Grécia: decisão final tem de ser tomada domingo - TVI

Grécia: decisão final tem de ser tomada domingo

  • Élvio Carvalho
  • 7 jul 2015, 21:50

Nova cimeira de líderes foi confirmada pelo primeiro-ministro italiano, uma reunião que vai envolver todos os 28 membros da União Europeia. Porém o tom é de ultimato na Zona Euro com a maioria dos líderes a falarem em "Grexit" se não houver acordo

Desta vez parece ser definitivo. É isso que indica o tom dos chefes de Estado europeus à saída da Cimeira de líderes da Zona Euro desta terça-feira.

Está confirmada uma nova reunião do Eurogrupo para sábado, mas mais importante,  uma nova cimeira de líderes para domingo com todos os países da União Europeia, e não só da Zona Euro como até aqui, de onde terá de sair uma decisão sobre o futuro da Grécia.

Quem confirmou a reunião foi o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que espera “ser a última sobre a Grécia”. E Renzi não está sozinho nesta posição, também Angela Merkel, Passos Coelho, Mariano Rajoy, Donald Tusk e Jean-Claude Juncker disseram o mesmo à saída da reunião.

Depois da vitória do “Não” no referendo e de uma substituição do ministro das Finanças, parecia que as negociações poderiam ser mais benéficas para o lado dos gregos, porém, durante a reunião, garantiu Angela Merkel, não se falou de uma saída da Zona Euro, nem de um corte na dívida. A questão que está em cima da mesa para domingo, e que pode decidir a continuidade da Grécia na moeda única, é se o país apresentará as condições para um terceiro resgate.


Mas vamos por partes: depois de um Eurogrupo onde o ministro das Finanças grego não apresentou novas propostas, seguiu-se a conferência de líderes da Zona Euro onde foi discutida a possibilidade de um terceiro resgate à Grécia e um programa intercalar que serviria para assistir o país durante o presente mês. No final da cimeira nenhum dos dois foi confirmado, e sabe-se apenas que há nova reunião domingo.

                    
                                                      Matteo Renzi (Foto: Reuters)

Matteo Renzi parece ter sido o único a sair realmente otimista da reunião. O primeiro-ministro italiano diz esperar um “final feliz” para a Grécia, reafirmando que até domingo podem ser apresentadas propostas.

“A decisão tomada hoje é que vamos esperar até domingo para que sejam submetidas novas propostas às instituições por parte do governo grego. (…) Espero que esta seja a última reunião sobre a Grécia, e espero que tenha um final feliz. Acredito que vamos conseguir um acordo no domingo, não estou pessimista quanto a isso”, disse Renzi, segundo o britânico “The Guardian".


Já a chanceler alemã, Angela Merkel, foi mais específica quanto ao que compete fazer ao governo grego para alcançar um acordo. Deixou claro que não vai haver corte na dívida, que não se falou numa nova moeda e que um terceiro programa estará sempre dependente de condições.

A chanceler diz que o governo helénico tem agora 48 horas para apresentar uma proposta detalhada de reformas que pretende implementar, para que se possa discutir no domingo se são suficientes para conseguir um terceiro resgate.

Merkel diz que o governo grego até pode ter saído reforçado no referendo de domingo, mas não nos podemos esquecer que a Zona Euro tem mais 18 países, que não podem ser vergados à soberania nacional de um. Daí que a cimeira de domingo inclua também os membros da UE que não usam o euro, para que a decisão passe por todos, já que pode afetar todos.
 

Plano "B" já está preparado em detalhe


Mais específicos, ainda, foram o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk
, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker
.

Tusk avisa que a Zona Euro está apenas a cinco dias de evitar o pior cenário possível, e salvar a Grécia da bancarrota, ou aceitar as consequências que daí advenham para todos.

“Ambas as partes partilham responsabilidade pelo estado [a que chegámos]. Foi por isso que convoquei os líderes hoje, para encontrar sucesso comum, sem vencedores nem derrotados. Se [o acordo] não acontecer, significa o fim das negociações com todas as consequências possíveis, incluindo o pior cenário, onde todos vamos perder. (…) Vai ser pior para o povo grego, mas não tenho dúvidas que vai afetar a Europa, mesmo no sentido geo-político.”


