Mulher libertada seis anos depois de ser condenada por sofrer aborto espontâneo em El Salvador - TVI

Mulher libertada seis anos depois de ser condenada por sofrer aborto espontâneo em El Salvador

Cindy Erazo

Desde 1998 que o país criminaliza qualquer forma de aborto. Quase 20 mulheres estão presas pelo mesmo motivo

Cindy Erazo saiu em liberdade condicional no dia 22 de setembro, depois de passar seis anos numa prisão de El Salvador sob a acusação de homicídio qualificado por dar à luz um nado-morto.

O parto, realizado de urgência, ocorreu em agosto de 2014 no centro comercial de San Salvador, capital do país. 

A mulher foi presa no local e acabou acusada de tentar interromper a gravidez e de homicídio qualificado.

As leis rígidas antiaborto de El Salvador vigoram desde 1998, decretando o aborto ilegal em todas as circunstâncias, com penas que vão desde dois a oito anos de prisão. No caso de Cindy Erazo, a pena foi mais extensa por também ter sido condenada por homicídio qualificado.

O julgamento realizou-se em 2015 e resultou numa condenação de 30 anos de prisão. A sentença foi revista um ano depois e a pena reduziu para dez anos.

Depois de algumas mulheres já terem sido libertadas, consequência da anulação das sentenças promovida por grupos de direitos das mulheres, chegou a vez de Cindy Erazo.

A mulher de 29 anos tinha autorização para visitar a família uma vez por semana. Com a regalia suspensa por causa da covid-19, a advogada do Grupo de Cidadãos pela Descriminalização do Aborto, que representa Cindy Erazo, solicitou a liberdade condicional antecipada.

A decisão judicial sustenta que a jovem cumpria várias das condições para receber o benefício, como o facto de já ter cumprido mais de metade dos 10 anos de prisão.

A liberdade de Erazo confirma que a justiça é possível se unirmos forças e isso dá-nos esperança para a liberdade de outras mulheres”, afirmou a advogada Morena Herrera em declarações à BBC.

O objetivo do Grupo de Cidadãos pela Descriminalização do Aborto é que a mulher obtenha a liberdade total, bem como as restantes 18 mulheres ainda condenadas.

Não há evidências que mostrem que Cindy tentou interromper a gravidez ou prejudicar o feto”, de acordo com a declaração do Centro de Direitos Reprodutivos, a que a BBC teve acesso.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, prometeu em junho de 2019 legalizar o aborto em casos onde a mulher esteja em risco e afirmou que nenhuma mulher deve ser presa por sofrer abortos espontâneos.

As Nações Unidas já contactaram o governo do país e pedem a libertação de mulheres condenadas por casos semelhantes, ou seja, mulheres "arbitrariamente e injustamente detidas por emergências relacionadas à saúde reprodutiva".

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