Covid-19: sistema de saúde da Guiné-Bissau pode colapsar, alerta ONU - TVI

Covid-19: sistema de saúde da Guiné-Bissau pode colapsar, alerta ONU

  • .
  • RL
  • 29 mai 2020, 10:21
Guiné-Bissau

Guiné-Bissau tem o segundo sistema de saúde mais frágil do mundo

O sistema de saúde da Guiné-Bissau pode colapsar devido à pandemia do novo coronavírus, que já infetou quase 1.200 pessoas no país e provocou oito vítimas mortais, alertam as Nações Unidas.

"Se em tempos normais, o sistema de saúde local é altamente frágil, com a covid-19 pode colapsar", adverte um relatório sobre o impacto socioeconómico da covid-19 na Guiné-Bissau, divulgado pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento.

Segundo dados do relatório, a Guiné-Bissau tem o segundo sistema de saúde mais frágil do mundo, a seguir à Somália, e tem várias doenças infecciosas, incluindo os valores mais altos de prevalência de sida e tuberculose da África Ocidental.

Este é o resultado de décadas de pouco investimento no sistema de saúde", pode ler-se no relatório.

Segundo o documento, a falta de investimento no setor da saúde, aliada a infraestruturas precárias e a greves constantes, "constituem obstáculos substanciais a intervenções de resposta adequadas para impedir a propagação do vírus".

Como o sistema de saúde é frágil, não atinge a maior parte da população, está fadada ao colapso assim que houver transmissão comunitária", salienta-se no documento.

Na Guiné-Bissau há um médico por quase 6.000 habitantes, não há especialistas em unidade de cuidados intensivos e a produção de oxigénio não é assegurada no principal hospital do país, o Hospital Nacional Simão Mendes. Fora da capital guineense ainda não existe um estabelecimento hospitalar preparado para tratar casos de covid-19.

No relatório salienta-se que a comunidade internacional está a tentar equipar o país com o material necessário, apesar da escassez existente no mercado internacional.

"A disseminação da covid-19 na Guiné-Bissau é difícil de conter", alerta o relatório, salientando que o Laboratório Nacional de Saúde Pública tem dificuldade em fazer testes diários devido à rápida propagação da doença.

Para o aumento de casos de infeções por covid-19 na Guiné-Bissau, segundo o documento, contribuem também o estigma social associado à doença e as dificuldades económicas da população para cumprir com o isolamento e quarentena e a crise política que está a criar uma "profunda desconfiança" no sistema e controlo públicos.

Em África, há 3.790 mortos confirmados em mais de 129 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

Na Guiné-Bissau muitas crianças podem não voltar à escola e migração pode aumentar

 Muitas crianças da Guiné-Bissau podem não regressar à escola e a migração deverá aumentar devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus, segundo um relatório divulgado pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento.

Algumas crianças podem não regressar à escola e as meninas estão desproporcionalmente em risco de desistir. Muitas famílias veem a sua atividade económica interrompida e as mais vulneráveis recorrem ao trabalho infantil ou casam as filhas para lidar melhor com a crise", pode ler-se no relatório, que analisa o impacto socioeconómico da covid-19 na Guiné-Bissau.

Com um dos índices de desenvolvimento humano mais baixos do mundo, na Guiné-Bissau a maior parte dos alunos não termina o quarto ano de escolaridade e quase metade das crianças nunca foram à escola.

No âmbito do combate e prevenção à covid-19, as autoridades guineenses encerraram as escolas por tempo indeterminado.

A falta de dispositivos tecnológicos e o elevado custo de acesso à Internet torna a educação em casa numa opção não viável para a população em geral", refere-se no relatório.

No documento salienta-se também que o encerramento das escolas e a falta de perspetivas de emprego devido ao surto de covid-19 pode levar à radicalização dos jovens e à migração.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 357 mil mortos e infetou mais de 5,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.

Continue a ler esta notícia