Justiça abre investigação a presidente do Brasil - TVI

Justiça abre investigação a presidente do Brasil

  • Atualizada às 19:52
  • 18 mai 2017, 16:18
Michel Temer

Supremo decidiu abrir inquérito à alegada aprovação de Michel Temer ao pagamento de subornos. Passa a ser formalmente investigado na Operação Lava Jato. Presidente deverá falar ao país às 16:00 (20:00 em Lisboa). Ministros demitem-se

O juiz do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decidiu abrir um inquérito ao presidente brasileiro Michel Temer. Em causa, a sua alegada anuência à continuação do pagamento de subornos por parte do empresário Joesley ao detido ex-deputado Eduardo Cunha.

A reunião ocorreu a 7 de março. Joesley e o irmão Wesley, patrões da JBS, de processamento e venda de carne congelada, terão gravado a conversa, na qual, segundo adiantou a Rede Globo, revelaram ao presidente que continuavam a pagar subornos mensais ao antigo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Precisamente, quem deu o tiro de partida para a destituição da anterior presidente Dilma Rousseff.

Temer confirmou a reunião. Mas negou ter dado o aval ou incentivado a continuação do pagamento de subornos.

Entretanto, a Rede Globo divulgou imagens de alegados pagamentos de subornos a pessoas de confiança do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves, que já foi destituído do cargo por ordem do Supremo Tribunal e cuja irmã, Andrea, foi mesmo detida.

Os principais meios de comunicação referem que o presidente Michel Temer deverá, ainda esta quinta-feira, falar ao país. As 16:00 de Brasília - 20:00 em Lisboa - são o momento em que se deverá explicar. Para insistir e voltar a negar qualquer ingerência em situações de subornos, ou para assumir qualquer outra posição. Resta saber qual.

Demissão de ministros

Michel Temer terá convocado de urgência o núcleo duro dos seus ministros para avaliar a situação. Com ele estará também, segundo a Rede Globo, o antigo presidente José Sarney.

A presidência brasileira já pediu a gravação da reunião que terá sido feita pelo empresário Joesley Batista.

De acordo com O Globo, há entretanto baixas no seu governo: o ministro das Cidades, Bruno Araújo, decidiu deixar o executivo e também Aloysio Nunes, titular das Relações Exteriores terá pronta a sua carta de demissão, segundo a revista Época Negócios.

A crise teve já como repercussão um abalo nos mercados financeiros. E no plano judicial, em torno da Operação Lava Jato, que investiga uma enorme rede de corrupção no Brasil e além fronteiras, o Supremo avançou com mais mandados de busca e de detenção.

No plano político, o cenário de eleições ganha força. De acordo com a imprensa, o antigo presidente Lula e alguns conselheiros seguem atentamente a situação em S.Paulo. Noutros lados da barricada, há quem se prepare, nem que seja, para uma sucessão de Michel Temer no formato de eleição indireta. Ou seja, escolhido pelos deputados e senadores.

A sugestão de renúncia de Temer começa a ganhar cada vez mais força, enquanto se esperam pelas explicações do presidente. Vem mesmo do antigo titular do cargo, Fernando Henrique Cardoso, que usou o Facebook para o efeito. Mesmo sendo conhecido como um dos que sempre apoiaram o senador Aécio Neves, também ele fortemente apanhado nos mais recentes episódios da novela político-judicial que se agudiza no Brasil.

Pedido o impeachment 

Além das sugestões de demissão, certo é que a exigência da sua destituição já foi assumida. Seja pelo deputado Alessandro Molon, do partido Rede, que terá requerido a abertura de um processo de impeachment na secretaria-geral da câmara baixa do parlamento, seja pelos milhares de brasileiros que saíram às ruas, quarta-feira à noite, especialmente na grande S.Paulo, pedindo o afastamento de Michel Temer.

Temer foi acusado quarta-feira, no Globo, pelo jornalista Lauro Jardim, de ter sido gravado a aconselhar o patrão da empresa JBS, um "gigante" industrial da produção e distribuição de carnes processadas, embaladas e congeladas, a manter o pagamento de "propinas" - "luvas" ou subornos, no Português deste lado do Atlântico - a Eduardo Cunha. Nem mais, nem menos, que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, detido no âmbito da Operação Lava Jato, que iniciou o processo de destituição da anterior presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

"Tem que manter isso, viu!"

