História de refugiado emociona Obama no Facebook - TVI

História de refugiado emociona Obama no Facebook

Cientista refugiado

Cientista, que sofre de cancro no estômago, vai ser recolocado em Michigan, EUA. "Estou a lutar contra o tempo"

Um cientista sírio que se prepara para ser recolocado no Michigan, EUA, contou a sua história de vida ao autor da página "Humans of New York" e conseguiu emocionar o presidente norte-americano. Barack Obama comentou a última foto publicada com a história do refugiado, dizendo-lhe que era uma "inspiração" e que "Michigan vai recebê-lo com o apoio e compaixão que merece".

A história do cientista faz parte de uma série de artigos sobre refugiados sírios que se preparam para ser recolocados nos Estados Unidos.

Em conversa com Brandon Stanton, criador da página, o cientista contou como foi crescer na sua família, conseguir tirar um doutoramento, como conheceu a mulher e como foi feliz até ao dia em que um míssil atingiu a casa onde a sua família morava, matando a sua mulher, a filha e outros cinco familiares.
 

"Os meus pais apoiaram a minha educação, mas não me direcionaram. O meu pai era agricultor e a minha mãe doméstica. Não sabiam muito sobre ciência, mas eu estava determinado a tornar-me cientista de acordo com a minha vontade. Acabei o secundário com as terceiras notas mais altas da Síria. Trabalhei nas obras à noite para pagar a escola. Licenciei-me no Top da minha turma. Foi-me dada uma bolsa para prosseguir com o meu doutoramento. Sofri pelo meu sonho."


E foi graças ao seu sonho que conheceu a mulher, enquanto esta estudava direito na mesma faculdade. 

"Construímos uma família juntos. Éramos uma família muito moderna. Tínhamos dias bons e dias maus, dias ricos e dias pobres, mas estávamos sempre juntos." 


Por isso mesmo, o cientista chegou a construir um condomínio para a família, desenhado por si e para o qual guardou dinheiro.

"O primeiro míssil passou perto da casa amarela e explodiu dentro da casa cor-de-rosa. Era um míssil anti-pessoal do governo. Não era suposto usá-los em áreas residenciais. Dentro dele estavam 116 pequenas bombas e, cada uma, estava cheia de agulhas e estilhaços. A casa rosa pertencia ao meu irmão e à sua família e ficou reduzida a escombros. O segundo míssil aterrou na casa verde, mas não explodiu. Era a minha casa. Se o míssil tivesse explodido, eu não teria filhos. Mas destruiu apenas o andar de cima, onde estava a minha mulher e a minha filha. Dezasseis pessoas morreram no ataque. Sete eram da minha família. Eu estava fora da cidade quando o míssil atingiu a minha casa. Ninguém estava por perto para ajudar, por isso o meu filho teve de carregar partes da mãe e da irmã para fora da casa."

O incidente marcou o filho, na altura com 14 anos, para sempre e, segundo o cientista, o jovem nunca mais foi o mesmo. Dois anos depois do acidente, o jovem continua a ter dificuldade em concentrar-se e continua a sofrer com o que viu.

"Ele cansa-se rapidamente. A minha filha também estava na casa e ainda tem estilhaços no pescoço. Sobrevivemos, mas morremos psicologicamente. Acabou tudo naquele dia. Era o nosso destino."


Depois do acidente, os bens que sobravam foram roubados e o cientista foi obrigado a fugir com os dois filhos. Há dois anos a viver na Turquia, onde não consegue "sequer" pagar a renda do apartamento onde vive, o sírio diz sentir-se "morto". 
 

"Não tenho vida, respeito, e os meus filhos não vão à escola. Tenho um doutoramento, mas não posso trabalhar sem visto de residência. Há uma universidade que ensina com um livro que eu escrevi, mas nem assim me dá trabalho."


Para sobreviver, o cientista acabou por começar a desenhar projetos que vende a cidadãos turcos que lhe pagam "1% do que recebem" pelos mesmos. "Têm todo o crédito e mal me pagam os custos dos materiais."

A viver num país que não é o seu, o cientista descobriu que sofre de cancro no estômago e que, apesar de ter ido a cinco hospitais diferentes, os médicos lhe dizem que "não há nada a fazer". "Especialmente porque não tenho seguro nem benefícios."
 


"Um amigo na América diz-me que se trata de uma cirurgia simples, mas estou a lutar contra o tempo. Não há nada que eu possa fazer."


Esperançoso para chegar a Troy, Michigan, o sírio diz que não quer que o mundo pense que está "acabado", porque ainda está cá.
 

"Ainda acho que posso fazer a diferença no mundo. (...) Quero apenas um sítio para fazer a minha pesquisa. (...) Só quero voltar a trabalhar. Quero voltar a ser uma pessoa."​


Opinião da qual Obama partilha e que não se coibiu de dizer ao mundo. Para o presidente dos EUA, é um orgulho receber este cientista no seu país e espera que este "continue a perseguir os seus sonhos" na sua "nova casa".
 

"Como marido e pai, não consigo imaginar a perda que sofreu. É uma inspiração. Sei que as pessoas de Michigan o vão receber com o apoio e compaixão que merece. Sim, ainda pode fazer a diferença no mundo e estamos orgulhos de que continue a perseguir os seus sonhos aqui. Bem-vindo à sua nova casa. Faz parte do que torna a América grande"


(7/7) “I still think I have a chance to make a difference in the world. I have several inventions that I’m hoping to...

Publicado por Humans of New York em  Terça-feira, 8 de Dezembro de 2015
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