O que se sabe sobre a família que mantinha os 13 filhos presos em casa - TVI

O que se sabe sobre a família que mantinha os 13 filhos presos em casa

As fotografias mostram uma família aparentemente feliz. Mas seria apenas mais um engano das redes sociais. Dentro de portas, os 13 filhos de David e Louise viveriam um verdadeiro horror

Desde o último domingo, altura em que a polícia entrou na casa de David e Louise, em Perris, no Sul da Califórnia, que as informações sobre o caso surgem a conta gotas. Sabe-se que seria uma família profundamente religiosa, que passava, nas redes sociais, a imagem da família perfeita e feliz. Mas, dentro de portas, os 13 filhos, com idades entre os dois e os 29 anos, viviam um autêntico horror. 

Há ainda muito por explicar sobre o caso, sobretudo quanto tempo durou a tortura e que motivos levaram David e Louise a manter os filhos em cativeiro, acorrentados e sem alimentação adequada. 

O que se sabe sobre o caso

A escola

A casa onde vivia o casal Turpin e os 13 filhos estava registada como uma escola privada, da qual o próprio David Allen Turpin, de 56 anos, seria o diretor. Mas a escola apenas tinha seis alunos registados. Precisamente seis dos 13 jovens encontrados acorrentados e com sinais de subnutrição, no último domingo, pelas autoridades. De acordo com as autoridades, nenhuma outra criança, exterior à família, estava ou esteve alguma vez inscrita nesta escola.

A escola, chamada Sandcastle Day School (traduzido para português é qualquer coisa como “Escola Castelo de Areia”), teve seis crianças matriculadas no ano letivo de 2016/2017, uma em cada ano letivo: quinto, sexto, oitavo, nono, 10º e 12º ano.

Seriam os pais os professores dos próprios filhos. A instituição nunca terá sido visitada por qualquer autoridade ou entidade fiscalizadora ligada à proteção de crianças ou ao departamento de Educação do Estado da Califórnia. As crianças nunca terão sido vistas por um professor ou por qualquer assistente social.

Especialistas em prevenção de abusos de crianças, citados pela imprensa, alegam que a escola pode ter ajudado a esconder a situação vivida pelos irmãos. “[Turpin] fundou a própria escola para que as crianças fossem registadas sem terem de ser vistas por ninguém”, disse Sherryll Kraizer, fundadora da associação Coalition for Children.

Susan von Zabern, diretora dos serviços sociais de Riverside, assegura que esta foi “a primeira oportunidade” que tiveram de intervir junto da família.
 

As condições em que estavam os irmãos

De acordo com as autoridades, as condições em que estavam os 13 irmãos eram “horríveis”. Descrevem um cheiro nauseabundo e crianças tão desnutridas que aparentavam ser muito mais novas do que a sua real idade.

Se conseguirem, imaginem ter 17 anos e aparentar ter 10, estar acorrentado a uma cama, subnutrido e com ferimentos associados a isso. A isso chamamos tortura”, disse o capitão Greg Fellows, da polícia do condado de Riverside, em declarações aos jornalistas.

O responsável da polícia descreve a reação da mãe, ao ver as autoridades em casa, como sendo de perplexidade, não vendo razões para uma visita da polícia.

Não posso entrar nos detalhes da conversa, mas pareceu que a mãe ficou perplexa diante da razão pela qual estávamos na casa."

Fellows acrescentou que não foram encontradas evidências de abuso sexual ou doença mental em nenhum dos jovens ou das crianças. Por enquanto. O agente sublinha que a investigação ainda agora começou.

Os problemas financeiros

A família viveu no Texas durante muitos anos. Mudaram-se para a Califórnia em 2010. David Turpin era engenheiro e tinha um emprego relativamente bem remunerado. Ganharia 140 mil dólares por ano. Louise cuidava da casa e dos filhos.

Apesar do salário de David ser bom, os problemas financeiros começaram a surgir. Com 13 filhos, as despesas eram maiores que o salário de David e a família viu-se obrigada a declarar insolvência por duas vezes.

O casal tinha uma dívida de cerca de 240 mil dólares (cerca de 196 mil euros), sobretudo em cartões de crédito.

Uma família sorridente na Disneyland

O cenário descrito pela polícia contrasta com as imagens publicadas nas redes sociais. As fotografias mostram sempre uma família sorridente e aparentemente feliz, quase sempre com roupas a condizer, em viagens a locais icónicos como Las Vegas ou a Disneyland.

