Uma pequena vila no topo de uma colina, em Itália, foi transformada num autêntico laboratório humano, na esperança de ajudar a resolver alguns dos mistérios em torno do novo coronavírus.
Tudo começou na semana passada quando a vila de Nerola, nos arredores de Roma, foi declarada como zona vermelha, depois de terem sido confirmados 77 casos de Covid-19.
De acordo com a BBC, o vírus começou num lar de idosos, fazendo dois mortos, e rapidamente se propagou pelo resto da povoação, sem que os profissionais de saúde se apercebessem.
Depois, Nerola foi bloqueada pelo exército e as 1.800 pessoas que lá vivem colocadas em quarentena.
O porta-voz das autoridades de saúde italianas justifica a decisão na sequência do número de infetados ser muito grande em comparação com a população da vila.
Não podíamos arriscar que o vírus se propagasse mais", explicou o porta-voz.
A quarentena decretada em Nerola não permite que a população saia de casa para fazer compras ou ir à farmácia, pelo que é o exército quem se encarrega das tarefas.
Estamos muito confusos. As pessoas ligam-me e perguntam: estamos doentes? O que se passa? E eu respondo: está tudo bem. Temos que fazer isto pela vossa segurança, é o nosso sacrifício", contou a autarca de Nerola.
Um dos habitantes contou aos jornalistas, através de videochamada, que as pessoas estão assustadas com a situação.
Temos medo porque muitos dos habitantes são idosos", disse Marco.
Também uma médica que trabalhava no lar de idosos quando este foi afetado pelo coronavírus, está agora em isolamento domiciliário e contou como foi.
Aconteceu tudo muito depressa. Estou muito preocupada com eles, até temos uma utente com 104 anos. No início nem parecia coronavírus, até que o exército chegou e disse: ninguém pode entrar, nem ninguém pode sair", contou a médica.
Assim, autoridades de saúde italianas transformaram Nerola num laboratório humano e todas as pessoas estão a ser testadas.
Com esta decisão esperam aprender quantas pessoas estão infetadas, como o vírus se distribui pela população e quais são os sintomas mais predominantes.
Depois, a população de será cobaia de "possíveis tratamentos" para o coronavírus
O nosso sacrifício vai ser usado por toda a comunidade científica", disse a autarca.
O bloqueio a Nerola levou a uma tentativa das autoridades apagarem a pequena vila do mapa. De acordo com a autarca, o exército chegou mesmo a tirar as placas de sinalização com o nome da povoação. A sinalização foi mais tarde reposta pela própria autarca, que não concordou com a situação.
Ninguém nos pode apagar. Nós estamos aqui, existimos, estamos vivos e queremos continuar a estar vivos!", protestou.
Itália continua a ser o país com mais mortes por Covid-19 no mundo, com 15.877 óbitos.
A pandemia já matou pelo menos 70 mil pessoas em todo o mundo desde que a doença surgiu em dezembro na China.
De acordo com a AFP, morreram 70.009 pessoas, 50.215 das quais na Europa, o continente mais afetado, e há mais de 1.277.580 casos de infeção em 191 países.