Cerca de 90 famílias da Coreia do Norte e da Coreia do Sul voltaram na passada segunda-feira a estar juntas, num encontro marcado pela emoção depois de anos de separação forçada, devido à guerra entre 1950 e 1953, que dividiu os dois países.
O grupo de 89 sul-coreanos que cruzou a fronteira para se encontrar com 185 familiares residentes no norte regressou esta quarta-feira ao seu país de origem, depois de uma despedida emotiva entre quem, nalguns casos, não se via há mais de 60 anos.
O encontro aconteceu na estância de esqui do monte Kumgang, sob a supervisão de agentes norte-coreanos. As reuniões prolongaram-se por seis sessões durante três dias, num total de 12 horas.
"Mãe, é o teu marido. É o pai!"
Um dos reencontros mais marcantes envolveu mãe e um filho que não se viam há 68 anos. Ela, Lee Keum-seom, tem hoje 92 anos e esperou 68 anos para voltar a ver o filho, Ri Sang-chol. Separaram-se quando ele tinha apenas quatro anos. Hoje, tem 71 anos.
No reencontro, as lágrimas não demoraram a aparecer e a mãe, não hesitou: abraçou-o enquanto o chamava pelo nome. O filho também chorou e mostrou-lhe uma fotografia do pai que já morreu.
Mãe, é o teu marido. É o pai!", foram as palavras, simples.
A senhora Lee tinha perdido de vista o marido e filho quando a família tentou fugir para o Sul, no final da guerra. Os dois ficaram para trás no caos, enquanto ela e filha pequena conseguiram entrar num barco.
Nunca imaginei que este dia ia mesmo chegar. Nem sabia se o meu filho ainda estaria vivo", contou a senhora Lee ao jornal The Telegraph.
As primeiras horas do reencontro entre mãe e filho transbordaram de perguntas. "Quantos filhos tens?", perguntou Lee a Ri.
À volta deles, outros parentes também choravam e tentavam desesperadamente recuperar ao máximo o tempo perdido. Alguns estavam em cadeiras de rodas e outros foram mesmo incapazes de reconhecer os familiares.
Baek Sung-gyu, de 101 anos, conheceu pela primeira vez a sua nora, Kim Myong-sun, de 71 anos, que lhe entregou uma fotografia do filho, já falecido.
É uma foto velha, então trouxe-te uma cópia", disse a nora.
Antes da longa viagem de autocarro de regresso, Baek disse à nora que lhe tinha levado roupas, 30 pares de sapatos, escovas de dentes, como presentes para ela e para a neta.
Trouxe tudo porque é a minha última vez que te vou ver."
Tempo curto para sobreviventes
A iniciativa agora levada a cabo integra uma nova série de encontros de famílias separadas pela guerra e decorre no quadro da reaproximação entre Seul e Pyongyang, iniciado este ano.
Desde 2000, que os governos das Coreias têm vindo a organizar encontros de famílias divididas, no entanto, 65 anos depois da separação dos dois países, o tempo é curto para os sobreviventes.
As reuniões são profundamente marcadas pelas fortes emoções, uma vez que a maioria dos participantes tem idades avançadas e anseiam rever os seus familiares pelo menos mais uma vez antes de morrer.
Inicialmente, 130 mil sul-coreanos eram candidatos a participar nos encontros, mas uma imensa maioria já morreu e grande parte dos sobreviventes tem mais de 80 anos. Este ano, o mais velho tem 101 anos.
Alguns dos selecionados, num processo aleatório para o encontro deste ano, desistiram ao saber que os familiares do outro lado da fronteira já tinham morrido.
Assim, para alguns parentes separados, agora com mais de 70 anos, a reunião já chegou tarde demais.
Chung Hak-soon, de 89 anos, sonhou toda a vida com o reencontro com o irmão mais velho, quando soube que ele já tinha morrido.
Eu queria tanto ver o rosto do meu irmão, mas a reunião chegou tarde demais", contou Chung.