Alpinista processa guia por ter evitado o perigo no Evereste - TVI

Alpinista processa guia por ter evitado o perigo no Evereste

Evereste

Bloco de gelo do tamanho de um edifício de 15 andares obrigou ao cancelamento da expedição ao topo da montanha mais alta do mundo. Cliente acusa guia de incumprimento de contrato e fraude

Um alpinista processou o seu guia por ter cancelado a expedição ao topo do Evereste, em setembro do ano passado.

O empresário norte-americano Zac Bookman exige ao guia e compatriota Garrett Madison uma indemnização de 100 mil dólares, cerca de 85 mil euros, por incumprimento de contrato e fraude.

Garrett Madison cancelou a subida à montanha mais alta do mundo devido à formação de um bloco de gelo do tamanho de um edifício de 15 andares que ameaçava a integridade da expedição e de todos quantos nela participavam.

Não raras vezes as expedições são canceladas devido a condições desfavoráveis, sem que haja lugar a qualquer reembolso, pelo que o caso está a ser visto como preocupante, uma vez que uma decisão do tribunal favorável ao queixoso poderá abrir um precedente, que se antecipa trágico, segundo os entendidos.

Se um guia correr riscos que, normalmente, não correria, por receio de sanções legais, será perigoso para os guias, para os clientes e para todos os que se encontrem na montanha a alta altitude", considerou o ex-guia do Evereste Luis Benitez, citado pela revista norte-americana Outside.

O caso remonta a 15 de setembro, quando Garrett Madison e os seus quatro clientes chegaram ao Acampamento Base Sul, do lado do Nepal. Além do queixoso Zac Bookman, faziam parte da expedição o alpinista profissional Tim Emmet, o presidente da empresa Mountain Hardwear (roupa e equipamentos de montanha) Joe Vernachio e um quatro elemento que não quis ser identificado.

Além desta equipa, havia apenas mais duas no Evereste, ambas polacas, uma delas com o esquiador profissional Andrzej Bargiel. Também estava na montanha, ainda que não estivesse no acampamento base, o ultramaratonista Killian Jornet.

O primeiro sinal de problemas entre o cliente e o guia surgiu por causa dos xerpas, que estariam a demorar demasiado tempo a colocar as cordas fixas e escadas entre a perigosa cascata de gelo de Khumbu e o Campo I, lentidão que o guia Garrett Madison justificou com as más condições da montanha, devido às monções do final do verão e às temperaturas anormalmente quentes.

O queixoso alega que os xerpas estavam a demorar mais tempo do que o esperado porque "passavam o tempo a passear pelo campo, a fumar e a jogar". Três dias depois, o alpinista profissional Tim Emmet ajudou os xerpas a sinalizar o caminho.

Depois, durante uma incursão de teste ou de ambientação às temperaturas, Joe Vernachio ficou para trás e terminou a caminhada uma hora depois do grupo, quando era considerado, segundo o queixoso, um conhecedor da montanha.

No dia 21 de setembro, seis dias depois de terem chegado ao acampamento base, os xerpas detetaram o bloco de gelo, conhecido como serac. Uma das equipas polacas confirmou a presença daquela massa elevada de glaciar através de um drone, estimando que tivesse o tamanho de um edifício de 15 pisos.

Em abril de 2014, a queda de um serac mais pequeno tirou a vida a 16 xerpas, incluindo três elementos da equipa de Garrett Madison, que, durante dois dias, integrou os trabalhos de resgate dos corpos.

Não queria voltar a passar pelo mesmo", assumiu o guia à Outside, ele que já guiou 60 clientes ao topo do Evereste nos últimos 11 anos.

Na manhã seguinte à descoberta do bloco de gelo glaciar, Garrett Madison, Tim Emmett e Joe Vernachio decidiram cancelar a expedição, sobrando o queixoso, Zac Bookman, que não estava presente aquando da decisão.

Escolhemos a segurança em vez do ego", argumentou o presidente da Mountain Hardwear.

No entanto, Madison disse a Bookman que poderiam esperar pela queda do bloco de gelo e avançar então.

Mas na semana seguinte a situação manteve-se. E, eventualmente, todos acabariam por desistir de avançar, ou quase todos.

Há 'seracs' pendurados por toda a parede oeste do Evereste. É como dizer que não podemos andar pela floresta até que determinadas árvores caiam. É o Monte Evereste e não quero banalização-lo, por isso contratei um guia, não sou maluco", argumentou o queixoso.

Zac Bookman entende, por isso, que a massa de gelo glaciar não está na origem do cancelamento da expedição e que o seu processo contra o guia deve-se ao facto de aquele ter protelado o cancelamento, de modo a garantir que não teria de devolver o dinheiro pago pelo queixoso para poder subir à montanha. A 26 de setembro, segundo o guia, Bookman exigiu fazer uma tentativa de subida, ameaçando Madison com um processo nos tribunais.

A 29 de setembro, o bloco de gelo permanecia no mesmo sítio, e a 6 de outubro o guia, com ou sem serac, entendeu que já não havia tempo para subir ao topo do Evereste antes das condições de inverno se estabelecerem na montanha.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE