O cenário é devastador. O sistema de saúde há muito que colapsou, não há camas, oxigénio nem medicamentos que chegue. O panorama é apocalíptico e a nova vaga que abalroou a Índia está longe de abrandar.
O desespero é tanto que os médicos e enfermeiros em final de curso viram os seus exames ser adiados para poderem ir combater a covid-19 na linha da frente. Significa isto que o governo indiano meteu ao serviço profissionais de saúde sem licença.
Ninguém deveria morrer por falta de oxigénio. Noutras circunstâncias, é uma coisa pequena, mas nos dias de hoje, é a única coisa que todos precisamos", disse à agência Reuters Gurpreet Singh Rummy, um voluntário.
Os hospitais estão sobrelotados e os crematórios e as morgues estão atoladas de corpos. Os doentes morrem em camas de hospitais, em ambulâncias e nos parques de estacionamento exteriores.
Numa altura que o número de infeções está perto dos 20 milhões, depois do 12.º dia consecutivo com mais de 300.000 novos casos de covid-19, o governo liderado por Narendra Modi decidiu adiar os exames finais de médicos e enfermeiros estagiários, para permitir que se juntem na luta contra o vírus.
Na capital, Nova Deli, pediu ao Exército que desse apoio nos centros de tratamento e nas unidades de cuidados intensivos.
Modi foi amplamente criticado por não ter agido atempadamente e por ter permitido que milhões de pessoas marcassem presença em festas religiosas e comícios políticos em grande escala, durante os meses de março e abril.
Como sinal de esperança, o ministro da saúde indiano disse que pela primeira vez desde 15 de abril, o número de casos positivos em comparação com o número de testes caiu.
Os especialistas locais dizem que o pico desta nova vaga pode ser atingido na próxima quarta-feira, dia 5 de maio. Uns dias mais cedo que a última estimativa. No entanto, também dizem que o número de mortos pode ser muito superior ao revelado diariamente, porque há muita gente a morrer em casa sem cuidados médicos.
A variante indiana já atingiu pelo menos 17 países, o que levou muitos deles a fechar as suas fronteiras com o país.
Desde o início da pandemia, a Índia acumulou 218.959 óbitos e mais de 19,9 milhões de infeções, sendo o segundo país do mundo com mais casos, atrás dos Estados Unidos, e o quarto com mais óbitos, depois de EUA, Brasil e México.
Cerca de 9,3% da população já tomou pelo menos a primeira dose da vacina, contra 2% que já tem a vacinação completa.