"Já é tarde para erradicá-lo": a imparável expansão de um mosquito invasor em Espanha - TVI

"Já é tarde para erradicá-lo": a imparável expansão de um mosquito invasor em Espanha

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 16 jun 2020, 15:22
Aedes Japonicus

O Aedes japonicus tem fascinado os investigadores espanhóis pela forma como se consegue adaptar a temperaturas invernais e como tem a capacidade de criar uma ampla gama de habitats aquáticos

O Aedes japonicus tornou-se a terceira espécie de mosquitos invasivos a ser reportado na Europa e a sua expansão geográfica tem sido facilitada por atividades humanas como a importação e exportação de pneus. Incluído na lista das 100 maiores espécies invasivas do Grupo de Especialistas em Espécies Invasivas, a distribuição do Aedes japonicus na Europa tem estado em expansão.

Desde 2018, e com especial incidência nas Astúrias e na região da Cantabria, este inseto tem vindo a espalhar-se pela Península Ibérica, especialmente nas zonas de pasto e gado, onde tem um potencial de disseminação maior.

O Aedes japonicus surpreendeu-nos completamente porque não sabemos como veio para aqui”, explica Javier Lucientes, professor catedrático da Universidade de Zaragoza e diretor do projeto de vigilância entomológica do Ministério da Saúde espanhol , ao El País. 

Lucientes avança que este verão está a ser programado um novo estudo de campo para avaliar a expansão do mosquito nas Astúrias e em Cantabria, mas também na Galiza, onde há relatos de que o mosquito se tenha disseminado.

Já é tarde para erradicá-lo. Provavelmente a sua expansão nos próximos anos será em forma de mancha de azeite”, afirma o especialista.

Espera-se que o crescimento da espécie seja acelerado porque se adapta melhor a temperaturas frias e porque consegue criar uma ampla gama de habitats aquáticos, algo que tem fascinado os investigadores espanhóis pela “capacidade de ganhar território”.

Foi identificado em 2008 na Suíça e investigações posteriores revelaram que o mosquito havia colonizado uma zona de 1.400 quilómetros quadrados”, descreve o Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias. Este organismo, responsável pelo controle dos mosquitos como vetores de enfermedades, afirma que o Aedes Japonicus é endémico da Coreia, Japão, Taiwam, Sul da China e Rússia.

 

Distribuição do mosquito Aedis japonicus, segundo o Centro Europeu  de Controlo e Prevenção de Doença

 

 

Ao contrário de outros espécimes do seu género, o Aedes japonicus não apenas coloca as larvas na água, mas também em superfícies secas que depois acumulam água, como é o caso dos pneus. 

A forma de um pneu permite concentrar a água no interior se chover, independentemente da sua posição. É então que nascem as larvas”, afirma Lucientes, destacando que outro meio de introdução de mosquitos invasivos é a importação de plantas.

O Aedes japonicus apresenta um risco menor para os seres humanos, ao contrário do que acontece com o mosquito da febre amarela, principal vetor do vírus da dengue. O Ministério da Saúde espanhol concluiu em 2018 que o risco de transmissão de doenças japonicus é "muito baixo", embora tenha admitido que possa ser um vetor de dengue ou febre chikungunya.

Dentro de um cenário de ampla distribuição com envolvimento urbano, não é possível descartar a transmissão indígena de doenças”, afirma o diretor do projeto de vigilância entomológica do Ministério da Saúde espanhol, descrevendo que o Aedes japonicus é um vetor importante do vírus do Nilo Ocidental, uma doença que afeta principalmente o sistema nervoso de pássaros e cavalos e que já foi detetado em Espanha.

Segundo o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, as pessoas picadas por este inseto podem sentir sintomas semelhantes aos de uma gripe, ou mesmo encefalite.

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