Quase 140 salvadorenhos foram assassinados depois de deportados pelos EUA - TVI

Quase 140 salvadorenhos foram assassinados depois de deportados pelos EUA

  • AM
  • 5 fev 2020, 11:55
15 famílias refugiadas em abrigo depois de serem obrigadas a abandonar as casas, por causa de ameaças de gangues

Maioria das mortes ocorreu menos de um ano após o regresso a El Salvador, mas muitas aconteceram apenas alguns dias depois

Pelo menos 138 pessoas deportadas dos Estados Unidos para El Salvador nos últimos anos foram mortas menos de um ano depois, denuncia a organização Human Rights Watch num relatório divulgado esta quarta-feira.

De acordo com o documento, a maioria das mortes ocorreu menos de um ano após o regresso a El Salvador, mas muitas aconteceram apenas alguns dias depois.

A organização humanitária também refere pelo menos 70 casos de agressão sexual ou outro tipo de violência aplicada aos deportados assim que chegaram ao país.

A denúncia da Human Rights Watch visa sublinhar o risco enfrentado pelas pessoas forçadas a regressar aos seus países de origem, já que a lei dos Estados Unidos obriga à deportação de não-cidadãos condenados por qualquer crime e as políticas da administração Trump desencorajam os pedidos de asilo, explicou, diretora da organização nos EUA, Alison Leal Parker.

“A nossa preocupação é que muitas dessas pessoas estejam a enfrentar uma sentença de morte”, disse Leal Parker.

Entre 2014 e 2018, os EUA deportaram cerca de 111.000 salvadorenhos, país onde existe violência entre gangues há muitos anos.

Um relatório das Nações Unidas divulgado em 2019 informou que os assassinatos em El Salvador, a maioria deles relacionados com conflitos entre gangues, registaram uma ligeira descida em relação ao pior ano – 2015, quando o número chegou aos 6.000.

Ainda assim, El Salvador tem uma das maiores taxas de homicídios do mundo.

O número de salvadorenhos que pediram asilo aos Estados Unidos cresceu quase 1.000% entre 2012 e 2017, muitos dos quais alegando ameaças de gangues. Apenas cerca de 18% recebem asilo.

A Human Rights Watch (HRW) disse que as 138 mortes em causa foram confirmadas por meio de registos oficiais, entrevistas com as famílias e notícias divulgadas pela comunicação social, mas a organização acredita que o número real é muito maior.

Segundo a HRW, muitas das mortes não são sequer conhecidas devido ao estigma de terem sido pessoas deportadas dos EUA, mas sobretudo pela ausência de notificações oficiais pelas autoridades.

Cesar Rios, diretor executivo do Instituto Salvadorenho de Migração, uma organização não governamental, admitiu que ninguém no país rastreia as mortes de deportados, mas admitiu considerar os dados credíveis.

“Podemos dizer que deportar pessoas para essas áreas [onde os gangues são mais ativos] é muito perigoso”, considerou.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, fez da imigração uma peça central do seu governo, adotando uma política de forçar as pessoas da América Central que pedem de asilo a esperar no México enquanto são avaliadas e a ser deportadas de imediato para os seus países de origem se o pedido for rejeitado.

O processo de avaliação de um pedido de asilo nos Estados Unidos pode demorar um ano ou mais, embora o Departamento de Segurança Interna garanta que está a tentar tornar o procedimento mais eficiente.

“Estamos profundamente preocupados com o esforço da administração Trump para extirpar o direito a pedir asilo nos Estados Unidos”, afirmou a diretora da HRW.

A Human Rights Watch instou o Governo a revogar a política que exige que quem pede asilo fique à espera de resposta no México, assim como os acordos que permitem que guatemaltecos, salvadorenhos e hondurenhos se estabeleçam em outros países da América Central enquanto procuram refúgio.

A organização pede também ao procurador-geral dos Estados Unidos que reverta as restrições que dificultaram os pedidos de asilo nos EUA cujos argumentos tenham por base ameaças de gangues ou violência de género.

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