Histórias da Casa Branca: os bons sinais do voto antecipado - TVI

Histórias da Casa Branca: os bons sinais do voto antecipado

  • Germano Almeida
  • 24 out 2016, 10:21
Último debate dos candidatos à presidênica dos EUA

Mais de quatro milhões de americanos já votaram e grande parte deles em estados decisivos. A forte mobilização de democratas e de mulheres indicam tendência claramente favorável a Hillary

As eleições presidenciais nos EUA estão agendadas para 8 de novembro (desta terça a duas semanas), mas, na verdade, já começaram.

O “early voting” (voto antecipado) é uma realidade cada vez mais implantada no sistema eleitoral norte-americano e têm um peso que, muitas vezes, não é devidamente avaliado na medição do evoluir da corrida, nesta reta final. 

Estados muito importantes para a definição desta disputa Hillary/Trump, como a Carolina do Norte, o Ohio, o Colorado, a Virgínia ou o Arizona, já avançaram com este processo (que na realidade americana faz sentido porque há uma grande percentagem de eleitores que estão registados num estado e vivem e trabalham noutro estado, por vezes longínquo).

Para evitar uma deslocação grande num dia de semana, os sistemas eleitorais de vários estados têm aperfeiçoado o “early voting”, fornecendo “absentee ballots”que enviam por correio aos eleitores (acontece também com os norte-americanos que residem fora dos EUA, incluindo em Portugal). 

Há também a possibilidade de se votar presencialmente, em urna fechada, como já fez, de resto, o Presidente Obama, que há algumas semanas fez questão de se fazer fotografar a exercer o direito de voto, num sinal de legitimação a este processo de “early voting”.

Estima-se que, nesta campanha 2016, o “early voting” totaliza perto de 40% do voto total, ainda antes de 8 de novembro. Ora, isso pode querer dizer que, chegados ao «Dia D», a eleição esteja quase decidida ou, pelo menos, conhecendo já uma forte tendência de vitória para algum candidato (neste caso, Hillary Clinton). 

Embora não seja possível conhecer antes de 8 de novembro, ao pormenor os resultados dessa votação antecipada, há sinais objetivos que já dá para saber: em quase todos os estados que avançaram com esse sistema, tem-se notado forte mobilização das mulheres, dos democratas e dos independentes – e isso são muito boas notícias para Hillary Clinton. 

São cada vez mais as fichas que a campanha da democrata coloca na Carolina do Norte, estado habitualmente republicano, mas que Obama venceu em 2008, perdendo-o, quatro anos depois, para Romney. 

O Arizona, que nas últimas sondagens parece inclinar-se para Hillary, é outro caso de um estado com forte tradição republicana (vota sempre no candidato presidencial do GOP desde 1952, com exceção da reeleição de Bill Clinton em 1996, e mesmo assim por curtos 46-44).

O efeito John McCain (popular senador desse estado há três décadas, que tem criticado duramente o comportamento de Trump) e a influência hispânica naquele estado do sudoeste podem estar a gerar uma inesperada surpresa Clinton contra Trump.

A duas semanas e um dia da decisão, o favoritismo de Hillary aproxima-se dos 90% (86% na análise de Nate Silver no FiveThirtyEight). 

Sondagem ABC/WP dá 12 pontos de avanço à democrata (53/41), o que coloca a campanha de Trump sob pressão ainda maior. 

Crescem as dúvidas sobre se Donald tem ainda hipóteses reais de sonhar com a eleição. 

No sábado, o republicano escolheu Gettysburg, no estado crucial da Pensilvânia, para tentar um "momento Lincoln" que pudesse relançar a sua candidatura, caída em desgraça nas últimas duas semanas. 

Mas depois de ter prometido um "Contrato com o Eleitor Americano" (a remeter para o "Contrato com a América" de Newt Gingrich nos anos 90, em mais uma associação a um "desafio aos Clinton"), com um plano detalhado do que faria nos primeiros 100 dias na Casa Branca em temas cruciais para a sua agenda, como a Imigração e a Economia, Trump não resistiu a fazer um ataque cerrado a quem o tem criticado, prometendo processar judicialmente, logo a seguir às eleições, as 11 mulheres que já o acusaram de assédio e/ou abuso sexual.

E a mensagem forte que a campanha Trump prometera passar evaporou-se no meio das tonterias do candidato, que não consegue manter-se disciplinado por muito tempo.  

Enquanto isso, Hilary vai apostando forte em estados que, numa eleição mais equilibrada, poderiam pender para os republicanos, mas que estão claramente favoráveis à vitória da candidata democrata.

O mapa eleitoral continua a dar enorme vantagem a Hillary (bem acima dos 270 necessários para o triunfo, mesmo sem ter que somar os "toss up"). 

A dúvida, neste momento, para a campanha Clinton será meramente estratégica: continuar a pôr todas as fichas nos estados decisivos para assegurar a vitória ou arriscar um pouco mais, alocando recursos (humanos e financeiros) em estados menos associados aos democratas, mas onde Hillary parece poder vencer (e assim construir um "landslide" histórico, próximos dos 400 Grandes Eleitores).  

As últimas duas semanas, para já, têm esta grande questão dominante: vai Donald Trump aceitar a derrota, caso ela se confirme, ou insistirá, a 8 de novembro, na ideia de "rigged election" (eleição roubada, fraude), tese que tem merecido fortíssima censura de republicanos como John McCain ou Lindsey Graham e até já foi contrariada pela própria diretora de estratégia da campanha Trump, Kellyanne Conway, ao assumir 'estamos atrás'?

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