Vários ex-assessores de defesa e segurança nacional do presidente norte-americano, Donald Trump, consideram-no “incapaz”, “perigoso” e sem capacidade de discernimento para governar, segundo entrevistas incluídas no novo livro do jornalista Bob Woodward, intitulado ‘Rage’ (“Raiva”).
Das conversas com o presidente, de que foram revelados extratos sonoros na quarta-feira, fica a saber-se também que Trump admitiu em privado que o novo coronavírus era uma ameaça severa, apesar de nas suas declarações públicas garantir que este não era pior do que uma gripe sazonal e que o governo tinha a situação controlada.
Daqueles assessores, Woodward menciona, por exemplo, o ex-secretário da Defesa, James Mattis, que é de opinião que Trump não tem capacidade para exercer o cargo presidencial, é “perigoso” e “não tem bússola moral”.
No livro é também citado o ex-diretor das Informações Nacionais (‘chapéu’ dos vários serviços de informações dos EUA), Dan Coats, que assegura que, para Trump, “uma mentira não é uma mentira, apenas algo que pensa" e o chefe de Estado norte-americano "não sabe diferenciar entre a verdade e uma mentira”.
O livro baseia-se em entrevistas diretas com os protagonistas destes quase quatro anos de presidência de Trump, bem como com testemunhos diretos e descreve um panorama sombrio dentro do governo, onde os mais altos responsáveis as informações, da segurança nacional e da defesa não se fiam nas capacidades do presidente.
Mattis, que foi secretário da Defesa nos dois primeiros anos da presidência de Trump, garantiu a Woordward que o presidente mostra o caminho aos adversários do país sobre “como destruir os Estados Unidos".
Coats opinou que ainda que não haja provas de que o presidente russo, Vladimir Putin, tem material secreto para chantagear Trump, apenas se pode entender o comportamento deste em relação à Rússia se existir algo devido aos negócios e movimentos do milionário “no lado escuro”.
O antigo chefe das Informações Nacionais considera que dirigentes estrangeiros como Putin ou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, “manipulam” Trump, “colocam-lhe o tapete vermelho”, tratam-no com ostentação e “fazem o que querem”.
Sobre o novo coronavírus, nas gravações de Woodward, Trump diz que é uma “questão delicada”, um “assunto de morte”.
Em particular, Trump admitiu que minimizou o perigo de forma propositada. “Não quis criar pânico”, justificou.
O candidato democrata às presidenciais, Joe Biden, já reagiu e acusou Trump de “mentir ao povo [norte-]americano”. Trump, criticou, “mentiu, durante meses, de forma consciente e voluntária, sobre a ameaça que [o vírus] representava para o país”.
Parte do livro de Woodward é baseado em 18 entrevistas que Woodward conduziu com Trump entre dezembro de 2019 e julho de 2020.