de Liu criticaram Pequim por ter esperado por uma deterioração do estado de saúde para colocar o dissidente em liberdade condicional, mas as autoridades afirmaram que ele estava a ser tratado por reputados médicos especialistas.
Longe de ser um gesto humanitário, a libertação de Liu foi decidida para evitar uma imagem desastrosa para Pequim: a morte de um dissidente famoso atrás das grades, de acordo com a associações de defesa dos direitos humanos.
Liu Xiaobo foi detido pela primeira vez por ligação aos protestos de 1989 na praça de Tiananmen.
Na altura professor em Pequim, participou em 1989 no movimento pró-democracia da praça Tiananmen, desencadeado pelos estudantes, e foi detido após a repressão violenta do movimento, tendo passado um ano e meio na prisão sem nunca ter sido condenado.
Encarcerado num campo de reeducação "pelo trabalho" entre 1996 e 1999 e afastado da universidade, Liu tornou-se um dos animadores do Centro Independente Pen China, um grupo de escritores.
A mulher de Liu Xiaobo continua, desde 2010, sob detenção domiciliária. De acordo com Patrick Poon, da organização Amnistia Internacional, Liu Xia nunca foi acusada formalmente de qualquer crime.