O vídeo que mostra um menino a usar um tablet de uma loja da Samsung no Recife para estudar já se tornou viral.
Guilherme Henrique da Silva tem 10 anos e não foi a primeira vez que entrou numa loja do Shopping Recife para estudar. Porém, no dia 7 de Novembro, um funcionário da loja da Samsung gravou o momento em que Guilherme utilizava um tablet da loja de aparelhos eletrónicos para fazer um trabalho de geografia.
Pouco tempo depois de o publicar, o vídeo mobilizou uma rede de doadores interessados em ajudar a criança.
Guilherme vive numa pequena casa sem internet, na zona sul do Recife, com a mãe solteira, os dois irmãos e uma sobrinha. O pai ajuda-os com uma pensão. As suas disciplinas favoritas são Matemática e Ciências.
Quando o proprietário da loja da Samsung soube da história do menino, decidiu oferecer-lhe um tablet.
Também o portal Voaa se emocionou com a história de Guilherme e decidiu criar um fundo, que já alcançou 16 mil reais (3.480 euros), para ajudar o menino nos estudos.
A artista Anitta foi outra das pessoas que tentou ajudar Guilherme a ter internet em casa. A cantora contou no instagram que falou com a família e sugeriu que a operadora Claro doasse à família um plano de internet móvel.
Até agora, Guilherme apenas conseguia fazer apresentações ou pesquisas para trabalhos utilizando o telemóvel da melhor amiga.
Como desta vez não tive esse acesso, fui àquela loja para fazer o trabalho, para entregar à professora, tirar nota boa e passar de ano”, contou ao jornal local Correio 24 horas.
Os funcionários já estavam habituados a ver Guilherme na loja, no entanto estranharam vê-lo a utilizar um dos telemóveis, juntamente com um caderno da escola. Um dos trabalhadores foi ao seu encontro e perguntou-lhe se não preferia utilizar um tablet para continuar a pesquisa.
Achei o gesto muito bonito. Podiam ter ignorado e não querer ajudar, mas comoveram-se com a minha história. Acho isso muito interessante. Estou muito emocionado", agradeceu o estudante, que está no 5.º ano.
O trabalho que fez era sobre as regiões do Brasil. Guilherme escolheu a Sul e tirou 10 valores no projeto.
O que ele não esperava é que a sua história fosse ter tamanha repercussão.
Um dia depois do vídeo ter sido publicado, a irmã de Guilherme disse-lhe que a sua história se tinha tornado viral. No início não acreditou, mas quando viu a publicação no instagram começou a sentir uma série de emoções que foram da alegria ao medo, passando pelo entusiasmo.
Fiquei com medo das pessoas me tratarem mal ou alguma coisa do género. Mas, por uma parte, senti-me bem pelo ato das pessoas que me tentaram ajudar", revelou.
O menino de dez anos sonha em viajar pelo mundo, aprender várias línguas e ser artista de TV. Mas é na mãe que encontra a sua maior motivação.
É isso que me faz muito querer ser alguém na vida”, contou ao Correio 24 Horas, afirmando que foi a mãe quem o ensinou a ter gosto por aprender.
“Ela incentivava-me a estudar e tudo mais. Dizia: ‘Guilherme, estude’, e eu agarrava no livro e estudava. É por isso que as minhas notas são tão boas nos testes”, diz.
Segundo a mãe, Rosali Nascimento, de 42 anos, o resto da família também contribuiu para a educação do menino. Os irmãos ajudaram-no a aprender a ler e a escrever
Gustavo (de 14 anos) ensinou e Ayla ( de 24 anos) também. Sem livro de caligrafia, escrevia o nome dele a caneta, tanto em letra de forma, como em letra cursiva, para ele aprender. Viam placas e perguntavam: 'que nome é esse?', relatou.
A preocupação de incutir aos filhos um cuidado pela aprendizagem vem de uma reflexão ao seu próprio passado: “se eu tivesse escutado a minha mãe, já podia ter tido um emprego melhor”, revelou a mãe que trabalha como auxiliar de serviços gerais na Escola Municipal Abílio Gomes, onde Guilherme estuda.
O secretário executivo de educação do Recife, Francisco Luiz dos Santos, deu os parabéns ao Guilherme, acrescentando que “as crianças [do Recife] têm um contacto controlado com tablets e com a internet. Certamente ele e os colegas aproveitaram o conhecimento e a prática que já têm na escola. Fiquei muito feliz ao ver que, mesmo depois do horário, [o Guilherme] vai procurar um lugar onde ele possa usar a internet e isso surpreende-nos a todos”, elogia.