O muro de Trump e agora um Estados Unidos-México - TVI

O muro de Trump e agora um Estados Unidos-México

Donald Trump

Nem de propósito, o primeiro evento desportivo internacional depois da eleições põe a seleção americana frente à equipa da nação mais visada nas diatribes do agora presidente eleito. Ele que nem teria chegado aqui, se há dois anos tivesse comprado uma equipa da NFL

E na sexta-feira há um Estados Unidos-México. Nem de propósito, o primeiro evento desportivo internacional a envolver a América depois da eleição de Donald Trump põe a sua seleção de futebol frente à equipa da nação mais visada nas diatribes do agora presidente eleito.

Trump é o homem que ameaçou construir um muro gigante na fronteira com o México e fazer os mexicanos pagá-lo. O homem que ameaçou deportar milhares de imigrantes mexicanos, dizendo que o México não mandava para os Estados Unidos «a sua melhor gente», mas «muitas vezes criminosos, traficantes de droga, violadores».

Isto já não são só «sound bytes» nem pretextos para piadas e memes na internet. Trump ganhou e será presidente dos Estados Unidos. E agora?

No discurso de vitória, na madrugada passada, Donald Trump já começou a mudar o tom, dizendo que quer ser presidente de todos e «lidar de forma justa com todos»: «Todas as pessoas e todas as nações.» O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, disse que já falou com Trump depois das eleições e combinaram uma reunião para «começar a delinear uma nova agenda» na relação entre os dois países vizinhos.

O estádio do Columbus Crew, no Ohio, será o cenário para o primeiro embate com a realidade, via desporto, do efeito Trump, dos muros que levantou e do discurso de ódio. Um confronto já de si animado pela velha rivalidade entre as duas grandes potências do futebol da América do Norte e Central, que dá o pontapé de saída na fase final da CONCACAF de qualificação para o Mundial 2018, com quatro jogadores do campeonato português em campo pelo México: os portistas Miguel Layún, Hector Herrera e Jesus Corona, mais o benfiquista Raul Jimenez.

México e Estados Unidos defrontaram-se há um ano em Pasadena, num play-off para decidir quem seria o representante da CONCACAF na Taça das Confederações de 2017. Já se vivia em pleno «furacão» Trump e o lançamento do jogo, que o México venceria por 3-2 no prolongamento, refletiu isso mesmo.

A TV Azteca criou uma promoção para a transmissão televisiva que gozava com o tal discurso de Trump da «melhor gente». Assim:

E a norte-americana Fox Sports achou por bem responder

Agora o confronto será em Columbus, a maior cidade do Ohio, um «swing state» que elegeu sempre o candidato vencedor, desde 1964, e onde Donald Trump ganhou estas eleições. E uma cidade talismã para a seleção americana, que venceu no Mapfre Stadium de Columbus os quatro jogos que disputou frente ao México, sempre por 2-0. Cidade maldita para a «Tricolor» e para os selecionadores que lá jogaram: três deles foram despedidos depois das tais derrotas: Enrique Meza, Sven-Goran Eriksson e Luis Tena. É desse histórico que vem o cântico de provocação mais usado pelos adeptos norte-americanos nos jogos com o México, «Dos a cero».

Não é de prever que a seleção mexicana tenha grande apoio em Columbus na sexta-feira, pelo menos dentro do estádio. Estima-se que tenham sido adquiridas apenas algumas centenas de bilhetes por adeptos visitantes, de acordo com uma previsão feita pela NBC.

Se Trump tivesse comprado os Buffalo Bills não seria hoje presidente

Trump presidente é agora a realidade, mas podemos interrogar-nos como estaria o cenário político norte-americano se ele tivesse conseguido sucesso na sua última incursão pelo mundo do desporto. Há dois anos, Trump tentou comprar uma equipa da NFL, os Buffalo Bills. Era um de três candidatos, concorrendo contra um grupo de Toronto que integrava Jon Bon Jovi, esse mesmo, e a família do multimilionário Terry Pegula, que acabou por vencer, com uma proposta de 1,4 mil milhões de dólares.

Mais tarde, Trump admitiu que possivelmente não teria entrado na corrida presidencial, caso se tivesse tornado dono dos Buffalo Bills. «Se tivesse ganho aquela equipa, não estaria a fazer o que faço», disse em fevereiro à Associated Press.

Mas Trump não se deixou ficar com a derrota, naquela altura. No Twitter, o veículo que usou tantas vezes ao longo da campanha, escreveu coisas como esta, depois da primeira derrota dos Bills na sequência da mudança de dono.

Ou esta

Donald Trump tem muitas ligações ao desporto. Desde logo a USFL (United States Football League), um campeonato que nos anos 80 pretendeu ser uma alternativa à NFL e que morreu asfixiada numa guerra judicial liderada por Trump, na altura dono dos New Jersey Nets.

Depois há o wrestling, onde se envolveu desde os anos 90, como organizador e não só. No ringue também.

Jogos Olímpicos, Mundial e o efeito Trump

Agora segue-se a expectativa sobre qual será o impacto da presidência de Donald Trump, também no desporto. Desde logo no que diz respeito à candidatura de Los Angeles aos Jogos Olímpicos de 2024, com decisão marcada para setembro de 2017. O presidente da Câmara de Los Angeles, Eric Garcetti, disse em agosto, segundo recorda agora a BBC, que o Comité Olímpico Internacional não veria com bons olhos a eleição de Trump: «Acho que os membros do COI terão dito algumas coisas. Uma América que se vira para dentro, como qualquer outro país que se vira para dentro, não é boa para a paz mundial, nem para o progresso, nem para todos nós.»

Além dos Jogos Olímpicos, os Estados Unidos também pretendem organizar o Campeonato do Mundo de futebol em 2026, embora esse processo ainda esteja numa fase mais inicial.

Trump parece ter começado a optar por um discurso mais conciliador. Mas isso não apaga as coisas que já disse. Como por exemplo a forma como se referiu à questão das lesões cerebrais associadas a muitos atuais ou antigos jogadores da NFL. Num dos seus comícios, na Florida, depois de uma mulher que se sentiu mal ter voltado para o ouvir, deixou este comentário: «Veem? Não alinhamos nestas novas regras moles da NFL. Concussões. Oh! Oh! Tenho um pequeno galo na cabeça. Não, não posso jogar o resto da época. As nossas gentes são duras.»

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