Microplásticos encontrados em fezes humanas pela primeira vez - TVI

Microplásticos encontrados em fezes humanas pela primeira vez

  • MC
  • 23 out 2018, 19:14
Estudo mostra que podemos estar "contaminados" por microplásticos

Presença de microplásticos no organismo humano pode afetar a saúde. As partículas são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e podem atingir o fígado

Um novo estudo da Agência Ambiental da Áustria concluiu que, pelo menos, 50% da população mundial está a ingerir microplásticos. Foram examinadas as fezes de oito participantes - todos de países diferentes - e foram detetadas partículas de microplásticos (menores que 5mm) em todos os casos.

Os investigadores procuraram dez variedades de microplásticos  nas amostras e encontraram nove, entre as quais polipropileno e tereflalato de polietileno. Em média, foram encontradas 20 partículas de microplástico a cada dez gramas de fezes.

A Agência Ambiental da Áustria reconhece os limites da amostra, mas considera que os resultados apresentados pedem novos estudos mais abrangentes. 

Este é o primeiro estudo desse tipo e confirma o que há muito suspeitamos: que o plástico chega ao intestino humano", afirmou o médico Philip Schwabl.

De acordo com os investigadores, a presença de microplásticos no organismo humano pode afetar a saúde. As partículas são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e de atingir o fígado. Acumulados no trato gastrointestinal, essas partículas podem interferir na resposta imunológica do intestino. Além disso, existe um grande risco de absorção de produtos químicos tóxicos e patogénicos pelo organismo.

A nossa principal preocupação é o que isso significa para o corpo humano e, especialmente, o que pode significar para pacientes com doenças gastrointestinais”, afirmou o médico Philip Schawbl, investigador da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Medicina de Viena, que liderou o estudo.

O médico acrescenta que, atualmente, “não existem estudos que respondam aos riscos que existem em ingerir esses materiais. De facto, é uma questão muito importante e estamos a planear pesquisas adicionais para mostrar os efeitos dos microplásticos na saúde humana.”

 

Para além do organismo humano, os microplásticos podem também afetar os animais. Estudos com pássaros concluíram que a ingestão de plástico transforma características internas do intestino delgado, afeta a absorção de ferro e stressa o fígado. 

Todos os participantes deste estudo são adultos saudáveis, sem nenhuma dieta médica. Dos oitos participantes, três são mulheres e cinco homens. Seis ingeriram peixe ou frutos do mar durante o período de observação e todos tiveram contacto com alimentos embalados e com garrafas de plástico. 

A maioria dos participantes bebeu líquidos a partir de garrafas plásticas, mas também foi comum a ingestão de peixes e frutos do mar. Todos os participantes tinham partículas de PP e PET nas suas amostras de fezes. Essas partículas são os principais componentes de tampas de garrafas plásticas”, afirma o médico.

Um outro estudo de cientistas sul-coreanos confirmou a presença de microplásticos no sal que se utiliza na cozinha. Os cientistas analisaram amostras de 39 marcas de 21 países da Europa, África, Ásia, América do Norte e América do Sul e apenas três amostras passaram no teste por não terem vestígios de microplásticos.

 

Combater o plástico

Todos os anos são despejados oito milhões de toneladas de plástico no mar, que acabam a ser consumidas por espécies marinhas. Dessa forma, os animais marinhos ao consumirem plástico fazem com que as partículas de microplástico entrem na cadeia de alimentar e, consequentemente, no organismo humano.

De acordo com a Associação Portuguesa do Ambiente, “há uma evidência crescente de que os organismos marinhos em todos os níveis da cadeia alimentar ingerem plásticos e microplásticos que, desta forma, entram na cadeia alimentar. A prevenção na origem é um aspeto crucial para enfrentar o desafio da poluição por micro plástico”,

“Todos os anos, uma parte muito significativa dos plásticos da indústria e dos consumidores são libertados no ambiente, estimando-se que cerca de 10% dos plásticos produzidos terminem nos oceanos e mares. Em menos de um século de existência, os detritos de plástico já representam cerca de 60 a 80% do lixo marinho”, pode ler-se no site da Associação Portuguesa do Ambiente.

Os autores do estudo austríaco sublinham a necessidade de aumentar a reciclagem e melhorar o tratamento do lixo plástico.

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