Tensão cresce no Zimbabué após demissão que abre caminho à mulher do presidente - TVI

Tensão cresce no Zimbabué após demissão que abre caminho à mulher do presidente

  • Sofia Santana
  • 14 nov 2017, 16:54
Grace Mubage e Emmerson Mnangagwa

Tanques de guerra avançaram sobre a capital do país, um dia depois de o comandante das Forças Armadas ter ameaçado com uma intervenção do Exército caso não terminasse aquilo que considera ser uma "purga" no seio do partido no poder. Nos últimos três anos, já foram afastados dois vice-presidentes em posição privilegiada para suceder ao atual presidente

Quatro tanques de guerra foram vistos a avançar em direção à capital do Zimbabué, Harare, um dia depois de as Forças Armadas do país terem avisado que estavam preparadas para acabar com o que consideram ser uma "purga" contra apoiantes do ex-vice-presidente, Emmerson Mnangagwa. A tensão cresce neste país do sul do continente africano, onde, nos últimos três anos, já foram afastados dois vice-presidentes em posição privilegiada para suceder ao atual chefe de Estado, Robert Mugabe.

Uma testemunha, citada pela Reuters, avistou ainda outros dois tanques de guerra estacionados a cerca de 20 quilómetros da capital, na estrada principal que liga Harare a Chinhoyi. Os soldados no local recusaram prestar declarações.

Estas informações sugerem um cenário de tensão, um dia depois de o comandante das Forças Armadas, Constantino Chiwenga, ter ameaçado com uma intervenção do Exército caso não terminasse aquilo que considera ser uma "purga" no seio do partido no poder, o Zanu-PF. Um aviso deixado uma semana depois de o vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, ter sido demitido pelo presidente, Robert Mugabe.

Numa conferência de imprensa em que Chiwenga esteve acompanhado de 90 oficiais do Exército, o chefe das Forças Armadas disse que os militares não vão tolerar o afastamento das pessoas que estiveram envolvidas na luta pela independência, como é o caso de Mnangagwa.

A atual purga, que visa claramente membros do partido com um passado de libertação, deve parar imediatamente. Devemos lembrar os que estão atrás dos atuais traidores que, se se tratar de proteger a nossa revolução, os militares não vão hesitar em intervir."

Mnangagwa, que tem fortes ligações ao Exército depois de ter sido ministro da Defesa, era visto como o preferido na sucessão a Mugabe, de 93 anos.

Foi demitido e expulso do partido por uma alegada "falta de lealdade e honra na execução dos seus deveres", segundo informou o porta-voz do partido, Simon Khaya Moyo. 

Antes de Mnangagwa ser oficialmente destituído do cargo, tanto o presidente como a mulher, Grace Mugabe, tinham avisado, em comícios e eventos do partido, que o vice-presidente estava a "jogar um jogo perigoso" 

Após este afastamento, é precisamente Grace que surge em posição privilegiada para liderar os destinos do país. De resto, já em dezembro vai realizar-se o congresso do Zanu-PF onde será escolhido o próximo vice-presidente e tudo indica que seja Grace, de 52 anos, a ocupar a vaga deixada. 

Há muito que se especula que Grace quer ocupar o lugar do marido, que governa o Zimbabué desde 1980. 

Como líder da Liga das Mulheres do Zanu-PF, Grace participou em comícios um pouco por todo o país. Contudo, está longe de ser uma figura popular e é até conhecida como "Gucci Grace", devido aos seus gastos avultados em lojas de luxo no estrangeiro.

Grace já tinha contribuído para o afastamento de outra vice-presidente. Joice Mujuru foi demitida em 2014, também por alegadamente conspirar contra o presidente dentro do partido.

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