“Reffetorio Gastromotiva” é o nome dado pelo chef de cozinha Massimo Bottura à mais recente “sopa dos pobres” da cidade maravilhosa. Através do aproveitamento de ingredientes, cujo destino seria o lixo, Bottura quer criar vários menus e servi-los aos cerca de 70 sem-abrigo que, diariamente, acorrem ao seu novo restaurante.
A ideia é, também, uma chamada de atenção para os desperdícios associados à organização de grandes eventos mundiais, como é o caso dos Jogos Olímpicos, cuja quantia total gasta para a sua organização chegou aos 11.000 milhões de euros.
O proprietário de um conceituado restaurante, na cidade italiana de Modena, sublinhou que mais de 230 toneladas de alimentos são fornecidas, diariamente, para a preparação de refeições de 60 mil atletas, treinadores e restante organização. Dessas centenas de toneladas, sobram algumas dezenas que acabam no lixo.
"Este é um projeto cultural, não é caridade”, disse Bottura à Agence France Press. “Queremos reconstruir a dignidade das pessoas”
O chef de cozinha disse ter-se inspirado no apelo do Papa Francisco sobre a atenção que deve ser dada aos mais pobres. Bottura já tinha liderado um projeto similar ao “Reffetorio Gastromotiva”, em Itália, onde geriu os desperdícios alimentares da Feira Internacional de Milão. O cozinheiro e a sua equipa utilizaram um teatro abandonado da cidade para servir as refeições aos mais necessitados.
Para Bottura, o principal objetivo dos seus projetos é educar as populações sobre o desperdício alimentar e assim ajudar os 800 milhões de pessoas que não têm acesso a uma alimentação equilibrada.
Sem-abrigos afastados dos principais bairros no Rio de Janeiro
No último ano, o Brasil atravessou a maior recessão das últimas décadas, o que fez disparar o número de sem-abrigo em todo o país. Em junho, como resposta à calamidade financeira, o governo do estado do Rio de Janeiro viu-se obrigado a fechar ou diminuir o serviço de 16 centros de alimentação.
As obras de requalificação de vários bairros da cidade e o aumento da segurança por causa dos Jogos Olímpicos levou ao deslocamento forçado daqueles que têm a rua como casa. Um dos dos locais requalificados foi o bairro da Lapa, onde se encontra o restaurante do chef italiano.
Medalha de ouro para Bottura
Em contraste com os centros de alimentação geridos pelo governo brasileiro, onde as refeições são servidas em tabuleiros e pratos de plástico, no “Reffetorio” as refeições servidas parecem ser de um restaurante gourmet. Os copos são de vidro, não há tabuleiros e as mesas apresentam um design moderno.
À noite, o espaço construído com plástico reciclado num terreno doado pela cidade parece uma caixa iluminada, onde os sem-abrigo se deleitam com refeições completas.
Sentado aqui, tratado com respeito e de forma igual, faz-me pensar que tenho uma oportunidade”, disse Valdimir Faria, um brasileiro cujo vício pelo álcool o empurrou para as ruas.
Durante os Jogos Olímpicos, vários chefs brasileiros e internacionais tomarão conta da cozinha do “Refettorio”. Quando a competição terminar, o chef italiano pretende transformar o espaço num restaurante que servirá almoços a todo o tipo de clientes. À noite, as portas abrem-se aos mais necessitados, a quem serão servidas refeições pagas com dinheiro reunido na hora de almoço.