Covid-19: o "último cruzeiro" chegou finalmente a bom porto - TVI

Covid-19: o "último cruzeiro" chegou finalmente a bom porto

Viagem no MSC Fantasia tornou-se uma aventura

MSC Magnifica partiu da Europa em janeiro quando a pandemia era ainda apenas uma "pneumonia desconhecida"

Podia ter sido uma viagem de sonho, mas tornou-se numa aventura. O MSC Magnifica, um dos três cruzeiros ainda em navegação, atracou esta segunda-feira em Marselha depois de ter partido de Génova, em Itália, a 5 de janeiro.

Quando, no início do ano, os 1.760 passageiros entraram no cruzeiro a pandemia Covid-19 aida não tinha nome e era apenas uma "pneumonia desconhecida" que tinha infetado 59 pessoas em Whuan. Mas a realidade mudou e muito.

De acordo com a BBC, ao deixar a Europa, o MSC Magnifica tinha ao comando o capitão Roberto Leotta, com 32 anos de experiência e uma rota totalmente definida.

A primeira paragem foi Cabo Verde e depois rumou para o Brasil, mas quando aí chegou já o novo coronavírus não era uma realidade apenas chinesa. 

No entanto, foi apenas a 21 de fevereiro, já depois de ter deixado o Chile, que a situação se complicou. Os portos começavam a fechar, a propagação do virus estava descontrolada e as notícias que chegavam de cruzeiros não eram animadoras, havendo já vítimas mortais. 

A 2 de março, o porto da ilha de Aitutaki deveria estar pronto para receber os passageiros do MSC Magnifica, mas isso não aconteceu. Os cerca de dois mil habitantes mostraram-se preocupados e o cruzeiro acabou por atracar na capital Rarotonga, a maior das Ilhas Cook. 

Era a primeira grande mudança de rota provocada pela Covid-19. Seguiu-se o porto de Auckland, na Nova Zelândia. E se até à Austrália o percurso foi pacífico, a partir de aí as coisas começaram a mudar.

"Não tínhamos para onde ir"  

A 14 de março, o destino do cruzeira era a Tasmânia, ilha que contava (à altura) com seis casos confirmados e o panorama mundial piorava a cada dia. O cruzeiro teve permissão para atracar, mas o capitão sabia que pisar a terra era um risco. 

"Decidimos que seria muito melhor que os nossos passageiros se mantivesse seguros dentro do navio", explicou à BBC Roberto Leotta. "Era claro, que não tínhamos para onde ir".

Já em Sydney, chegou a confirmação: o cruzeiro tinha terminado. O objetivo era agora que toda a gente regressasse a casa. Uma situação que mudou os planos de muitos passageiros, como foi o caso de Andy Gerber, de 69 anos. 

"Há algum tempo marquei um churrasco para celebrar com imensos amigos", Andy fazia 70 anos e queria festejar em Sidney. Acabou por passar o aniversário naquele que era já o seu 20.º cruzeiro. "Primeiro achei terrível, mas depois do choque percebi que devíamos estar gratos ao capitão por não nos deixar sair, estávamos 99,99% mais seguros.

Depois de cancelado, os passageiros foram autorizados a desembarcar, sob regras restritas. Centenas deixaram o barco, mas a maioria acabou por ficar dentro do MSC Magnifica.

A rota inicial apontava que o rumo seria para Norte, mas o cruzeiro navegou para sul e atracou em Fremantle, na Austrália. Um porto que tinha como único objetivo reabastecer, mas nem tudo foi fácil. 

O navio teve de apresentar ao porto todos os registos médicos, para provar que não havia qualquer caso de Covid-19. Registos esses que mostravam que 250 pessoas tinham visitado a ala médica, mas para analgésicos ou curativos. No entanto, não foi essa a informação que chegou à população.

"Atualmente, mais de 250 passageiros apresentaram doenças respiratórias", anunciou o presidente da Austrália Ocidental, Mark McGowan. "Não vamos permitir que passageiros ou tripulantes andem pelas ruas. Esta é uma posição inegociável".

Ainda assim, o cruzeiro atracou em Fremantle, tendo sido recebido pela polícia para garantir que ninguém saía e por diversos manifestantes que deram as boas-vindas aos passageiros com duras palavras e cartazes que pediam que o navio voltasse para casa. 

"Foi decepcionante. Era notícias falsas, estavam erradas, e foram publicadas em todo o mundo de uma forma muito rápida", desabafou o capitão Leotta.

Os passageiros continuavam assim dentro do navio, um desafio também para quem está à frente da cozinha. Anura Herath é natural do Sri Lanka e chef no cruzeiro há quatro anos. Pediu para não voltar à Europa. 

A incerteza sobre a quarentena fez com que o chef movesse mundos e fundos para ficar em Colombo, umas das paragens do MSC Fantasia. Mas Sri Lanka não permitia que ninguém desembarcasse. 

A 4 de abril gravou uma mensagem, com pouco mais de um minuto, onde pedia ao presidente e ao primeiro-ministro do Sri Lanka que o deixassem sair, já que era o único cidadão a bordo. Rapidamente, a mensagem espalhou-se pelo Facebook e foram muitas as solicitações que chegaram a pedir para falar com o chef. 

"Políticos, marinha, exército, ligaram-me tantas" disse. "Todos os habitantes do Sri Lanka me ajudaram"

A mensagem chegou e quando o Magnifica atracou em Colombo para reabastecer, a Marinha trouxe Anura para terra. Além do chef, acabou por também por sair uma cidadã alemã de 75 anos que precisava de cuidados urgentes. Acabou por morrer no Sri Lanka. Anura ficou em quarentena na base naval. 

O MSC Magnifica atracou esta segunda-feira em Marselha, tal como o Pacific Princess, que atracou em Los Angeles, e com o Costa Deliziosa que atracou em Barcelona (sendo que ainda viajará até Genoa para deixar passageiros).

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