Michel Temer confirmou o encontro com Joesley e com o irmão Wesley, patrões da JBS, uma das duas maiores empresas de produção, venda e exportação de carnes, recentemente alvo de investigação por suspeitas de adulteração dos produtos e subornos.

A 7 de março, o empresário Joesley Batista encontrou-se com Michel Temer no Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente brasileiro. Aí, contou aos presentes que continuava a pagar ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro Lúcio Funaro uma mensalidade, para evitar que contassem o que sabiam à Justiça.

Tem que manter isso, viu!", terá sido a frase do presidente, que o empresário - entretanto, ao que se sabe, refugiado nos Estados Unidos - gravou.

O registo da reunião ainda não foi ouvido publicamente, mas será do conhecimento da Justiça brasileira, tendo sido revelado pelo colunista Lauro Jardim.

Temer resiste

A divulgação de que o presidente, mais do que concordara, incentivara o empresário Joesley a pagar o silêncio do detido deputado Eduardo Cunha, abriu novas diligências no âmbito da operação que investiga o mega-escândalao de corrupção, conhecido por Lava Jato. Temer passou mesmo a ser investigado por decisão do Supremo, sendo que ao início do dia mantinha a sua resistência face às acusações.

É uma conspiração. Não vou cair!", terá sido a frase dita ao início da manhã de quinta-feira por Michel Temer, na primeira e única audiência que manteve como presidente do Brasil, numa jornada em que tinha agendadas 18 reuniões. Recebeu senadores do recôndito estado do Acre e segundo o interlocutor, citado pelo jornal Estadão, terá sido o próprio a puxar pelo assunto que mantém o país em brasa desde quarta-feira.

Fomos lá para ter uma audiência e ele perguntou: Vocês viram o que aconteceu?”, relatou o senador Sérgio Petecão, que esteve na primeira e única audiência até agora ocorrida.

Segundo o mesmo, Temer não mencionou o nome do senador Aécio Neves, igualmente visado na gravação feita pelo empresário Joesley Batista e aparentemente envolvido nos esquemas de subornos.

Prisões em curso

Aécio Neves, líder do Partido da Social Democracia Brasileira, por decisão do Supremo Tribunal Federal, já foi afastado do Senado. E está em risco de ser detido, tal como a sua irmã, Andrea, que já o foi.

Em causa, as declarações de Joesley Batista, da empresa de carnes JBS, para o mega-processo de corrupção Lava Jato. Em formato de "delação premiada" - quando o arguido acede a revelar o que realmente sabe, em troca de atenuantes - o empresário terá contatado e gravado o senador Aécio a pedir dois milhões de Reais (528 mil euros).

Com a revelação de que a conversa foi gravada, a Procuradoria brasileira mandou deter a irmã de Aécio, Andrea, alegadamente envolvida no esquema e até pediu a prisão do senador. Só uma decisão do relator da operação Lava Jato impediu a concretização dessa outra detenção, porque requereu que seja o Supremo a deliberar sobre a medida.

Procurador também detido

Detido também, já esta quinta-feira, foi o procurador Ângelo Goulart Villela, destacado no Tribunal Superior Eleitoral, por suspeitas de tentar travar a "delação premiada" do empresário das carnes, Joesley Batista.

A decisão foi do procurador-geral, Rodrigo Janot. Que mandou também deter o advogado Willer Tomaz, próximo do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o tal ex-deputado que receberia subornos do empresário das carnes, Joesley Batista. Para se manter calado e não colaborar com a Justiça, algo que o próprio presidente do Brasil teria abençoado, a fiar na noticiada gravação de uma conversa entre ambos.

Eduardo Cunha está detido, mas parece ser a chave-mestra do processo de corrupção conhecido por Lava Jato. Já terá ameaçado falar à Justiça e contar o que sabe, envolvendo mesmo o presidente Michel Temer.

Cunha disse já na prisão que ficaria conhecido como o político que derrubou dois presidentes: foi ele quem autorizou a tramitação do processo de impeachment de Dilma Rousseff, como presidente da Câmara. O outro alvo é Michel Temer", escreve a jornalista Andreza Matais, na sua coluna online no influente jornal de S. Paulo, Estadão.

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