Crescem tendências suicidas entre os filhos da guerra na Síria - TVI

Crescem tendências suicidas entre os filhos da guerra na Síria

  • Paulo Delgado
  • 7 mar 2017, 11:28
Crianças - Síria

Crianças que só conheceram o país em guerra sofrem de "stress tóxico". Estudo realizado no terreno mostra que danos psíquicos causados a milhões pode ser irreversíveis

Doze anos de idade, seis de guerra sem quartel na Síria, o menino identificado como Zeinad foi um dos mais de 450 entrevistados pelas equipas da organização Save the Children. Vive num campo de refugiados, em Hassakeh, no nordeste do país, com certezas sofridas e questões preocupantes.

Se eu chegar a velho e continuar nesta situação vou perder todo o meu futuro?", diz Zeinad, contando na entrevista que "quando a guerra começou, todas as crianças sírias esqueceram tudo o que aprenderam. Agora não conhecem nada além da guerra. Vi tantas coisas terríveis. Perdi dois anos de escola e meu irmão cresceu e quase não estudou".

No terreno, em 14 províncias do país, as equipas da Save the Children ouviram mais de 450 crianças, adolescentes e adultos, entre dezembro e janeiro últimos, após seis anos de guerra.

Sabe-se que, pelo menos, três milhões de crianças vivem em zonas constantemente alvejadas e bombardeadas na Síria. E há também, pelo menos, três milhões de meninos e meninas com menos de seis anos que não conhecem mais nada do que a guerra.

Auto-mutilação e suicídio

O estudo da Save the Children revela que muitas crianças sírias tentam a auto-mutilação e o até o suicídio como resposta ao chamado "stress tóxico" causado pela guerra.

Mais de 70% das crianças sofre de enurese, incontinência urinária involuntária, e metade das que foram ouvidas confessa não se sentir segura na escola. Mais. Quatro em cada dez mostra também medo de brincar no recreio e aumentam os casos de distúrbios da fala.

Os peritos da organização Save the Children alertam para o perigo de se ter chegado a um ponto crítico. Se a guerra não terminar em breve e as crianças não receberem apoio psicológico será muito difícil reparar os danos causados quando chegarem à idade adulta.

"Risco nunca foi maior"

O relatório da Save the Children reclama a todas as partes envolvidas na guerra na Síria para atentarem nos problemas causados, sobretudo às crianças a nível psicológico.

Depois de seis anos de guerra, estamos num ponto de inflexão. O impacto nos anos de formação e desenvolvimento infantil pode ser tão grande que os danos podem ser permanentes e irreversíveis", alertou Marcia Brophy, da organização.

De acordo com o relatório, 80% dos entrevistados reconhecem que as crianças se tornaram mais agressivas com o passar dos anos da guerra.

O risco de uma geração perdida por trauma e stress extremo nunca foi maior", avisa Marcia Brophy, da Save the Children, lembrando que muitas das crianças da Síria tiveram de "testemunhar a morte dos seus pais mortos à sua frente, sobrevivendo num cerco, sem apoio adequado".

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