Trump foi aos arames ao telefone com primeiro-ministro australiano - TVI

Trump foi aos arames ao telefone com primeiro-ministro australiano

  • Paulo Delgado
  • 2 fev 2017, 12:18

Presidente norte-americano aproveitou o sábado para falar com cinco líderes mundiais. Com Malcolm Turnbull, a conversa azedou. Porque Trump não quer receber refugiados acolhidos pela Austrália, como Obama se comprometera

Ficou-se por menos de metade... Era para durar uma hora e ao cabo de 25 minutos, Donald Trump desligou o telefone. Do outro lado da linha estava o primeiro-ministro Malcolm Turnbull, que insistiu no compromisso assumido pelos Estados Unidos de receberem uns 1250 refugiados, dos cerca de 2500 que estão albergados na Austrália.

O telefonema com Turnbull ocorreu no sábado. Já depois de Trump ter falado com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os presidentes russo, Vladimir Putin, e francês, François Hollande, que até terá sido o mais firme a contrariar o protecionismo económico que as promessas e primeiras medidas do líder norte-amerciano deixam antever.

O último da lista foi Malcom Turnbull, a quem Trump chegou mesmo a dizer que aquele estava a ser "o pior telefonema" do dia. De tal forma que, segundo conta a edição digital do The Washington Post, acabou mesmo por lhe desligar o telefone.

 

"Terei de avaliar este acordo idiota"

Diplomatica e formalmente, a Casa Branca comunicou que o telefonema entre Trump e Turnbull teria sido cordial. Como é da praxe, dizer-se.

Enfatizou a força duradoura e a proximidade da relação Estados Unidos-Austrália que é fundamental para a paz, estabilidade e prosperidade na região da Ásia-Pacífico e globalmente", refere a comunicação oficial.

Só que Trump acabaria por desvendar o que realmente se terá passado no telefonema.

Turnbull não abre mão do acordo assinado com o anterior presidente norte-americano, que se comprometeu a acolher metade dos cerca de 2500 refugiados albergados pela Austrália. Muitos dos quais, originários do Irão, Iraque, Sudão e Somália, que figuram na lista de sete países banidos pelo decreto anti-imigração assinado por Donald Trump.

O compromisso de Obama, em nome dos Estados Unidos, coloca assim Trump entre a espada e a parede. Daí ter escapado, como lhe é habitual, para a sua conta no Twitter, onde, na quarta-feira, rotulou de "acordo idiota" o comproimisso assumido pela Austrália. Porque o obriga a "receber milhares de imigrantes".

"Não quero cá essa gente"

Conta o jornal The Washington Post, após ouvir fontes bem colocadas na administração norte-americana, que Trump terá mesmo gritado ao telefone com Turnbull, dizendo-lhe "não quero cá essa gente".

Primeiro, terá tentado convencer o primeiro-ministro australiano de que receber os refugiados, depois de ter suspendido a entrada nos Estados Unidos a cidadãos de sete países de maioria islâmica, seria a sua "morte política".

No acordo subscrito pela administração Obama, os Estados Unidos comprometeram-se a aceitar refugiados, que estão albergados em situações complicadas, na Austrália e na vizinha Papua Nova Guiné. Desde que os candidatos passem nas normas de segurança existentes nos Estados Unidos relativas à imigração.

Na Austrália, após o telefonema, a embaixada norte-americana tentou logo serenar os ânimos.

A decisão do presidente Trump de honrar o acordo sobre refugiados não mudou", referiu um porta-voz da embaixada em Camberra. Mas o compromisso tem pressupostos que podem levar a que não seja cumprido, como antes se previa.

Durante o telefonema, o primeiro-ministro australiano terá insistido que para honrar o acordo, os Estados Unidos não terão de aceitar todos os refugiados. Mas apenas permitir que os candidatos sejam avaliados em face das habituais normas de segurança.

Donald Trump terá, contudo, discordado. E avisou Turnbull no telefonema, mais curto do que era previsto, que os que queiram entrar nos Estados Unidos serão submetidos a uma "vistoria extrema". O que deixa adivinhar que muitos ficarão "a ver navios".

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