O presidente do Conselho Europeu disse, ainda, que caso falhem as negociações terá de ser preparado um plano de ajuda humanitária à Grécia, justificando, assim, a importância da presença dos 28 membros da UE na reunião. Tusk garante ainda que o prazo para um acordo é mesmo domingo.


                
                               Jean-Claude Juncker (E) e Donald Tusk (D) - Foto: Reuters

“Até agora evitámos falar sobre “deadlines” (prazo final), mas hoje tenho de o dizer bem alto: o último é no domingo.

Jean-Claude Juncker não perdeu a oportunidade para relembrar os avisos que lançou aos gregos quanto às consequências do voto no “Não” e confirma que já há um plano B caso as negociações falhem, isto é, um plano de “Grexit”.

"A Comissão Europeia está preparada para tudo, temos um cenário de ‘Grexit’ preparado em detalhe”.


Juncker aproveitou para dizer que não gostou de ouvir um representante grego (Yanis Varoufakis) a chamar os credores “terroristas”, e frisou que uma proposta final terá de se apresentada até às 8:30 da manhã de sexta-feira.

 

Passos diz que a Europa deve preparar-se para o pior


Mais moderados foram os líderes da ponta mais ocidental da Europa: Passos Coelho, Mariano Rajoy e François Hollande. Todos se centraram no ponto comum de que a Grécia tem de apresentar propostas credíveis e concretas até domingo para evitar um cenário que ninguém deseja.

Tal como Merkel, o primeiro-ministro português diz que um novo programa de resgate vai sempre ter condições associadas, que serão piores do que se tivessem sido executadas há meio ano.
 

“Do ponto de vista político, é urgente e indispensável que seja retomada a relação de confiança e previsibilidade entre as partes. Do ponto de vista económico, o ponto em que nos encontramos hoje é incomparavelmente pior do que aquele que nos encontrávamos em janeiro, e, por isso, um eventual acordo implicará um muito maior compromisso financeiro do lado dos parceiros da Grécia, provavelmente duas vezes maior, e uma grande capacidade de implementação por parte do governo grego, com novos sacrifícios do povo grego", disse Passos Coelho, segundo a Lusa.


Passos Coelho diz que se não houver acordo nos próximos dias, a Europa deve "preparar-se para o pior".
 

"Estamos a falar de uma situação muito grave e muito urgente para resolver. E ela tem de ser resolvida de acordo com este calendário. Se até ao final da semana não for possível chegar a um entendimento, então quer o governo grego, quer a zona euro terão que se preparar para o pior".



Tsipras quer uma “saída final da crise”


                
                                                   Alexis Tsipras (Foto: Reuters)

Já a pessoa onde estão centradas todas as atenções, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, diz que na reunião de hoje ficou claro que os parceiros europeus percebem que a situação na Grécia  “é um problema europeu que é necessário resolver”.

Segundo o The Guardian, Tsipras diz que o ambiente na reunião foi positivo e que só quer ver a Grécia a sair finalmente da crise.

“A reunião decorreu numa atmosfera positiva. O processo será rápido, começa nas próximas horas, com o objetivo de o concluir no final da semana, mais tardar. (…) O lado grego vai continuar o esforço, tendo como arma do veredicto do povo grego. A maioria vai [lutar] por um acordo que coloque fim à discussão [de um Grexit] e ofereça perspetivas para finalmente sairmos da crise”.

 
O líder grego parece bastante otimista, porém este discurso já é recorrente no final das reuniões. A “comprar" as suas palavras está o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi que já assegurou que o BCE vai fazer os possíveis para manter a liquidez da banca grega.

Já o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, e o chanceler da Áustria, Werner Faymann, também se mostraram esperançosos de que um acordo seja alcançado, antes de domingo, e que a reunião seja evitada. Porém, Faymann também negou um corte na dívida e deixa o aviso de que se a cimeira for avante, será para discutir um plano B.
 
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