Zimbabué: Governo «manda» invadir fazendas - TVI

Zimbabué: Governo «manda» invadir fazendas

  • Portugal Diário
  • António Pina, da agência Lusa
  • 10 abr 2008, 08:53
Contagem de Votos no Zimbabué (EPA/STR)

Dezenas de propriedades invadidas nos últimos dias

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Os populares que estão a invadir dezenas de propriedades agrícolas desde sábado, no Zimbabué, são transportados em autocarros e camiões alugados pelas estruturas do Estado, acusou em entrevista à Lusa o presidente da Associação de Agricultores Comerciais CFU.

Trevor Gifford classificou a situação actual no mundo rural como «extremamente grave» e aponta o dedo ao regime de Robert Mugabe, acusando-o de destruir por completo um sector que até 2000 alimentava a nação zimbabueana e vários países da região.

«A situação depois das eleições de 29 de Março caracteriza-se por uma tensão crescente. Na província de Masvingo, um jovem agricultor foi raptado pelos veteranos de guerra (o grupo de ex-combatentes da guerra de libertação leais a Mugabe), amarrado a uma árvore, ameaçado com um machado e posteriormente libertado, encontrando-se seriamente traumatizado», contou o presidente da CFU.

Gifford disse que, desde segunda-feira, mais de 60 fazendas foram invadidas por grupos mais ou menos numerosos de populares liderados pelos veteranos de guerra e milicianos fiéis ao regime.

«Todas essas propriedades estão em fases diferentes de ocupação. Nuns casos, os proprietários foram forçados a abandoná-las apenas com a roupa que tinham no corpo, noutros casos a polícia interveio, expulsou os ocupantes e permitiu o regresso dos donos, noutros ainda os proprietários vivem em estado de permanente sobressalto e terror com desconhecidos a bater nas portas e janelas e a gritar ameaças de dia e de noite», referiu.

Para Trevor Gifford, a prova de que todas as operações são orquestradas reside no facto de, em muitos casos, horas depois de a polícia ter expulsado os invasores, novos grupos voltarem a invadir as propriedades e tentarem expulsar os seus proprietários.

A Associação de Agricultores Comerciais do Zimbabué (CFU) representava há oito anos quase cinco mil agricultores. Segundo o seu presidente, actualmente apenas 500 agricultores se mantêm na posse das suas terras e em laboração «mais ou menos normal».

«O que acontece é que muitos dos agricultores que ainda não perderam as suas propriedades deixaram de cultivar toda a sua terra disponível com receio de serem expulsos e também por falta de sementes, fertilizantes e maquinaria», explicou aquele dirigente.

Em resultado da reforma agrária do regime de Robert Mugabe, o Zimbabué passou de celeiro regional a nação dependente de ajuda alimentar do exterior, em particular das Nações Unidas e do Programa Alimentar Mundial (PAM).

Segundo disse à Lusa um responsável regional do PAM, pelo menos três milhões de zimbabueanos necessitam, este ano, de ajuda alimentar de emergência.
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