Família Turpin, durante uma visita à Disneyland. (Reprodução Facebook)

As crianças aparecem nas imagens algo pálidas e magras, mas com um ar feliz. É comum a indumentária a condizer. A avó garante que assim era mais fácil não perderem nenhuma. “Eles eram muito protetores em relação aos filhos”, disse, à CNN.

Ivan Trahan, um advogado que representou o casal na sua última declaração de falência, disse ao jornal Los Angeles Times que ele e a mulher sempre viram os Turpin como "pessoas muito agradáveis, que falavam muito bem dos seus filhos".

Uma família profundamente religiosa

Os avós paternos das crianças relatam que há alguns anos tinham perdido contacto com os netos. Falavam ao telefone com o filho e a nora, mas nunca com os netos. Ou seja, David e Louise só ligavam quando não estavam com os filhos.

A última vez que viram as crianças foi há quatro ou cinco anos, quando os foram visitar pela última vez. Nessa altura, contam, os netos “pareciam magros”, mas asseguram que viram uma “família feliz”.

James e Betty contam que os 13 irmãos tinham uma “educação em casa muito rigorosa”. Sabiam longas passagens da Bíblia e alguns queriam mesmo memorizá-la toda.

Terá sido precisamente a sua profunda religiosidade que os levou a ter tantos filhos. Diziam que tinham “recebido um chamamento de Deus”.

Contudo, alguns testemunhos ouvidos pela imprensa estranham que uma família tão religiosa não fosse vista mais vezes na igreja.

Apaixonados e fãs de Elvis

Além de profundamente religiosos, David e a mulher eram fãs incondicionais de Elvis Presley.

Uma das provas desses gostos musicais é o vídeo postado online da sua renovação de votos, aquando dos 26 anos de casamento, na Capela do Elvis, em Las Vegas, em 2011.

Família Turpin, durante a renovação dos votos, em Las Vegas, em 2016. (Reprodução Facebook)

No vídeo, David oferece uma aliança à mulher, antes de dançarem, apaixonados, ao som de “Fools Rush In”.

Voltaram a repetir essa renovação de votos no ano passado. Sempre na presença dos filhos. As meninas vestidas de igual, mesmo as mais velhas com vestidos algo infantis, e os rapazes com gravatas a condizer com os vestidos das irmãs.

O que ainda falta explicar

Os motivos

As autoridades continuam sem qualquer pista sobre as razões que levaram David A. Turpin e Louise Anna Turpin, de 49 anos, a manter os filhos enclausurados, acorrentados e subnutridos durante anos.

Gostaria de estar aqui, perante vós, com informações que explicassem porque é que isto aconteceu”, admitiu o capitão Greg Fellows, da polícia do condado de Riverside, em declarações aos jornalistas.

Precisamos é de reconhecer a coragem da jovem que escapou daquela residência para alertar as autoridades, para que os irmãos pudessem obter a ajuda que precisavam.”

O casal foi detido e foi estabelecida uma fiança de nove milhões de euros para a sua libertação.

Quanto tempo

Os relatos dos vizinhos dão conta de poucas aparições das crianças na rua desde que a família se mudou, em 2010. Mas não se sabe durante quanto tempo este cativeiro durou.

Como nunca ninguém percebeu algo errado

A família vivia numa casa pacata, num pacato bairro familiar de Perris, a cerca de 100 quilómetros de Los Angeles. Depois de divulgadas as primeiras informações, os vizinhos reconhecem que deveriam ter percebido que algo não estava bem. Numa família tão numerosa, imperava o silêncio e as crianças raramente foram vistas na vizinhança nestes sete anos.

A casa onde vivia a família Turpin

Uma das vizinhas disse à agência Reuters que a família "era uma daquelas sobre a qual realmente não se sabia nada".

Olhando para trás, jamais imaginaríamos algo assim, mas havia sinais de alerta. Não há como nunca se ver ou ouvir nove crianças", disse Kimberly Milligan.

Kimberly conta que, uma vez, cumprimentou algumas da crianças, quando elas colocavam decorações de Natal na casa. Ao vê-la, contou, os irmãos permaneceram imóveis, "como se quisessem ficar invisíveis".

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