Hong Kong: Governo recusa exigências apesar de vitória eleitoral pró-democrata - TVI

Hong Kong: Governo recusa exigências apesar de vitória eleitoral pró-democrata

  • CE
  • 26 nov 2019, 11:23

Declarações de Carrie Lam um dia depois de se saber os resultados das eleições distritais que se realizaram no domingo e nas quais os pró-democratas obtiveram um resultado esmagador

A líder de Hong Kong garantiu esta terça-feira que “vai refletir seriamente" sobre os resultados que deram a vitória inequívoca aos candidatos pró-democracia nas eleições distritais, mas descartou a possibilidade de aceitar as exigências dos manifestantes.

Carrie Lam falava aos jornalistas antes da reunião semanal do Conselho Executivo, um dia depois de se saber os resultados das eleições distritais que se realizaram no domingo e nas quais os pró-democratas obtiveram um resultado esmagador face ao campo pró-Pequim, conquistando quase 90% dos assentos (388 dos 452 assentos em jogo) do Conselho Distrital.

Questionada sobre se tenciona ceder às exigências dos manifestantes e iniciar uma investigação sobre as acusações de brutalidade policial durante os protestos, Lam apenas se referiu a um plano para "estabelecer um comité de revisão" que analise as causas das manifestações e "identifique os problemas sociais, económicos e políticos subjacentes, para recomendar medidas ao Governo".

Sobre o resultado da eleição, Lam foi ainda menos incisiva do que na sua declaração na segunda-feira e disse que "as eleições refletiram claramente que muitos eleitores queriam expressar as suas opiniões ao Governo".

As opiniões expressas são muito diversas. Há pessoas que querem expressar que não podem mais tolerar a violência nas ruas e, é claro, há pessoas que sentem que o Governo não administrou com competência o exercício legislativo", admitiu.

A chefe do Executivo voltou a pedir o fim da violência e pediu que a paz e a tranquilidade que se tem visto nos últimos dias na cidade continue, a mesma paz que permitiu a realização das eleições num "ambiente pacífico e justo".

As vozes do povo de Hong Kong foram ouvidas. Os moradores de Hong Kong não querem que a sociedade continue nesta situação caótica", acrescentou.

A Comissão dos Assuntos Eleitorais informou que 71,2% dos 4,1 milhões de eleitores recenseados na região administrativa especial votaram, superando em muito a participação de 47% verificada nas mesmas eleições há quatro anos.

A participação normalmente baixa nas eleições distritais, tradicionalmente dominadas por partidos pró-Pequim, ganhou uma nova importância no contexto dos protestos.

Imprensa oficial chinesa ignora resultados eleitorais

A ampla vitória dos candidatos da oposição foi esta terça-feira ignorada pela imprensa chinesa, com apenas as edições em inglês a referirem uma votação "distorcida" a favor do campo pró-democracia.

A imprensa controlada pelo regime chinês, que no fim de semana apelou aos cidadãos de Hong Kong que fossem às urnas "dizer não à violência" com o voto nos candidatos pró-Pequim, absteve-se esta terça-feria de publicar os resultados eleitorais.

Na segunda-feira à noite, o jornal da noite na televisão estatal CCTV absteve-se de falar sobre as eleições em Hong Kong, enquanto o jornal oficial do Partido Comunista, o Diário do Povo, observou que as manifestações que assolam o território "perturbaram seriamente o processo eleitoral", mas também sem detalhar os resultados.

A imprensa oficial de Pequim em inglês, que é voltada para leitores estrangeiros, preferiu desvalorizar o resultado.

Num editorial, o jornal oficial China Daily considerou que as eleições foram "distorcidas por manobras intimidadoras" e "golpes".

No seu serviço em inglês, a agência noticiosa China News Agency afirmou que a eleição para os conselheiros distritais foi "sabotada" por "manifestantes".

A campanha de alguns candidatos patriotas foi gravemente interrompida", garantiu a agência. "Um candidato foi ferido durante um ataque e o assédio aos candidatos patriotas continuou no dia da eleição", acusou.

O jornal Global Times reconheceu que o resultado da pesquisa vai incentivar à "reflexão", mas que não é necessário "interpretar demais a vitória" do campo pró-democracia.

O jornal observou que, segundo o método de votação, este venceu "80% dos assentos com apenas 60% dos votos".

Os partidos pró-democracia venceram pelo menos 388 dos 452 assentos, depois de não terem conseguido um único conselho nas últimas eleições locais, realizadas há quatro anos, enquanto os candidatos pró-Pequim caíram para 59.

Cerca de três milhões de pessoas votaram, quase o dobro do que em 2015, representando mais de 70% dos eleitores registados.

Os resultados destas eleições são um indicador do amplo apoio aos protestos antigovernamentais que há seis meses atingem Hong Kong, apesar dos contornos cada vez mais violentos, com frequentes atos de vandalismo e confrontos com a polícia.

As manifestações iniciaram-se devido a um projeto de lei que permitiria extraditar criminosos para países sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Apesar de, entretanto, retirado, o projeto de lei deu origem a um movimento que exige reformas democráticas e se opõe à crescente interferência de Pequim no território.

À semelhança de Macau, para a antiga colónia britânica foi acordado um período de 50 anos após a transferência da soberania para a China, mantendo um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, de acordo com a fórmula 'um país, dois sistemas'.

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