França “em choque” com extrema-direita “às portas do poder” - TVI

França “em choque” com extrema-direita “às portas do poder”

Marine Le Pen (Ian Langsdon/EPA)

Imprensa gaulesa, no rescaldo das eleições regionais de domingo, aponta a Frente Nacional como o “primeiro partido de França”

A França que não votou na Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen, na primeira volta das eleições regionais de domingo, acordou esta segunda-feira incomodada com a vitória da extrema-direita. A maioria dos jornais sublinham de várias formas “o choque” do escrutínio quase definitivo que dá, em termos nacionais, entre 29,5% e 30,8% por cento à FN, 27% a 27,4% por cento a Os Republicanos de Nicolas Sarkozy (direita e centristas) e 22,7% a 23,5% por cento ao Partido Socialista de François Hollande, de acordo com a AFP.

O jornal comunista “L’humanité” e o de direita conservadora “Le Figaro”, que costumam opor-se na política, escolheram esta segunda-feira o mesmo título para comentar a vitória do partido nacionalista: “O choque”.  

“Le Figaro” diz que há um “vento de cólera” em França e refere que, “a partir de agora, sem contestação, a Frente Nacional é o primeiro partido de França” ao vencer em seis das 13 regiões francesas.  

“A direita esperava uma grande onda azul para medir forças com a onda rosa de 2004 e 2010, mas foi uma onda azul-marinho (que em francês se diz “bleu Marine”, aqui numa alusão à líder da FN) que venceu a primeira volta das eleições regionais no domingo”, escreve o jornal.

“Já se tornou num hábito, mas o choque, de cada vez, é o mesmo: é a Frente Nacional, que progride, que cria a surpresa e que altera todos os cenários elaborados previamente”, acrescenta.


O jornal “L’Humanité” apela à união dos “progressistas” para a segunda volta: “Os progressistas devem reagir sem demora e reagruparem-se.”
 

“Com a quase totalidade dos votos contados, a Frente Nacional lidera a primeira volta das eleições com 29% dos votos em termos nacionais e mais de 40% na região Nord-Pas-de-Calais e em Paca. Com a direita a totalizar perto de 27% e o PS a cair 23%, a Frente de Esquerda e os seus parceiros constituirão uma força indispensável para a segunda volta das eleições”, defende o “L’Humanité”.

O “Le Parisien” realça: “A Frente Nacional às portas do poder”. O matutino indica que “tem de se olhar de face para a realidade ditada pelas urnas”, acrescentando que a FN chegou em primeiro em seis das 13 regiões francesas e que, na segunda volta, no próximo domingo, pode vencer no norte (Lille), no sudeste (Marselha-Nice) e no leste (Estrasburgo).
   

“Com cerca de 30% dos votos, a FN é, neste momento, o primeiro partido da França. Triplicou o número de votos em comparação com as regionais de 2010, assumiu a liderança na primeira volta em seis regiões - quase metade das 13 novas regiões!”, afirma o jornal.  

A menos de ano e meio das presidenciais em França, Marine le Pen alcançou um resultado histórico nas regionais que lhe dá alento para o futuro. Sondagens recentes dão a líder nacionalista também à frente na primeira volta da futura corrida ao Eliseu. E é isso mesmo que sublinha o “Le Parisien”:

 

“Nunca a FN esteve tão perto do poder. É verdade que as regiões não são o Eliseu. Mas se fosse a primeira volta das eleições presidenciais, que tivesse sido votada ontem, Marine Le Pen ter-se-ia convenientemente qualificado para a segunda volta.”

 

Eleições quase sem campanha e extrema-direita de feição



Após os atentados de Paris e a previsão de avanço da extrema-direita, agora confirmada, as eleições regionais acabaram por ganhar atenção nacional e transformaram-se no último teste eleitoral antes da disputa presidencial de 2017.

Mais de 44 milhões de eleitores eram esperados nas urnas para eleger os concelhos que governarão as 13 regiões do país.
 
Três semanas depois dos atentados mais graves da história da França, que provocaram 130 mortos e cerca de 350 feridos, as eleições ocorreram sob estado de emergência, com medidas de segurança reforçadas junto das mesas eleitorais.
 
Com as medidas tomadas após os atentados de 13 de novembro, a popularidade do Presidente François Hollande subiu, mas não a do Partido Socialista.
 
De acordo com a AFP, os atentados praticamente cancelaram a campanha para as eleições regionais e contribuíram para diluir as divergências políticas, num clima em que se misturaram homenagens às vítimas, apelos à guerra contra o grupo Estado Islâmico e um crescimento dos símbolos patrióticos.
 
O discurso nacionalista e anti-imigrantes do partido de Marine Le Pen beneficiou após a informação de que dois dos suicidas dos atentados chegaram a França a partir da Grécia, onde entraram de forma despercebida entre milhares de refugiados.

 

Segunda volta no domingo sem fusões no horizonte


 
A segunda volta das eleições regionais acontece no próximo domingo. O resultado das eleições depende, em larga medida, da posição que o PS e Os Republicanos (LR), principal partido da oposição de direita, adotarem nas regiões onde a FN tem hipóteses de ganhar.
 
O Partido Socialista (PS), no poder em França, anunciou no domingo a retirada na segunda volta das eleições regionais em 13 de dezembro de pelo menos duas regiões decisivas, para “impedir” uma vitória da extrema-direita.
 
Já o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, chefe da oposição de direita, reafirmou esta segunda-feira que os conservadores decidiram de forma “quase unânime” que não há qualquer aliança com a esquerda para vencer a extrema-direita na segunda volta, escreve o “Le Figaro”.
 
Para Sarkozy, não há "nem fusão" com os socialistas, "nem retirada" das listas do seu partido Les Républicains (LR). Este representa, de acordo com o ex-presidente, "a única alternativa possível" nas regiões suscetíveis de cair nas mãos da Frente Nacional.
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