Um terço dos migrantes que chegaram nos últimos tempos ao campo de Aceh, na província de Kuala Cangkoi, são crianças. Crianças que fazem parte de uma minoria muçulmana, sem espaço no seu país, escreve a agência Associated Press.
Sem pai nem mãe, por vezes irmãos, deixaram a sua terra, tal como os adultos, em busca de um destino melhor. As que não foram raptadas entraram nos barcos de livre vontade para ficarem aprisionadas aos traficantes. Prometeram-lhes tudo mas não lhes deram nada. E ainda as abandonaram no mar. As que foram tiradas às suas famílias podem render resgates aos traficantes.Passaram quase três meses em alto mar, com fome, sede e acocoradas. De tal forma acocoradas, que sempre que tentavam esticar as pernas ou cometer a ousadia de se levantarem eram espancadas.
Empunhando armas e ameaçando atirar borda fora quem causasse problemas, a sobrevivência no barco dependia da resignação. E de conseguirem sentar-se e estar quietos.
Segundo os seus relatos, o calor no barco era tão opressivo que o suor e os vómitos tornavam o ambiente nauseabundo. Como se não bastasse tudo o resto. Com sorte, comiam umas colheres de sopa de arroz duas vezes por dia. Mas sorte mesmo era não morrer, de febre, diarreia e desidratação.
Nas últimas semanas, mais de 3.000 muçulmanos Rohingya e Bangladeshis fugiram de Myanmar, segundo a Organização Internacional para as Migrações. Mais de metade foram acolhidas pela Indonésia, 170 eram menores a viajar sozinhos.
“A vulnerabilidade destas crianças não pode ser desvalorizada”, defende o responsável da OIM na Indonésia, Steve Hamilton. “As dificuldades por que passaram em tão tenra idade são de partir o coração”, acrescentou.